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Portal da Damba e da História do Kongo

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"O momento é de uma solenidade ímpar" - Elógio fúnebre do REGEDOR KATUZECO DOS SANTOS KABOCO

Publicado por Muana Damba activado 19 Enero 2017, 04:19am

Etiquetas: #Coisas e gentes da Damba

"O momento é de uma solenidade ímpar" - Elógio fúnebre do REGEDOR KATUZECO DOS SANTOS KABOCO

 

Por Miguel Kiame.

Imagens do Jeremias Kaboko.

 

O momento é de uma solenidade ímpar. Estamos a escassos minutos para o derradeiro adeus a uma das mais conceituadas autoridades tradicionais, cuja dimensão humanista ultrapassa as fronteiras do nosso espaço geográfico provincial. É o homem que enquanto vivente deixou cravadas indelevelmente, em todos nós, as marcas profundas da sua personalidade. Vítima de doença prolongada, faleceu a 7 de Janeiro de 2017, em Luanda, onde se encontrava temporariamente em tratamento, Katuzeko Dias dos Santos Kaboco, filho de Mbunga Lumbombu e de Kumba Kamowa, natural de Mbanza Damba, com data provável de nascimento a 01 de Janeiro de 1937. Pertence à tribo de Kimfila (kanda) e Ngonda Ibangu (Ki Se).

Desde bastante cedo se revelou um jovem intrépido e preocupado com a sua formação profissional. É assim que a sua primeira experiência profissional ocorreu em Makela do Zombo, onde exerceu as funções de Ajudante de Cozinheiro. Posteriormente, mudou de ramo de actividade, tendo-se habilitado ao exercício do cargo de Ajudante de Mecânico, na localidade do Colonato do 31 de Janeiro.

Não satisfeito com essa nova vivência profissional, mudou-se para a sede da Vila da Damba, ingressando na Escola de Artes e Ofícios, na especialidade de Marcenaria. Depois de alguns anos de um tirocínio bem aproveitado, Katuzeko Dias dos Santos Kaboco, transformou-se num exímio mestre marceneiro, tendo executado obras que ultrapassaram as fronteiras do então Concelho da Damba. Foi em função da sua grande capacidade artística nessa profissão que teve o ensejo de receber um louvor público do então Governador-Geral de Angola, Sr. Rebocho Vaz que ficou verdadeiramente fascinado pela qualidade e harmonia das peças de mobiliário por si executadas. Outra faceta da sua habilidade técnico profissional foi a de escultor em peças de madeira de alto valor que esculpia com uma facilidade e velocidade impressionantes.

Em 1961, como a maioria de angolanos autóctones, refugiou-se para a República do Kongo por causa da guerra da repressão colonial, onde permaneceu durante um ano com a respectiva família. Em 1962, não satisfeito com a extrema pobreza e as difíceis condições que a vida de exilado impunha, regressa à Pátria, empenhando-se na reconstrução da sua residência para a qual sempre reservou um apego extraordinário na sua manutenção e ordenamento, tornando-a sempre aprazível para a família e seus amigos.

O Regedor Katuzeko Dias dos Santos Kaboco assimilou, como ninguém, as qualidades de foro humanitário de seu pai, Soba Kaboco. Essa sua apetência ao altruísmo, fê-lo constituir candidato inequívoco para a substituição do seu pai. De acordo com os ditames da cultura tradicional, a sucessão do Soba era feita através da linha materna. A partida, Katuzeko Dias dos Santos Kaboco, não teria, teoricamente, hipóteses de ascender ao cargo, cujo herdeiro natural seria um dos sobrinhos da linha materna. Contudo, o sobrinho proposto foi veementemente preterido pelas autoridades coloniais porque na óptica delas, o proposto sobrinho não reunia os pressupostos básicos para o exercício da função, como sendo a empatia, a solidariedade, a amizade e o altruísmo, qualidades que Katuzeko Dias dos Santos Kaboco possuía numa inquestionável potência. Não é sem razão que se afirma categoricamente que o sobrado do Regedor Katuzeko Dias dos Santos Kaboco é uma paragem obrigatória para todos os transeuntes conhecidos e não conhecidos, amigos e inimigos, tendo em atenção a sua hospitalidade e cordialidade. Era, sem sombra de dúvidas, um Homem do Povo, muito amado e reverenciado. Atendia a todos sem excepção, oferecendo comida e bebida, abdicando, não raras vezes, da própria refeição.

O Regedor Katuzeko Dias dos Santos Kaboco será sempre recordado com muita simpatia e saudade por todos, especialmente pelas crianças que viam na pessoa do Avô Santos, a clara resolução dos seus problemas e satisfação das suas necessidades, porque Avô Santos tinha sempre uma palavrinha de alento e consolo. Avô Santos tinha sempre uma surpresa para matar a fome dos garotos.
Hoje, Avô Santos deixa de ser a companhia aprazível.

Avô Santos passa para o mundo dos sonhos e da imaginação. Ele estará eternamente entre nós, porque como disse alguém os grandes Homens não morrem, tornam-se simplesmente invisíveis mas a força do seu exemplo permanece. A sua áurea continuará a envolver-nos com a mesma afabilidade de sempre.

Na arena familiar, o Regedor Katuzeko foi pai de 21 filhos, 65 netos e 49 bisnetos. Deixa também milhares e milhares de populares órfãos, um sem número de amigos privados do seu calor e do seu entusiamo.

Deixa a Regedoria de Kaboco, a Comuna de Nsoso, o Município da Damba, a Província do Uíge num vazio tecnicamente preenchível com a indigitação de um novo Regedor mas completamente irreparável se considerarmos as qualidades únicas da sua forte personalidade, um autêntico poço de virtudes.
Deixa a Família profundamente abalada. Por maiores que sejam as vontades, não se vislumbra ninguém capaz de substituí-lo na sua doçura paternal, no seu braço solidário, na sua visão congregadora. Por isso, a família ressente-se inconsolavelmente com a sua partida definitiva. É uma realidade cruel a que a nossa condição de humanos nos obriga a aceitar. São os planos de Deus sobre os quais não há apelação possível.

Pai, Tio Santos, Avô Santos, Irmão, Primo, Amigo Regedor,
Constrange-nos a ideia do teu desaparecimento sem retorno mas consola-nos a convicção de que foste um batalhador incansável, combateste o bom combate e foste vitorioso porque repousas eternamente no regaço do nosso Deus.

Pai Santos Kaboco descanse em Paz!

"O momento é de uma solenidade ímpar" - Elógio fúnebre do REGEDOR KATUZECO DOS SANTOS KABOCO
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