Overblog
Edit post Seguir este blog Administration + Create my blog

Portal da Damba e da História do Kongo

Portal da Damba e da História do Kongo

Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Laços Etno-Históricos dos Kongo e dos Pigmeus (1)

Publicado por Muana Damba activado 5 Noviembre 2012, 01:31am

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

 

 

Por Dr José Carlos de Oliveira

 

Jose Carlos de Oliveira l

 

 

 

Fotografia nº 1 - Dois pigmeus Bambutu, Azimbambuli e Abumbuku 1

 


Os conceitos geralmente divulgados sobre os povos que conhecemos como “pigmeus” estão envolvidos por uma certa ambiguidade, convindo aqui ressaltar algumas precisões prévias. “Pigmeu” deriva do latim [pygmaeus] que, por sua vez, provém do grego [pugnaios] (que quer dizer ‘altura de um côvado’) e tem sido empregue para designar grupos humanos antropologicamente muito diferentes entre si, mas cujo único traço comum é a pequena estatura.

Povos como os vedda do sul da península indiana e de Ceilão, os bushmen, os negritos das ilhas Andaman, os negritos das Filipinas ou Acta, os negritos de Malaca ou Senang, entre outros, são confundidos frequentemente com os “pigmeus”, porém, a estatura por si só não é uma característica que determine a pertença ao grupo. Desta forma, o termo “pigmeu” causa inúmeros equívocos.

 Aplicaremos esta designação referindo-nos apenas aos pigmeus de África. Os pigmeus, apelidados por negrilhos (o que é também impreciso) localizam-se geograficamente na floresta equatorial, em territórios compreendidos entre as florestas do Gabão ao Reino do Ruanda e do Burundi, especificando de outra forma, entre as latitudes 4º ou 5º Norte e 5º Sul, que vão da região dos grandes lagos até aos Camarões e Gabão. Consoante as populações com que contactam, recebem nomes diversificados.

1 Johnston, Harry (1908) George Grenfell and the Congo. Hutchinson and Co. Londres. II volumes, p. 332.
Deverá acentuar-se que os dados mais credíveis sobre estas populações começam nos últimos vinte e cinco anos do século XIX, quando as expedições científicas exerceram ali a sua acção. Os portugueses não têm grandes responsabilidades no assunto, uma vez que os pigmeus têm a sua implantação na grande bacia do Rio Zaire e nas zonas de mais difícil acesso. Essas responsabilidades cabem especialmente aos exploradores, missionários e sertanejos franceses, pelo lado do Congo e pelo Gabão; pelo lado dos Camarões, aos alemães; aos belgas, pelo lado do Congo ex-belga e, duma forma geral, à grande potência colonizadora que foi a Inglaterra.

 Após a ocupação efectiva europeia, os grandes movimentos migratórios bantú, que foram frequentemente violentos e arrasadores, escorraçando ou assimilando as populações mais antigas, foram dados por terminados.
 A localização actual dos grandes grupos é relativamente recente. Porém, foi também após a instalação dos europeus que, os grupos de pigmeus sofreram as maiores convulsões. A sua mestiçagem física e cultural está a culminar (depois de cem anos de conhecimento científico a seu respeito) na sua quase extinção. As expedições antropológicas deram lugar às recentes expedições turísticas. Os pigmeus começam agora a viver de actividades que nada têm a ver com a sua essência, passaram a ser garimpeiros.

 Finalizada a recolha e análise de dados disponíveis em documentação, recolhida ao longo de 25 anos, a pesquisa bibliográfica foi-se avolumando, foram e são consultadas obras seleccionadas de acordo com o tratamento do tema. Preocupamo-nos em utilizar conceitos e terminologias referentes de sobremaneira a conceitos ecológicos, biológicos, psicológicos, antropológicos e económicos, visando uma leitura interpretativa e complementar, bem como a lições desenvolvidas na cadeira de Ecossistemas enquadrada no curso de mestrado, em Estudos Africanos. De salientar, são os dados colhidos em alguns trabalhos de campo de reputação internacional incontestável, em especial a obra de Harry Johnston - George Grenfell and the Congo - que trata os primeiros dados científicos,2. Johnston, autor supra-referido, ocupa-se da descrição vivencial do missionário e geógrafo George Grenfell e do seu estudo sistemático do ecossistema da bacia do Zaire.

 

(2) Tendo em consideração as dificuldades de contactos com fins estratégicos para a concretização de informações secretas que levariam aos resultados da ‘Conferência de Berlim’, uma vez que, as informações logísticas, técnicas e ambientais eram inexistentes na floresta equatorial.

Devemos destacá-lo como a figura central da missionação inglesa dos últimos vinte cinco anos do século XIX e ainda alguns anos da primeira década do século XX. Durante mais de trinta anos, Grenfell, descendente de outros Grenfell, proprietários de fundições de ferro e de minas de carvão, e também de destacados comandantes militares Ingleses, exerceu a sua acção na Bacia do Congo. São de Harry Johnston as seguintes palavras: “It is possible, however, that as the events of the last twenty five years recede from us into history no Grenfell will have left a more famous name than the missionary-explorer[...]”3.

 Outro trabalho de campo e, já do nosso tempo (embora diferente em muitos aspectos do primeiro), é o de um inquérito sobre os pigmeus da República Popular do Congo, da autoria de M. L. Demesse, apresentada ao seminário de G. Balandier (1971/72), no Centro de Estudos Africanos, da Escola Prática de Altos Estudos, da Sorbonne. Poderíamos acrescentar outros e valiosos contributos, mas pensamos estar o essencial mencionado.
 Este primeiro capítulo inicia a Tese de Doutoramento: ‘Os Zombo (Nzil’ a Bazombo): na Tradição, na Colónia e na Independência’ e como documento exploratório e de iniciação para todo o desenvolvimento pretendido, foi necessário que chegássemos a alguns entendimentos. A forma como decidimos fazê-lo, contempla as mais diversas áreas científicas ligadas ao assunto, daí que propuséssemos os seguintes pontos de referência metodológica correlacionados com as temáticas em análise.

3 Johnston, Harry (1908) George Grenfell and the Congo. Hutchinson & Co. Londres, p. 1

1) O ‘Ecossistema’ como conjunto estruturado de elementos vivos e não vivos, interrelacionados, isto é, que se condicionam e são condicionados uns pelos outros.

2) O ‘Biótopo’ ou conjunto de elementos físicos, não vivos, incluindo um substrato de seres vivos que aí residem e desenvolvem as suas actividades

 

3) A ‘Biocenose’ que é o conjunto dos seres vivos que ocupam um determinado Biótopo. Destas interrelações complexas de malhas, redes densas entre elementos do Biótopo e elementos da Biocenose de onde resulta a chamada dinâmica do Ecossistema que, por sua vez, é fruto do fluxo de energia que atravessa o Ecossistema e que provoca a circulação de matéria no seu interior.

 

4) O grupo de pigmeus em análise: O grupo ocidental, os Babinga, ou Baynga dos Camarões; os Bambuti, grupo oriental, ou Wambuti do Ituri e os Batwa, pequenos grupos que vivem nos meandros do Congo e a região dos grandes lagos da população pigmoide, resultado de antigas mestiçagens.

 

5) As relações dos bantú com os pigmeus, a aparição dos bantú no espaço milenar dos pigmeus, envolvendo-os na sua sociedade e as consequências dos contactos no espaço onde os bakongo (agricultores caçadores bantú) edificariam o futuro reino do Kongo.
Continua...

Archivos

Ultimos Posts