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04 May

Wiza voa nas asas do Kilapanga

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Entrevistas

 

 

Por Analito Santos

 

 

Utilizando-a de maneira confluente, Wyza traz como núcleo da sua proposta estética a revitalização desta parte de nós que é o kilapanga, sobrepondo-a às tendências do afrobeat. O resultado desta construção harmónica desafia uma crítica que ainda procura alicerçar as singularidades musicais desta explosão africana que se afirme ao ouvido absoluto da estética da vanguarda que se movimenta atrás dos holofotes da superfície pop, resultando com a designação de Word Music, indício, certamente, dos potênciais artistas que, ao se singularizarem no presente, marcarão a posterioridade numa escala além da África.

 

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                                                            Foto de Rita Sores

 


João Sildes Bunga, o nosso Wyza, segue os que traçam a africanidade como caroço e alma de uma época determinante para o continente, período contextual da necessidade da (im)posição alma e personalidade artística que poderão posteriormente cimentar nos anais a sua participação na criação imagética do “novo mundo” por descurtinar e quebrar as barreiras que as estórias e estorietas da com uma agenda muito preenchida Wyza - Sim, Brasil com Dodô Miranda, início de Março show no Bahia para gravação de imagens do documentário África Visita África, depois tocar para turistas no cruzeiro do National Geographic, a participação no primeiro ao vivo de Caminhos dos Sons, no final de Abril uma temporada com duas apresentações no projecto A Nossa Música, coordenado pela Irina Vasconcelos, e na segunda quinzena de Maio um show organizado pelo Tony Nguxi.

A.S - Fale dos shows no Brasil e do documentário


W- África Visita África: é a África que foi ao longe. Tomei contacto não apenas com a música mas com outras manifestações culturais afro-brasileiras como a culinária, comendo kikuanga, as religiões, o candomblé; entrando em terreiros do côncavo bahiano. Falei com pesquisadores como Zé do Boi, o guitarrista de viola baiana Roberto Mendes e o mais velho Riachao, que com os seus 82 anos dança e anda sem apoio de bengala. Tem muita firmeza, e é impressionante. Quanto a shows, toquei com a Orquestras Sinfónica Tradicional, que acaba de convidar-me mo disco, e a Orquestra Sinfónica Popular
Brasileira de Camaçary. Já com bandas, actuei com o Magari, que é um músico que diz tocar semba e que lá na Bahia está no auge. É de louvar esta iniciativa dele, mas é preciso reconhecer que o que ele toca ainda não é semba. Espero que se materialize a sua intenção de chegar em Angola e tomar contacto com a nossa música.

 

A.S - Já passaram cinco anos depois do terceiro CD "Bakong", para quando o quarto?

 

W - Provavelmente este ano. Tenho várias músicas concluídas. Agora que recebi um convite da National Geographic para gravar nos Estados Unidos, penso produzir lá. Mas deixo reafirmado que apoios com-
plementares sempre serão uma mais-valia.

A.S - Parece que caiu nas graças deste canal de gravação dos States


W - Não sei. Mas de uma coisa tenho certeza: é um tipo de actuação diferente dos outros palcos por onde passei. Actuar para cerca de 200 pessoas de diferentes nacionalidades que não entendem a nossa língua mas que ficam presos a linguagem universal que é a música. No fim perguntam: como é possível tocar de forma tão difícil e cantar ao mesmo tempo de forma livre? E eu respondo que não tive escola e que agradeço a Deus e a minha etnia por proporcionar este dom de fazer música. E mesmo as-
sim nem sempre somos valorizados na nossa terra.

A.S - Agora um pouco de historia do “Kintsona”, o seu primeiro trabalho discográfico com uma proposta totalmente diferente dos demais, meio zouk...

 

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                                                        Foto de Rita Soares

 

W - que não se identificam com o que eu gosto de fazer. Quero desde já agradecer ao João Alexandre por ter produzido este álbum, ou seja, ter o prazer de fazer o meu primeiro filho, pois se assim não fosse teria apenas dois. Ele tinha uma maior experiência às vezes fazemos coisas que não nos agra-
dam. Mas foi bom.

A.S - “África Yaya” e “Bakongo”


W - “África Yaya” é já uma patente. Produzido pelo Reinaldo Maia, brasileiro, foi proposto pela minha produtora, a Maianga Produções de Sérgio Guerra, por quem tenho grande consideração. Eu disse que
queria uma sonoridade diferente. Eu gosto de músicas estranhas, ou seja, exóticas. E deu naquele disco. Depois o “Bakongo” foi um outro brasileiro, Maurício Pacheco, que trabalha com Gabriel o Pensador, Vanessa da Matta e outros artistas. Foi um disco não tão complicado como o “África”. Acredito
que o próximo será mais simples. Tenho muita coisa destes cinco anos sem lançar. Eu ainda não fiz o meu disco, pode ser este.

A.S - Cinco anos sem discos, mas com vários shows fora


W - Quando fizemos música para eternidade o nosso disco nunca acaba porque eles não entram na moda, porque elas vivem em movimento, dai continuar a receber convites para actuar fora e, às vezes,
dentro do pais. E agora canto com convicção de mim, não como no início de carreira quando só pensava em lançar apenas discos, sendo kongo e que receava não ser possível con- quistar Angola e o mundo. Mas agora fazendo nos Estados Unidos e com a Putumayo mais portas se abrirão, pois eles têm uma
grande rede de distribuição.

W - Destaco o Paulo Flores, não apenas por ter participado no "Xé-povo", mas por ter apostado por mim, depois do kinsona e da minha passagem nos Vozes Negras. Tem um lado humano muito forte. Foi ele quem me levou à Maianga Produções.

A.S - Principais influências


W - Salif Keita, Lokua Kanza, Habib Koite, Omou Sankaré, Manu Dibangu, Fela Kuti e muitos outros, como Michael Jackson na dança. Porque quando miúdo gostava de dançar, apenas mais tarde olhei para o seu lado musical. Já na sonoridade musical, o funk, afrobeat e o kilapanga. O Kilapanga vem antes de todos os outros, aliás, o kilapanga é a minha raiz; o kilapanga mora em mim; eu sou o kilapanga. Qualquer toque que dou, qualquer canção minha tem o kilapanga, pois eu o transporto.

A.S - Não notamos nenhum artista angolano


W - Não. Olha, a característica da minha música é relativamente nova por cá. Eu gosto dos Irmãos Kafala, Mito Gaspar e Gabriel Tchiema porque partilhamos até certo ponto as mesmas sonoridades. Actualmente já há uma tendência em fazer esta onda musical.

 

A.S - Olhando para as influencias, parece não estás preparado com os gostos angolanos

W - Eu não sou minimalista. Eu gosto viajar alto. Antes dos últimos dois discos eu dizia que não queria fazer música apenas para Angola mas sim para o mundo, e quem me acolher é o meu povo. Em Angola não ouvem o que faço porque não é semba, não é kuduro nem kazukuta. A minha música não convém para aquelas danças indecentes nem transporta mensagens disparatas. Não é música para as farras, mufetadas, ma- ratonas e shows imediatistas. É um pouco da mesma forma que o jazz e outras músi-
cas alternativas e aparentemente não comerciais. Não queremos relaxar.

A.S - Falou do jazz e da música alternativa, quando acaba de participar no primeiro ao vivo de “Caminhos do Som” de Moisés Luís, um dos programas impulsionadores destas tendências musicais

 

W - Moisés do muitas coisas. Ele tem contribuído muito para a criação e reforço dos amantes destes estilos e incentivado jovens artistas. A A.S - Também tem apoiado a Casa da Musica da fundação cultural israelita Arte e Cultura


W - Sim. Abracei este projecto de uma instituição estrangeira que tenta ajudar a nossa cultura proporcionado aulas de música a jovens angolanos. É de louvar. Infelizmente aqui são sempre ajudadas as mesmas pessoas. São sempre os mesmos para os shows e projectos que se dizem sociais. Mas penso que poderão surgir outras casas e coisas, eu mesmo estou tão motivado que se tivesse apoio materializava este meu sonho que é o de ensinar e ajudar as crianças e jovens a custo zero. Eu aprendi e recebi a minha primeira guitarra a custo zero, daí estaria a ser injusto pensando em não retribuir desta forma. Devemos apostar na formação do homem, pois é desta forma que também podemos reduzir a pobreza cultural.

A.S – Umas das suas actuações ficou marcada pela participação de um exímio tocador de kora


W - Eu adoro a África e a kora. Daí partilhar o palco com este irmão africano que carrega este instrumento. Gostaria de conhecer mais países africanos onde respiram a cultura africana. Infelizmente não sentimos isto aqui, de tal forma que há estrangeiros que dizem não encontrarem a África em Angola. Lembro-me de ter sido desencorajado por um artista angolano aquando da nossa participação na Expo do Japão quando pretendia comprar a kora, alegando não ser nosso instrumento e eu respondi-lhe se a guitarra era também de nossa autoria.

A.S - Como está o processo da produção do seu DVD?


W - Como já disse, os apoios estão todos canalizados para os do semba, kizomba, kuduro, aqueles dos outdoors e das publicidades.

A.S - Como tudo começou?


W - Minha mãe tocava kissange e eu aprendi a tocar com ela, lá no mato. Eu era o cassule e os meus irmãos estudavam na aldeia, e para me consolar ele cantava para mim. Fazíamos kissange, mas a guerra trouxe-nos para Luanda, onde não encontramos material para produzirmos mais. Tempo lindos, e não tinha pretensão nenhuma em ser músico quando tocava o meu kissange. Depois aprendi guitarra, que agradeço a Deus pelo dom. Sobre África Visita África O documentário está a ser gravado em Angola e na Bahia e pretende mostrar algumas diferenças e semelhanças entre cultura baihana e angolana. O filme acompanhará Wyza e Dodô Miranda em visitas a músicos baihanos que têm uma forte herança musical africana em seus trabalhos, como Mateus Aleluia, Roberto Mendes, Gabi Guedes, Dão, as Ganhadeiras de Itapuã e outros. Além desses encontros musicais, o documentário vai acompanhar a visita de Wyza e Dodô Miranda a algumas africana é forte, precisamente Santo Amaro, Cachoeira e Salvador.

 

                                                              Fonte: Cultura "Jornal angolano de artes e letras"

 

Wiza - Bakongo

 


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