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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Contactos de Culturas no Congo Português.(25)

Publicado por Muana Damba activado 25 Mayo 2012, 12:57pm

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

 

 

CONTACTO DE CULTURAS

                                              NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).



Alfredo de Morais Martins.

 


 

CONTACTO - A

Na guerra e na caça também o contacto operou algumas modificações, sobretudo no que respeita a armas. Pigafetta, referindo-se às gentes da província de Bamba, situada entre os rios Mbrige e Loge, dizia que “andavam armados de espadas longas e largas, como os Esclavões de Portugal”. O mesmo autor, ao descrever a caça às pacaças, afirma que os indígenas as matavam com frechas e com arcabuzes.

Nas indústrias pouco ou nenhum progresso deve ter sido introduzido pelo contacto. A olaria, atecelagem e a extracção e o trabalho do ferro continuaram a manter os processos tradicionais. Quanto muito, passaram a fabricar novos utensílios, copiados dos Portugueses. É o caso, quanto á olaria, da moldagem de cachimbos após a introdução do tabaco e, no tocante aos ferreiros, da confecção de toscos crucifixos de cobre, usados como feitiços, numa calara manifestação de secretismo religioso.

Uma indústria que, segundo Pigafetta, os reis do Congo gostariam de introduzir era a da curtimenta: “ e as suas peles (de pacaça) são muito estimadas, porque levam a Portugal, e daí à Alemanha, para tanarem; e chamam-lhes de ANTA. Desejaria El-Rei de Congo ter homens que lhas soubessem curtir e reduzi-las em uso, afim de com elas fabricar armas de defesa. ”Parece que esse desejo nunca foi satisfeito, pois nem Cavazzi se refere a tal indústria nem actualmente se nota a mais leve reminiscência dela.

Quanto ao transporte de pessoas, os “Cavalos de Pau” ou “Cavalos do Congo” e as primitivas tipóias foram substituídas por outras de rede iguais às que tínhamos encontrado no Brasil. Algumas vinham mesmo dali: “ Altre sono di maggior lusso e provengono dall’America; hanno passamani frange d’oro, legno, ottimamente verniciato e molto leggiero”

Acerca dos ofícios, sobretudo dos relacionados com a construção civil, é provável que muitos indígenas os tenham aprendido, com os mestres idos de Portugal, desde os primeiros tempos do estabelecimento das relações. Mas, quando o contacto afrouxou e quase desapareceu, deixou de haver necessidade do emprego dessa mão-de-obra especializada, visto que as construções indígenas a não ocupavam. Só coma ocupação efectiva do território, começada no final do século XIX, novos artífices voltaram a ser ensinados.

No comércio foi deveras marcante a nossa influência sobre os Congueses, a ponto de dar origem a uma especialização de actividade que se foi desenvolvendo e adquirindo tanta importância que passou a ser, e ainda é hoje, um dos traços fundamentais da sua cultura. Balandier frisa bem a propensão dos bakongo para o comércio e dá-lhes lugar de relevo ao estudar as características da sua organização.

Noutro passo deste trabalho, ao fazermos referencia à circulação dos bens entre os Congueses no período anterior ao estabelecimento do contacto, apontámos a existência de um comércio evoluído, em que já entrava a moeda, e dos mercados. Já não tinha, nessa época, um carácter estritamente local, pois já existiam regiões especializadas na confecção de certos artigos. Os congueses já nessas recuadas eras mostravam tendência especial para a actividade comercial.

O compilador da História do Reino do Congo, ao apontar as suas características físicas e mentais, afirma: “ São inteligentes sobretudo para o negócio. Enganam co astúcia” (Cuvellier ) .

Com a chegada dos mercadores portugueses, abriram-se novos horizontes a essa instituição local. Além dos produtos agrícolas dos de simples colheita ou captura, da criação e dos artefactos de indústria própria, passaram a entrar no giro do comércio os artigos da <Europa e até da Ásia. Pigafetta, ao falar das relações comerciais que os Portugueses entretinham com os “ANZICOS”, que muitos autores identificam com os actuais bateke do Médio Congo Francês informa: “ Dizia o Senhor Duarte que, por serem aquelas gentes tão feras e bestiais, não se comunicava com eles senão quando vinham resgatar ao Congo, trazendo escravos de sua nação de Núbia, com a qual confinam, e panos de teia, segundo diremos, e dentes de Elefantes; havendo em retorno sal, e destas conchinhas que gastam por moedas, e alguns búzios maiores que vêm da Ilha de S. Tomé, servindo-se deles como de medalhas para se
adornarem e por formosura, e veniagas de Portugal, como panos de seda e fiados de linho e vidrilhos e semelhantes” ( Pigafetta).

Mais adiante, ao referir-se à província de Nsundi, que era a mais setentrional do reino, diz: “ e os povos trafegam com as terras comarcãs, vendendo e trocando sal e panos de cores diferentes, trazidos da India e de Portugal e os búzios por moeda. E recebem de retorno fiados de palma e marfim e peles de Zibilina e de Marta, e umas cintas lavradas de folhas da mesma palma, muito estimadas naquelas partes”

O marfim, antes da chegada dos Portugueses, não tinha qualquer valor comercial, segundo se depreende do mesmo autor: “ Ora, abundando tanto marfim aquelas comarcas, considerava ser porque nascendo naqueles lugares grande multidão de elefantes e não se fazendo antes caso de tal matéria, a qual só é tida em conta desde que os Portugueses começaram a ter comércio com aquelas regiões, e deparando-se pelas campinas muitíssimos, em tão longos séculos ali se foi juntando uma infinita quantidade, que ora ainda se vende a bom mercado”.

Dos passos transcritos da Relação de Pigafetta, nomeadamente dos dois primeiros, se infere o desenvolvimento que as transacções comerciais entre os indígenas já tinha atingido no século XVI, com a entrada em circulação de novos valores representados pelas mercadorias da Europa e da Ásia que, no Congo, os nossos comerciantes iam introduzindo. Estes não se limitavam a fixar-se num determinado local, esperando aí a chegada de compradores das suas mercadorias. Internavam-se também pelos sertões dentro, à procura do negócio. A História do Reino do Congo faz referência aos dois sistemas de comércio: “Há nestas paragens muitos portugueses sendo alguns mercadores, e vão Congo e outras partes para traficar. São de duas espécies: uns chamam-se POMBEIROS que se metem pelo interior do país e negoceiam tanto com pagãos como com cristãos. Comparam e vendem as mercadorias que transportam. O que eles compram são escravos que enviam para o Congo (S. Salvador) ou para Pinda e para outros lugares onde existem sócios seus. Outros são habitantes da cidade do Congo ou do porto
do Pinda e têm como função receber os escravos que os Pombeiros lhes enviam. Eles têm aí escravos seus e enviam os de confiança com mercadorias para o interior, para traficarem como fazem os Pombeiros”

Continua

 

                                                                 Em colaboração com ARTUR MÉNDES

 

 


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