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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Uíge: um novo tempo aos 93 anos.

Publicado por Nkemo Sabay activado 16 Julio 2010, 13:56pm

Etiquetas: #Notícias do Uíge

                                            Por Luís  Fernando

 

Parece sempre um lugar-comum a celebração dos dias de anos de uma municipalidade, uma urbe, uma vila, de tanto se repetirem no tempo e os programas, amiúde, se igualarem ao dejá-vu que retira expectativa aos acontecimentos.

Parece que se vai ter de dizer, no papel muitas vezes difícil do jornalista, mais do mesmo cada vez que o tema nos cai sobre a mesa e se torna imprescindível dar-lhe conteúdo.

Parece que, aos próprios gestores das políticas públicas, os administradores, os governadores e, num futuro que oxalá seja breve, os autarcas, também afecta por igual essa recorrente falta de ideias novas, abordagens frescas, de tão pachorrenta ser, às vezes, a marcha da recuperação, do progresso, da mudança.

Parece, enfim, que as festas das cidades, os tais marcos comemorativos da fundação dos lugares ou da sua elevação formal ao estatuto que hoje ostentam, são momentos de notória seca administrativa, a cumprir porque o hábito manda que se faça.

Dir-se-á, nos casos em que a governação se confunde com um frete despido da útil paixão pelo serviço público ou em que a ligação dos munícipes aos lugares não tem carga emocional a conferir-lhe densidade, que todos aqueles “pareces” têm objectivamente razão e consistência.

Lavrar em erro será com certeza inevitável se a cidade de que se fala é a velha Carmona, fundada nos finais da década segunda do século XX, no exacto ano de 1917, pois esta foi  capaz de criar com os seus habitantes uma relação de proximidade e empatia que a manterá sempre a salvo de desamores. Dito de modo mais curto: a hoje cidade do Uíge, Carmona até à data da Independência pátria, cultivou ao longo do tempo com os seus munícipes um romance perfeito, que faz com que filhos na diáspora sintam eternamente orgulho do seu velho berço e a ele queiram retornar vezes sem conta, nem que seja apenas no abstracto plano do pensamento e da nostalgia.

A invasão dos turistas.

Todas as vezes, no frio de Julho, logo no começo do mês, a cidade capital da província do Uíge sofre a previsível invasão de milhares de turistas, que se mobilizam para a comemoração de mais um aniversário da urbe, dia 1. O programa festivo estende-se sempre até ao dia 7, transformando o período curto de uma semana num dos momentos mais coloridos e fervorosos de todo o percurso anual, só comparável, na verdade, à euforia da quadra natalícia, que também faz deslocar à terra natal muitos daqueles que um dia abalaram em busca de mais mundo para as suas vidas.

Este ano os que fizeram o caminho de volta encontraram uma cidade absolutamente distinta. Grata surpresa, de facto, com as ruas recuperadas na sua bela imagem que os quarentões e todos os que lhes estão acima na conta do tempo se recordam com toda a certeza.

Ao contrário das poeirentas e deconfortáveis estradas citadinas, que ainda há  um ano lembravam a todos o rigor e o mau gosto da acidentada paisagem lunar, agora o Uíge tem uma estampa luminosa a mostrar a quem a visita: cheira a asfalto novo, lancis cuidados, esgotos reabilitados. Está, na verdade, uma cidade para exibir com orgulho aos turistas, replicando a mesma alegria que se experimenta quando se percorre, por exemplo, o Huambo, as suas ruas, a sua fabulosa Granja Pôr-do-Sol.

Para lá da nova cara

É líquido que reconforta sempre encontrar uma cidade com novo alinhamento, as ruas menos maltratantes, os passeios mais transitáveis para os peões e, sobretudo, o ambiente menos agressivo para a saúde pública.

Há um pacote imenso de ganhos com o novo tempo. Para já, baixou a níveis comportáveis o pico das doenças respiratórias, uma consequência directa do pó que, em quantidades excessivas, se levantava das vias de asfalto carcomido ou simplesmente revestidas de barro vermelho.

 A própria vida fora de casa, as andanças ditadas pela procura do pão ou do saber para milhares de trabalhadores e estudantes, torna-se bem menos sofrida. Caminhar é, agora, uma boa fonte de prazer para os habitantes do Uíge, salvo nas situações em que os muitos quilómetros se transformem em factor de desgaste e incómodo.

Porém, percebe-se que não é necessariamente o bom estado das ruas que faz a felicidade de uma cidade inteira. Contribui para tal estado mas não o esgota nas suas multiplicidades de escolhas. Até porque a dimensão da felicidade para o ser humano passa muito pela capacidade de solução dos problemas existenciais ligados à sobrevivência, como a alimentação, o vestuário, a saúde. E o Uíge, admitase, apresenta gravíssimos problemas de oferta de emprego, pelo que o dinheiro e as chances de crescimento e realização pessoal andam severamente à míngua na região, o que é um verdadeiro tormento para a juventude.

Encontrar uma legião de rapazes e raparigas com idades entre os 20 e os 40 anos sem absolutamente nada para fazer, porque faltam as indústrias, as empreitadas da construção civil, as explorações agrícolas em acção, tornou-se numa das imagens de marca do Uíge, quer se fale da sua geografia enquanto província, quer se fale do espaço definido da sua cidade capital.

O tónico das festas

Em dias de folia como os que movimentam os uigenses nesta celebração dos 93 anos da fundação da urbe pelo capitão português Tomás Berberan, um manto de abstracção parece abafar por tempo delimitado os sérios e profundos problemas ligados ao progresso das pessoas.

As festas, como se sabe, têm sempre esse condão, ainda quando a sua promoção não tenha esse alcance como meta deliberada. Na verdade, as mágoas, as angústias e as frustrações de quem sonha com um emprego encontram como que um hiato de falsa serenidade enquanto as doses generosas de cerveja, de maruvu, vinho ou outros animadores do espírito vão goela abaixo, mas mal acaba essa euforia sazonal, ressurge o cair na real que mostra o mundo à volta com as suas cores opacas, entre elas o cinza da miséria.   

O futuro que se quer

É por certo o reconhecimento de todo este quadro de macro-deficiências e grandes vazios que faz da governação do Uíge uma missão desafiadora. Sabe-o o governador da província, Paulo Pombolo, que não caiu na tentação de organizar uma celebração apenas inundada de fogos de artifícios, shows de música ou cerveja a rodos.

Muito pelo contrário, suplantou-se na sua visão da terra que gere e fez do marco comemorativo da principal cidade da província – a outra chama-se Negage, que teve dias atrás, também, a sua festa – um pretexto para pensar o futuro.

Assim, logo no segundo dia do calendário de eventos (hoje, sexta-feira 2 de Julho), acontece um debate de forte tendência inclusiva, sobre as perspectivas de desenvolvimento do Uíge. A ideia é sentar à volta de uma mesma mesa todos os que se sintam em condições de reflectir em torno da situação actual do Uíge, marcada por uma gritante necessidade de progresso e desenvolvimento.

 O acto, que gera expectativas óbvias, vai realizar-se no mais importante anfiteatro da cidade, o Cine Ginásio, com a participação de todos os que se achem detentores de ideias válidas para alavancar o progresso da região: membros do Governo, académicos, estudantes universitários, autoridades tradicionais, entidades eclesiásticas, empreendedores, etc.

 

Tomessa na rota

O desenvolvimento do Uíge, nos seus mais diversos domínios, é a grande preocupação das autoridades locais e sua população. Assim, as ideias passam pelos mais distintos fóruns e caminhos, sendo certo que o potencial agrícola de uma terra abençoada pelos poderes da Natureza (solo hiper fértil, chuvas abundantes e clima ideal para a maioria das culturas) acaba sempre por assumir a linha da frente.

Desta vez, está pensada a abertura de um Centro de Empreendedorismo Rural, para formar homens do campo com sonhos de enriquecer com o trabalho da terra. O ponto escolhido é a aldeia de Tomessa, habitada por pouco mais de 3 mil habitantes e que dista 2 km da cidade do Uíge.

Como a maioria das comunidades rurais da região, o Tomessa dispõe de uma população que tem o seu quotidiano preso à agricultura de subsistência, trabalhando as famílias as pequenas lavras que produzem o feijão, a mandioca, o milho, a ginguba, a batata e outros tubérculos e legumes que compõem o essencial da sua cultura alimentícia.

A abertura do Centro de Empreendedorismo Rural tenta incutir nos aldeões conceitos que deixem para lá a visão redutora de trabalhar a terra apenas para garantir a sobrevivência, e passem a um uso mais intensivo e ambicioso do potencial que os rodeia, para que as famílias se enriqueçam e saiam do ciclo vicioso da pobreza secular.

 

                                                                                                                                 opais.net

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