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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Damba,1945-1953 (20)

Publicado por Nkemo Sabay activado 22 Junio 2011, 14:01pm

Etiquetas: #Fragmentos históricos da Damba

 

 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).


Alfredo de Morais Martins.

 

 

O leão foi abatido pelos cipaios.

 

Com a instalação do governo da província do Congo, sentiu se a necessidade do estabelecimento de nova carreira aérea, ligando Luanda ao aeródromo mais próximo do Uige e que era o do Toto. Esta pista estava implantada na fazenda agrícola que tinha aquele nome e se situava na área do posto do Bembe. Pertencia, como atrás já referi, ao dinâmico e velho colono Cid Adão Gonçalves que também ali explorava um hotel e uma bem apetrechada oficina de reparação de veículos automóveis. Esta carreira teve logo apreciável movimento de passageiros e passou a transportar todo o correio destinado ao Uige e outras povoações vizinhas. Situava se o Toto a poucas dezenas de quilómetros da sede da nova província e uma carrinha do governo ali ia todos os dias de carreira, para entregar e receber o correio. O encarregado do governo, Rui Leitão, achou por bem substituir a carrinha por uma motocicleta, por ser mais económica a sua manutenção. E a motocicleta, fornecida pela Casa Americana, grande firma importadora de Luanda, entrou imediatamente ao serviço. Mas como não estava prevista no orçamento a sua aquisição e talvez também por descuido do serviço de contabilidade, foi sendo protelado o seu pagamento, apesar de repetidas diligências do fornecedor.

 

Este, não obtendo resposta aos seus reiterados pedidos de liquidação do débito, resolveu queixar se, por escrito, ao Governo Geral da colónia. O caso foi parar às mãos do secretário geral, Dr. Tavares de Carvalho, que logo lançou um despacho, bastante duro, impondo a liquidação imediata do calote.

 

Ora aconteceu que, passados um dia ou dois, chegou ao seu termo a comissão do governador geral Vasco Lopes Alves, não tendo o ministro do ultramar determinado a sua recondução. Como nesse tempo o secretário geral acompanhava a sorte do seu imediato superior hierárquico, o despacho por ele exarado no caso da motocicleta, só chegou ao Uige quando já tinha deixado de exercer as suas funções de governo. E o intendente Rui Leitão, agastado com a dureza da reprimenda, limitou se a despachar no ofício que a transmitira: Tarde piaste !

 

Anos antes, ao ser transferido da Intendência do distrito do Zaire, elaborara o inventário da carga de móveis, utensílios e outros bens da residência e da repartição que estavam à sua responsabilidade, para serem apensados ao termo de entrega ao seu substituto.

 

Este, passados alguns dias, chegou à conclusão de que faltavam alguns cartuchos para espingarda Kropatchek à guarda da Intendência e logo comunicou o caso ao Serviço de Material de Guerra, adstrito ao Comando Militar da colónia. O respectivo chefe prontamente oficiou ao funcionário faltoso, já então colocado em outro distrito, responsabilizando o pelo desaparecimento dos cartuchos e impondo lhe a obrigação de rapidamente os repor.

 

Ao receber a comunicação e ferido pela atitude do colega, uma vez que os cartuchos pouco valiam e facilmente poderiam ser abatidos à carga, limitou se a despachar no ofício recebido :Seja me presente no ano de 2 000 ! E nunca mais pensou no caso.

 

Outro episódio engraçado ocorreu no final da década de trinta, tendo como principal personagem um chefe de posto colocado no posto do Puri, da circunscrição de Sanza Pombo, e que para Angola tinha ido como cabo do Exército e que ingressara depois no quadro administrativo por influência de patrício seu, transmontano dotado de prestígio e poder. Este chefe de posto, cujo nome não interessa revelar, era useiro e vezeiro em manobras e habilidades tendentes a elevá lo no conceito dos seus superiores hierárquicos. Alguns terá havido que, por ingenuidade ou até por inconfessável interesse, não se aperceberiam ou fingiriam ignorar certas atitudes e práticas por vezes inteiramente ilegais e outras a rasar o limite do eticamente aceitável.

 

Estava Rui Leitão a desempenhar as funções de intendente do então distrito do Congo, com sede em Maquela do Zombo, distrito a que a circunscrição de Sanza Pombo pertencia quando ocorreu o tal episódio.

 

Um dos sobas daquela área foi queixar se ao chefe do posto de que um leão estava a matar muitas cabeças de gado bovino e a aterrorizar a sua gente, impedindo as mulheres de trabalhar nas lavras e de ir à água e à lenha para a satisfação das necessidades domésticas. E pediu providências, traduzidas essencialmente no envio de cipaios com armas e munições do posto, a fim de se organizarem as necessárias batidas e esperas destinadas ao abate da fera. O chefe prontamente acedeu ao pedido, entregando espingardas Kropatchek e as respectivas munições a dois cipaios e também a um hábil e destemido caçador, habitante de sanzala próxima, recomendando prudência e ordenando que o avisassem sem demora quando tivessem morto o leão. Ordenou, ainda, que não o esfolassem antes de ele chegar ao local.

 

Passados dois ou três dias chegou ao posto um estafeta, enviado pelo soba, para dar conta do abate da fera e do contentamento que reinava entre a gente do sobado. De imediato o chefe do posto se aprontou para seguir para o local da caçada, levando consigo um comerciante europeu que era possuidor de máquina fotográfica. Ali chegado, preparou o cenário para o entremez que planeara. Colocado o cadáver do leão em postura favorável, nele se sentou o chefe, empunhando a espingarda e exibindo ar de valentão, pronto para futuro alardear de façanha cuja veracidade a fotografia, então feita, ficaria a comprovar.

 

                         

                                     Com a colaboração de João Garcia e Artur Méndes.

 


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