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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Será o ano de 1439 a data da fundação do antigo Kôngo?

Publicado por Muana Damba activado 6 Septiembre 2014, 07:22am


Por Patrício Batsikama



Introdução


Há coisa que não posso deixar passar. É o caso da publicação no Jornal de Angola de 05 de Setembro de 2014: rubrica Cultura. Pela forma que é informada, a data de 1439 terá sido uma confirmação de arqueólogos como a data da fundação do Kôngo. Desde já, permitem-me informar que não sou arqueólogo. Mas tenho a certeza que sou um bom historiador pela seriedade que levo nesta matéria. Contudo, percebo as teorias arqueológicas que reforçam a profissão de historiador. Permitem-me repetir dizer que sou um bom historiador pela seriedade, e é por isso que escrevo esta réplica à informação passada pelo órgão oficial de Angola.

Contra-argumento


É prematuro ainda avançar qualquer data de fundação do Kôngo. Os estudiosos aturados neste tema sabem da possibilidade de várias fundações, pelo menos três ou quatro. A última fundação poderá datar entre IX e X da nossa era, e ela é amplamente confirmada pela cerâmica e as instituições que o europeu encontrou no Kôngo. A primeira fundação, que deve ser procurada na Madîmba ma Kôngo, é atestada pela própria Tradição Oral. A linguística indica a penetração dos Bantu e Njila a partir da bacia inferior de Inkisi e Kwângu para actual território de Mbânz’a Kôngo. De acordo com vários especialistas antropólogos e historiadores, há evidência – de ponto de vista a antropologia física das morfologias da cultura material – de uma origem Sudeste. O recente livro de Jan Vansina aporta essa evidência. Com relação as datas, a arqueologia e a linguística apontam dois séculos VII e IX. Trata-se da penúltima (senão a última confundida com a anterior).


Mas antes destas duas origens amplamente atestadas, há uma ou duas outras origens que estão presentes na Tradição oral. Dois povos ter-se-ão confrontados em Mbânz’a Kôngo: um veio de Norte e outro (que já ocupava as terras de Mbânz’a Kôngo) veio do Sul. Os oriundos do Sul seriam os Ambûndu; os oriundos de Norte seriam povos derivados dos Teke. Até a data de hoje não se sabe data-las, essas duas origens. Nós tentamos fazê-lo: (i) a tese de Raphael Batsîkama (1971) é interessante, mas tentamos revê-la (Batsîkama, 2011). Os novos métodos de datação a partir das pinturas rupestres (as tonalidades pretas/cor preta obtida a partir do carbono vegetal e outras substâncias biológicas) pode de facto indicar a data da sua fabricação. Com essa metodologia, cita-se o século I e II da nossa Era em quatro estações diferentes. A origem meridional – que certamente a mais antiga, na memória kôngo: kuna Mbângala (Batsîkama, 2010) – as novas pesquisas esclarecem a questão. Por um lado, os proto-Njila já ocupavam a margem direita do Kwânza onde este rio curva para o Sul até a bacia de Inkisi e a de Kwângu. Por outro, a arquitectura circular das moradias e recintos na parte meridional de Angola (nos Umbûndu, Herero, etc.) caracterizam o Kôngo que os primeiros exploradores viram. As descrições antropológicas feitas pelos exploradores entre 1491 e 1710 já não são verificáveis entre os Kôngo de hoje. É preciso ir a Huila, Namibe, Kwandu-Kubangu e mesmo Cunene para encontrar uma impressionante semelhança. A questão de datação já interessou vários estudiosos nos anos 1941 até 1986: somente depois das escavações devidamente criticadas que será encontradas as datas aproximadas. Mas até hoje pensa-se no século VIII e VI antes do Cristo.


Agora, fiquei deslocado quando vi a data de 1439. Coloquei-me várias perguntas sem encontrar sérias respostas: (1) será um objecto ou conjunto de objectos verificados em várias estações que evidenciam esta data? A presumível resposta é negativa: para datar a fundação do Kôngo, será interessante considerar a região de Madîmba ma Kôngo, o actual Mbânz’a Kôngo e a região de Noki. Ainda que seja várias escavações de Mbânz’a Kôngo evidenciar essa data, é nitidamente prematuro pensar nesta data de 1439 como data da fundação; (2) de que fundação se trataria? Salvos os objectos encontrados em Kulumbûmbi e na zona da árvore Yala Nkuwu, os restos de objectos não poderiam devidamente indiciar a última fundação. Duas razões sustentam isso: (i) a zona que começaria do edifício do Governo provincial e a fortaleza até o supermercado Nosso Super, e da Rádio Provincial do Zaire até o bairro Álvaro Mbuta (além aeroporto), era o local onde se rezavam os ancestrais (mazûmbu), e não foi por acaso que se construir a Sé Catedral exactamente onde estariam os restos mortuais dos primeiros Ñtôtela (o primeiro seria enterrado de baixo de Yala Nkuwu, diz a lenda); (ii) desconhece-se ainda o plano habitacional ou urbanístico da fundação: locais habitados, locais frequentados ou ocupados, etc. Os objectos pertencendo as populações visitantes (locais frequentados) não poderão indicar a fundação, ao passo que os objectos dos ocupantes poderão proporcionar as datas. Só que em ambos casos, a Tradição apresenta um modelo da ocupação territorial: Nsûndi tufila ntu, Mbâmba tulâmbundila malu. E, seguindo este modelo e confrontando com as descrições da cidade que construiu Dom Afonso I Mvêmb’a Ñzînga, percebemos que as dimensões territoriais do “Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo” precisa ainda de ser reapreciado (embora seja minimamente correcto).


Quando consideramos todos estes pontos, a curiosidade leva-nos a perguntar (pelo menos aqueles que deram essa data como sendo da fundação do Kôngo), em base de que esta data foi avançada? Será que os dados foram pormenorizadamente recolhido e devidamente selecionados, analisados e comparados? Pelo tempo podemos perceber as precipitações. Ainda vai ser necessário nos preocupar fazer a ciência, para fornecer um parecer técnico interessante para que os políticos discutem a classificação e gestão dos bens classificados.


Há outra preocupação: o antigo Kôngo não pode ser o “reino mais antigo” de Angola. As escavações de Sanga, por exemplo, levam-nos a pensar na existência das Lûnda já em século XI da nossa Era. Feti/Osi indiciam uma grande centralidade populacional sob controlo político e militar forte já nos século IX e XII. Alguns trabalhos fragmentários existem e evidenciam isso. O Kôngo pode ser o país mais organizado e territorialmente imenso, mas não concordamos que seja o país/reino prelusitano mais antigo.

Aconselhamentos


Face a situação, propomos o seguinte:


(1) Delimitar metodologia do trabalho em três fases:
• Formulação da candidatura obedecendo as metodologias exigentes, sem nada concluir das recolhas/escavações e evitar falácias e demagogias para cativar a atenção de quem quer seja; reunir todos capitais académicos possíveis especialistas (historiadores, antropólogos e sociólogos) nesta zona para ouvi-los e criar uma plataforma para eles discutir e comparar os dados


• Criar condições técnico-científicas locais (laboratórios; formação de técnicos de laboratório; uma Faculdade onde haverá curso de História com especialização em Arqueologia, Museu que responde as demandas locais; etc.) que se responsabilizará de desenvolver as análises e mais pesquisas sobre Mbânz’a Kôngo;


• Criar centralidades, hotéis e infraestruturas que permitam que a juventude tenha ocupação, e que o turismo cultural rende melhor, etc.


(2) Mapear a gestão e a rentabilização de “Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo” como sequência à candidatura evitando os atropelos para o desenvolvimento interno.
(3) Criar um plano estratégico entre o “Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo” e a Presença Kôngo na Diáspora, que envolverá universidades, centros de pesquisas, relações entre cidade de Mbânz’a Kôngo e outras (São Paulo; Louisiana, Lisboa, Amesterdão, Havana, Florença, Roma, etc.) no intercâmbio cultural, socioeconómico, etc.).

Em reacção do artigo editado no Jornal de Angola cujo o conteúdo pode ser consultado na seguinte ligação:

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