Usos e costumes dos Bantus.
A palavra bantu foi introduzida na linguística por Bleeck em 1856 na sua gramática comparada das línguas africanas. Este termo tem sido definido como conjunto de pessoas que se serve da raiz NTU para designar o ser humano.
Associado ao prefixo do plural BA forma a palavra BANTU, ou pessoas. Segundo os dados anunciados pelo historiador Simão Souindoula, durante uma palestra subordinada ao tema “O Mundo Bantu “ que proferida em 1984 na União dos Escritores Angolanos, o mundo bantu é todo o sul de uma linha imaginária que parte de Douala (Camarões) até Mombasa (Quénia), ocupando um terço da superfície de África e 30% do peso demográfico africano. Os seus usos e costumes, a própria língua e a sua cultura em geral, suscitaram a criação do CICIBACentro Internacional de Civilizações Bantu, organismo encarregue de estudar, divulgar e valorizar a cultura dessa comunidade com sede em Libreville/Gabão.
Segundo o linguista alemão Meinhoff, existem entre 400 a 500 línguas bantu . Para Malcom Guthrie, os bantu estão divididos em 11 grupos, entre os quais o grupo Zulu, o grupo Kilimanjaro, o grupo Meridional e o grupo Ocidental “[1], este último onde está classificada a maioria dos bantu de Angola (Kikongo, Kimbundu, Lunda-Cokwe, Ngangela, Umbundu) e uma vaga de bantu meridionais (Helelo, Nyaneka Khumbi e Ovambo), constituíndo a maioria da população angolana.
É sobre os usos e costumes de alguns bantu de Angola (kikongo, kimbundu, côkwe, umbundu e ngangela) que pretendemos revisitar e rebuscar o conhecimento das realidades culturais tradicionais ou originárias para as novas gerações, que podem encontrar nelas fontes mananciais e inspiradoras para novas e modernas criações artísticas e culturais.
Dentro deste tronco, encontram-se vários subgrupos, nomeadamente os vata, soso, zombo, sorongo, yaka, kongo, pombo, suku, oyo, vile e yombe ocupando maioritariamente a zona norte entre o mar e o rio Kwangu, (concretamente as Províncias de Cabinda, Zaire e Uige); São agricultores em estação da chuva e afirmam-se com uma capacidade notável para a escultura, incluíndo o talhe de máscaras coloridas entre os Bayaka, seu subgrupo; hábeis na confecção da chamada as máscaras bakama ou indunga e a ndemba marcam a sua presença, não só para consagrar o acto, como também para servir como intermediários entre os viventes e o mundo dos espíritos ancestrais.Algumas variantes Kikongo, mostram-se muito aptos para o negócio, como por exemplo os Zombo, os Oyo e os Solongo,onde as kitanda ou mercados constituem uma das principais actividades. Na organização social, toma evidência o Kanda ou clã muito ligado ao terreno agrário sob protecção dos antepassados, aos quais pertence, restando aos vivos o direito de usufruto do mesmo, apesar do princípio das terras clânicas apresentar sempre implicações de vária ordem como é o regime de concessão sob orientação dos Mfumu Ntoto (Donos ou Senhores das terras). À semelhança dos outros bantu, os bakongo primam pelo valor da família desde a nuclear à extensa, sendo a mulher um elemento fundamental na estrutura familiar.
Considerando um dos seus adágios “o casamento é negócio e os filhos são o lucro”, para os bakongo o casamento só pode ser consumado com a entrega completa do alembamento (compensação matrimonial em bens, dinheiro, serviço ou animais que a família do noivo oferece aos parentes da noiva) conhecido em kikongo como khamalongo. Na sua idiossincrasia, os casamentos civil e religioso são apenas formalidades e sem valor definitivo enquanto não se cumprir com as obrigações tradicionais.
Na entronização dos Mfumu (chefes tradicionais), realiza-se uma cerimónia de consagração e legitimação, na qual os espíritos dos antepassados são invocados. É o caso do ritual de Vela kya Soyo em que os anciãos cantam, dançam e aspergem o maruvu ou vinho de palmeira, da boca para a cercania do local da cerimónia.