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Portal da Damba e da História do Kongo

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Mulheres do campo no sustento familiar

Publicado por Muana Damba activado 26 Octubre 2014, 10:13am

Etiquetas: #Notícias do Uíge

Mulheres do campo no sustento familiar

Por António Capitão

A força da mulher rural está bem patente na fazenda São Jorge, no Uíge, onde largas dezenas de camponesas retiram da terra produtos diversos que elas mesmas comercializam na cidade.

Verdadeiras guerreiras, enfrentam logo de manhã os perigos da viagem, feita nas carroçarias de motos de três rodas para garantir o sustento das famílias.


O dia começa agitado na rotunda do GAI, na Rua do Café, na cidade do Uíge. Dezenas de camponeses, na maioria mulheres, aglomeram-se ali para apanharem os táxis que vão para o Songo.


Para não se atrasarem, as mulheres residentes nos bairros do Caquiuia, GAI, Papelão, Bem-Vindo e Mongualhema, cuja actividade principal é a agricultura em pequena escala, apertam-se nas pequenas carroçarias de motos de três rodas, vulgo “Nambuangongo”.
Nas lavras, a jornada começa cedo. Há que regar, capinar e desbravar novos terrenos, de acordo com as colheitas sazonais. E é dali onde saem os principais componentes da dieta alimentar de muitas famílias.


Muitas destas mulheres encontram na antiga fazenda São Jorge, a 12 quilómetros da cidade do Uíge, terras aráveis, onde podem plantar mandioca, banana, bata-doce, ginguba, feijão e outros produtos que servem para o autoconsumo e também para serem vendidos.
Isabel António, 42 anos, saiu de casa às 6h00 da manhã. Na fazenda São Jorge, ela e o filho caçula preparam o terreno onde vão plantar mandioca e semear ginguba. Desde criança que ela trabalha no campo.


Com o que produz, sustenta a casa e o excedente vende para ajudar o marido professor no custeio de outras despesas da família. Sublinhou que, do seu trabalho, comprou um terreno de 400 metros quadrados no bairro Ana Candande, onde o casal pretende construir casas para os três filhos já crescidos.


“É do campo que consigo comida e dinheiro para as minhas despesas. Além de o meu marido ser um funcionário público, devo fazer algo para o ajudar e, em conjunto, organizarmos a nossa vida”, disse.


Além do terreno que Isabel António está a cultivar, tem mais duas lavras de mandioca, cujo período de colheira se aproxima e ela prevê colher cerca de três toneladas do tubérculo. Enquanto aguarda por esse processo, todos os dias recolhe quizaca para vender. Maria André, de 62 anos, e a irmã Maria Lombo, de 65, preferem trabalhar juntas. Assim podem lavrar mais terra e produzir maiores quantidades de produtos. Com o início da época chuvosa, as manas estão a desbravar o terreno onde vão cultivar ginguba, feijão macunde, milho, abóbora, banana, quiabo e batata-doce.


Maria André e Maria Lombo têm no trabalho do campo a base de sustento para elas e a família. Enquanto aguardam a colheita da mandioca, têm para para vender quizaca, milho, quiabos, mengueleca, ramas de batata-doce, tomate e a macaxiquila. “Apostamos no campo porque é a actividade que aprendemos com os nossos avós e pais. Foi assim que crescemos e estamos a formar os nossos filhos, que têm a obrigação de ir à escola para no futuro terem outras formas de sustentar as suas vidas”, disse Maria André, enquanto Maria Lombo planeia ajudar a filha a pagar as rendas da casa onde vive quando vender o bombó que vai produzir da mandioca que plantou.


Joaquina Miguel, 38 anos, vive no bairro Ana Candande. Com quatro filhos, tem no trabalho do campo a fonte de sustento para a família. Trabalha em duas lavras. Numa produz mandioca, milho, abóbora, banana, ginguba e quiabo e na outra hortaliças.
Dos produtos que cultiva, reserva uma parte para o consumo, outra para o seu banco de sementes e o resto para comercializar e comprar roupas para ela e os filhos, além de arroz, massa alimentar, carne, peixe, sal, açúcar, óleo alimentar e outros produtos para poder variar a dieta alimentar.


“Procuro sempre proporcionar aos meus filhos um nível de vida aceitável e num ambiente mais desenvolvido para que estejam enquadrados na sociedade. Por isso, levanto-me sempre cedo e pego na enxada e na catana para lavrar a terra e dela conseguir o meu ganha-pão”, disse.

Viagens sem segurança

As mulheres camponesas que cultivam na fazenda São Jorge aproveitam os mercados que se formam ao fim do dia para poderem vender os produtos que tiram das lavras. Maria André disse que vende na praça do “Parte Braço”, no bairro GAI, cada atado de quizaca por 50 kwanzas, o quilo de ginguba fresca a 100 e seca a 200, quatro maçarocas no valor de 50.


Isabel António prefere comercializar os produtos na pracinha junto à rotunda do GAI. Disse que a concorrência é muita, mas cada vendedora consegue vender os produtos e obter dinheiro para comprar outros bens para casa, como o pão, manteiga, peixe ou carne.
“Muitas donas de casa são funcionárias públicas e não conseguem fazer uma planificação antecipada das despesas diárias. No final do dia, acorrem a estas praças temporárias para comprarem produtos para o jantar da família e o pequeno-almoço no dia seguinte”, referiu.
As camponesas de São Jorge são verdadeiras guerreiras. Colocam a vida em risco todos os dias quando sobem nas motas “Nambuangongo” para percorrerem os 12 quilómetros até ao local onde trabalham. Viajam sem as mínimas condições de segurança, porque a estrada está degradada e os primeiros trabalhos de reabilitação ainda não facilitam as deslocações.


Vários acidentes já ocorreram nesse percurso, que resultaram na morte de mulheres camponesas, como contou Joaquina Miguel, que pede celeridade na ­reabilitação da estrada para que autocarros e outros veículos possam circular naquela via e elas passem a viajar de carro e não em motorizadas. “Devido ao estado avançado de degradação em que se encontrava a via, poucos automobilistas aceitam circular com as suas viaturas nesta estrada. Fomos obrigadas a optar pelas motorizadas, cujos condutores pouco ou nada sabem do Código de Estrada. Começou a reabilitação da estrada e esperamos por dias melhores”, sublinhou.

Faltam apoios

As mulheres camponesas reclamam por mais apoios para poderem aumentar as áreas de cultivo e a produção.


Pedem instrumentos de trabalho e sementes e o acesso ao crédito de campanha. Também querem que a lavoura seja mecanizada para produzirem em maior escala.


“Queremos criar a Associação de Camponesas de São Jorge para podermos estar agrupadas e solicitarmos apoios do Governo ou financiamentos dos bancos para podermos ter tractores, charruas, mais equipamentos agrícolas e sementes e desbravarmos mais terras e garantirmos mais alimentos para a população”, disse Maria André.


A maioria das mulheres do Uíge vive no meio rural e tem na agricultura e comércio informal a principal actividade.


O seu trabalho diário é o garante do sustento da maior parte dos lares e justifica a importância que o estado angolano confere à mulher rural, que foi alvo, em Agosto último, de um Fórum Nacional aberto pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Na ocasião, o Chefe de Estado referiu que, durante o processo de auscultação, realizado em todo o país e em que foram ouvidas mais 40 mil mulheres no meio rural e periurbano, foi possível constatar que “o nível de incidência da pobreza é três vezes mais alto nas áreas rurais do que nas áreas urbanas”.


Disse ainda que “são também mais elevadas no seu seio as taxas de analfabetismo, de fecundidade, de mortalidade neo-natal e de falta de cuidados pré-natal e um deficiente acesso à saúde, à educação, à água potável e à energia eléctrica”. José Eduardo dos Santos considerou urgente “promover a formação e capacitação da ­Mulher Rural a todos os níveis, para que esta possa progressivamente inserir-se na agricultura de mercado e em outros negócios e participar com conhecimento de causa nos Conselhos de Auscultação e Concertação Social e nos Comités de Desenvolvimento Rural”.

Via JA

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