Governador do Uige preocupado com emigração. Angolanos trocam de país

Por António Paulo

As péssimas condições em que se encontram as estradas do interior de alguns municípios da província
do Uíge, que fazem fronteira com a República Democrática do Congo, têm obrigado muitos angolanos a
optar aquele país como destino. Estudantes angolanos aprendem a falar Lingala e Francês, em vez das línguas angolanas, o Português e o Kikongo.

A informação foi prestada pelo governador provincial, Paulo Pombolo, ao ministro da Construção,
Fernando Fonseca, durante uma visita à província, no âmbito da realização do Primeiro Conselho Con-
sultivo do seu pelouro. O ministro, que se mostrou preocupado com a situação, disse que são quatro os municípios que ainda experimentam dificuldades na circulação de pessoas e bens.

“Falo de Kangola, no Alto kawale. Falo dos Buengas, do Milunga e do Songo”, explicou Fernando Fonseca, admitindo que o quadro tem sido agravado por muitos angolanos verem no Congo a “tábua de salvação”
para os seus problemas.

“Aqui, na província do Uíge, existem seis comunas que fazem fronteira com o Congo Democrático e onde,
por falta de estradas, as nossas populações fazem quase tudo no outro país. As nossas crianças estudam no Congo Democrático, em Francês e Lingala, e quando regressam ao nosso país, nem o Português, nem o Kikongo sabem falar”, afirmou Paulo Pombolo, apelando às estruturas centrais do governo para ajudarem a resolver o problema.

“Estou a referir-me ao município de Maquela do Zombo, que é o mais afectado. Isto acontece com maior
incidência nas comunas do Béu, Cuilo-Futa e Sakandika. No Município dos Buengas, temos as comunas do Cuilo-Kambozo. No Milunga, temos as comunas do Macolo e o Maçau. No Kimbele, isto acontece no Alto Zaza, Icoca e na comuna do Cuango. Nesta última localidade não se pode vir para o outro lado sem utilizar canoas e há pessoas que têm mercadorias para transportar e não conseguem.

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“as nossas crianças estudam no congo democrático, em Francês e lingala, e quando regressam ao país nem o Kikongo sabem falar”

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Então, o mercado privilegiado é o do Congo Democrático, na zona do Bandundu”, explicou o governador.
Apesar desta situação, o chefe do executivo no Uíge regozijou-se pelo esforço empreendido pelo executivo central na reabilitação de algumas estradas do interior da província, o que, na sua perspectiva, representa um ganho para as populações da conhecida terra do bago vermelho.

“Em relação ao interior da província, queríamos agradecer ao Presidente da República e ao governo
central pelos esforços na reabilitação das estradas estruturantes, a nível da província do Uíge, além
da estrada que liga Uíge ao Bengo. Temos cerca de 372 quilómetros de estrada reabilitada, que vai até a Maquela do Zombo, na fronteira com o Congo Democrático. É um ganho que não podemos omitir. Es-
tamos agora a concluir cerca de 412 quilómetros para atingir o Quimbele, faltando apenas 27 quilómetros.Passando pelo município do Puri e Sanza-Pombo, temos também o troço Uíge Mukaba resolvido. Hoje pode circular-se normalmente”, asseverou o governador.

Paulo Pombolo, que apresentou em resumo a real situação da província, em termos de infraestruturas,
disse que o Uíge conheceu igualmente ganhos no sector da educação, com o aumento do número de
alunos e de salas de aula.

A província, segundo o governante, tem no presente ano lectivo cerca de 320 mil alunos matriculados
no ensino geral e 1.400 professores compõem o corpo de docentes, da primária ao segundo ciclo.
Quanto ao número de salas de aulas, Paulo Pombolo esclareceu que tem como meta a construção de 200 salas de aula, por ano, para responder à procura.

A província do Uíge, com cerca de dois milhões e meio de habitantes, distribuídos por 16 municípios e 31
comunas, fica localizada no extremo norte do país. Faz fronteira a norte e leste, com a República Democrática do Congo, a sudeste, com a província de Malanje, a sul, confina com as províncias do Kwanza-Norte e do Bengo, e a oeste, com a província do Zaire.

Programa de retenção de quadros

A nível do ensino superior, o governador do Uíge evidenciou que a sua província tem registado um forte investimento no sector universitário, contando actualmente com cerca de dez mil estudantes, distribuídos pelas duas unidades orgânicas que ali estão implantadas. “Temos cinco mil no Instituto Superior de Educação e outros cinco mil estão na universidade Kimpavita”, explicou o diri- gente, fazendo uma retrospectiva do sector no passado.

“Quando chegámos à província, em 2010, encontrámos alguns constrangimentos, que criavam dificuldades aos nossos jovens. Temos um Instituto Médio de Agronomia, há uma escola média que forma enfermeiros, mas não havia sequência. Ou seja, não havia curso superior para esses estudantes,
o que fazia com que os finalistas fossem para Luanda e não regressavam. Então, íamos perdendo quadros.

Em colaboração com a reitoria Kimpavita, procurámos resolver a situação. Criámos, então, a faculdade de direito, que é uma das preferidas dos jovens, e criámos também o instituto superior de agro-
nomia e o de enfermagem”, resumiu o governador que deseja ver inserido o curso de engenharia na universidade.

“Este ano, conseguimos avançar com o curso de economia e a nossa luta é, dentro de dois a três anos, introduzir na universidade Kimpavita os cursos de engenharia para os jovens que pretendam prosseguir com esta formação. Assim, estaríamos a reter quadros a nível da província e a inseri-los nos esforços de
desenvolvimento da região”, atestou o governante, sublinhando a falta de docentes que ainda se regista no ensino superior. “Contamos com a colaboração cubana, mas, ainda assim, a universidade enfrenta dificuldade de docentes”, concluiu Paulo Pombolo.

                                                                                                                          N.J