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Portal da Damba e da História do Kongo

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O que pensava o Joseph Maluka sobre o futebol angolano

Publicado por Muana Damba activado 13 Noviembre 2015, 22:57pm

Etiquetas: #Notícias do país

O que pensava o Joseph Maluka sobre o futebol angolano

Entrevista realizada pelo Paulo Caculo na conta do Jornal dos Desportos, publicada no dia 16 de Agosto de 2011, apesar de passar 4 anos, a visão do Joseph Maluka sobre o Futebol angolano, é de actualidade. Para honrar a sua memória, reeditamos a conversa. Recordamos que Joseph Maluka faleceu no passado dia 10 de Novembro de 2015, na França, vítima de uma prolongada doença.

"ESTOU COMO OLHEIRO DA F.A.F"

Joseph Maluka é um nome que dispensa apresentações para uns e anónimo para outros. O antigo capitão e goleador do 1º de Maio de Benguela na década de 1980, está de férias no país e confessou, em entrevista exclusiva ao nosso jornal, que pondera fixar residência em Angola, para transmitir a sua experiência aos mais jovens. Aos 55 anos, o ex-camisola 9 dos proletários, residente há mais de 15 anos na cidade francesa de Noyon, garante não ter ganho muito na carreira como atleta.


Mas, está feliz por tudo quanto fez como jogador e acredita que um eventual regresso ao país lhe pode proporcionar um futuro diferente. De resto, Maluka recorda a carreira protagonizada ao serviço do 1º de Maio e nos Palancas Negras, como se fossem fotos guardadas num álbum. Fala com alguma nostalgia do célebre 7-6 da década de 80 diante do Atlético Petróleos de Luanda, o clássico com mais golos no futebol nacional. “Seria agradável repetir esse jogo”, afirma, radiante, o antigo “matador” do Maio, que aborda o estado actual do futebol nacional, transpondo-o para uma realidade mais ampla.

Volvidos longos anos no exterior, está de volta em definitivo ou veio apenas matar saudades?
- Entendi ter chegado o momento de partilhar a minha experiência com o meu país. Quero dar o meu contributo ao desenvolvimento de Angola e espero poder gozar de uma oportunidade para o fazer, porque não pretendo morrer na Europa.

Dos contactos que fez nesta sua estada, recebeu já algum convite ou garantias para voltar a trabalhar no país?
- Até ao momento, ainda não tenho nada de concreto. Tudo dependerá das respostas que receber dos contactos que fiz. Estou à espera que haja algum convite de clubes ou da Federação, porque estou pronto a colaborar em qualquer parte do país, desde que surja uma oportunidade para transmitir a minha experiência.

Que experiências traz da vivência em França?
- Durante muito tempo estive a trabalhar com os escalões de formação do Sporting Clube de Noyon e, mais tarde, com a equipa de seniores. Mas também prestei outros serviços fora do futebol, porque precisava de ganhar dinheiro para sobreviver.

Tem objectivos imediatos?
- Gostava de começar a trabalhar já. Tive alguns contactos com o presidente Pedro Neto, conversamos muito, mas prometeu voltar a falar comigo após o regresso da Libéria. Mas devo dizer que estou pronto para ajudar no que for preciso.

Do contacto com o presidente da FAF, que garantias recebeu?
- O presidente disse-me apenas que podíamos aproveitar esta fase em que estou a residir em França para servir de “olheiro” da Federação, para ajudar a descobrir jogadores angolanos. Aceitei a proposta, mas ainda não concluímos a nossa conversa.

Tem acompanhado o futebol angolano?
- Em França tenho poucas possibilidades de acompanhar a evolução do futebol angolano. Após o meu regresso, tive a oportunidade de ver um jogo do Girabola, entre o Kabuscorp e o FC de Cabinda, e enquanto estiver cá, irei assistir mais jogos.

Gostou da qualidade do futebol praticado?
- Mais ou menos. Mas notei uma coisa: no nosso tempo, os campos enchiam, mas hoje não vejo isso. Gostei apenas na animação dos adeptos do Kabuscorp, mas nada tinha a ver com a realidade do meu tempo. Os campos enchiam de gente, ninguém ficava para ver o jogo pela televisão. A cidade ficava às moscas, porque quase todos estavam nos estádios. Mas espero ter oportunidade para ver mais jogos para poder fazer uma melhor avaliação sobre a qualidade actual do nosso futebol.

Um país em
grande crescime
nto

Como vê Angola hoje?
- Estou feliz pela nova imagem do meu país. Angola mudou muito e acho que os políticos estão bem no lugar em que estão. Nota-se um bom trabalho e acho que o país está unido e vamos vencer os desafios do futuro. Vejo que há um excelente trabalho e devo aproveitar a oportunidade para dar os parabéns ao Presidente da República pelo grande empenho em prol da Nação e felicitá-lo, antecipadamente, pelo 69º aniversário, que comemora no próximo dia 28.

Acha que emigrou na melhor altura ou sente-se, de alguma forma, arrependido?
- Sim e não. As duas hipóteses são válidas, porque naquela altura não tinha a experiência que tenho hoje. E acredito que os projectos que tenho hoje para o futebol no meu país justifica o meu regresso, assim como de tantas outras antigas estrelas do futebol angolano, como é o caso do Lufemba, também a residir em França, mas que tem planos de regressar ao país nos próximos dias.

Maluka espera ser reconhecido
pelo contributo dado ao futebol

Com que impressões é que ficou do CAN organizado pelo nosso país,
em 2010?
- Foi uma boa prova, uma boa competição. Gostei de ver os campos cheios e todo o povo feliz à volta da Selecção. Gostava de ter sido convidado. Também não fui convidado para o Mundial da Alemanha e fiquei muito triste.

E quanto à prestação da Selecção, gostou ou acha que poderia fazer melhor?
- Penso que a Selecção fez um bom campeonato. Há jogadores que me impressionaram pela qualidade que demonstraram, como o Manucho e o Flávio. Também gostei da exibição do Zé Kalanga. Vi todos os jogos de Angola no CAN e penso que faltou sorte à nossa selecção. Gostei muito da organização, mesmo em França, as rádios e jornais falaram bem de Angola.

De um modo geral, está satisfeito com o que ganhou enquanto futebolista?
- Não. No nosso tempo, não se podia exigir muito dinheiro aos nossos dirigentes, porque o país estava em guerra. Jogávamos mais por amor à camisola e por amor à pátria. Tivemos de seguir o ritmo, a forma como o país andava. Não conseguimos ganhar nada com o futebol. Por isso, pedimos às forças vivas do desporto que nos ajudem porque não fica bem ver ex-futebolistas perdidos no país, sem a possibilidade de terem uma casa e um carro. Penso que merecíamos o mínimo por tudo quanto fizemos pelo futebol.

Acha que devia haver uma associação para acudir os antigos futebolistas?
- Com certeza. Acredito ser importante que se crie uma associação de futebol, para que os antigos futebolistas possam ser apoiados. Apercebi-me, por exemplo, de casos de ex-futebolistas que atravessam problemas de saúde, casos de Raul Kinanga, Zandu e Praia. Acho que uma associação ajudaria a minimizar estses problemas.

Prémios de melhor
marcador ainda estão por rece
ber

Trinta anos depois, o Maluka reclama pelos troféus de melhor marcador. Acha que tem razões para tal, quando se sabe que não esteve no país ao longo destes anos todos?
- Porquê? Penso não ser justo que depois de ter sido melhor marcador por duas vezes, não ser recompensado com um prémio. Em 1981 e 83, conquistei o troféu de melhor marcador e penso ser um direito que me assiste, receber esse troféu. Não estou a exigir nada, mas é um direito que me cabe.

Mas já se passaram vários anos e diferentes mandatos…
- Acho que os anos não contam, porque andei longe do país e não tinha como estar aqui para receber esses prémios, mas hoje espero ser recompensado pelos golos que marquei. Durante estes anos todos, estive em França, mas pensando sempre que tenho alguma coisa no meu país para receber.

“Fizemos
do Maio grandio
so”

Como vê o Maio hoje?
- Ainda não vi a equipa a jogar, mas a situação na classificação não é das melhores. Tem de fazer um esforço enorme e não pode estar tranquilo, enquanto não saltar mais alguns degraus. A equipa deve jogar mais para sair daquela posição.

Já manteve algum contacto com a direcção do clube?
- Cheguei a conversar com o senhor Rui Araújo, prometeu ligar para mim e estou à espera. Sou uma pessoa optimista e acredito que cedo ou tarde ele me vai contactar.

A credita que o 1º de Maio pode voltar a ser aquela equipa forte e homogénea do passado?
- Acho que sim, desde que haja investimento para que surjam jogadores com a qualidade dos do nosso tempo. Porque aqueles jogadores tinham amor à camisola e consciência de ajudar a equipa. No meu tempo, havia sacrifícios, apenas pensávamos em jogar à bola e isso é que tornou o Maio grandioso. Hoje, não sei, teríamos de regressar ao passado e ir à busca de novos Malukas, Sarmentos, Fussos e outros.

Mas sente que valeu a pena ter deixado as impressões de uma carreira marcada pela fama, apesar dos fracos rendimentos financeiros?
- Entravamos para o campo em solidariedade com o país, que atravessava um período conturbado. Não podíamos pedir os valores que se pedem hoje, porque o país estava em guerra. Mesmo na Selecção passávamos mal. Havia dificuldades até para comermos. Por isso, acredito que deviam pensar um pouco nesses jogadores que deram o litro por Angola.

Os memoráveis
7-6 contra o Pe
tro

Que memórias guarda do “seu” 1º de Maio de Benguela?
- Fiz uma grande carreira no 1º de Maio. Representei muito bem essa equipa. Cheguei ao clube na mesma altura que o André e o Daniel, e depois chegaram Fusso, Zandu, Sarmento, Vicy, Garcia, Melaston, Simões, Quiala e outros. Fomos nós que fizemos o 1º de Maio de Benguela como equipa. A partir do momento em que começamos a carburar, ninguém mais nos podia parar. Formamos uma grande equipa, porque nos entendíamos perfeitamente.

Sente muitas saudades desse tempo?
- Inúmeras, tantas que às vezes me dá vontade de chorar. As pessoas perguntavam: como é que o Maio conseguia aqueles resultados? Era porque a gente tinha um grupo unido, entendia-nos bem e encarávamos cada jogo como uma final. Metíamos sempre na cabeça que os jogos deviam ser vistos como decisivos.

Recorda apenas momentos bons ou teve também algumas decepções?
- A grande recordação que tenho foi aquele 7-6 contra o Atlético Petróleos de Luanda. Nessa altura, o 1º de Maio carburava como nunca. Parecia mais um jogo de hóquei em patins… (risos). Foi bom ver aquele jogo cheio de entusiasmo e emoção. Seria agradável repetir a história. Houve uma altura em que saímos do campo e não sabia o resultado. Só depois vi que estava em 7-6. Fiquei impressionado com a quantidade de golos.

Houve alguma decepção?

- Sim, no Togo. Quando fomos jogar a Taça de África dos Clubes Campeões. Depois do empate com a equipa togolesa, fomos à decisão dos penáltis. Ninguém queria marcar o último penálti, então, o árbitro veio falar comigo: és o capitão e deve ser você a marcar. Fui tentar e falhei, perdemos por 5-4 e fomos eliminados.

Via Jornal dos Desportos


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