UPA foi o primeiro movimento de libertação de angola.
Por Domingos Cazuza
Os antigos combatentes e veteranos da pátria celebram hoje, a expansão da luta armada de libertação
nacional. A data de celebração nacional representa uma homenagem aos filhos de Angola, que em diferentes batalhas lutaram contra a ocupação estrangeira.
Para assinalar a data, o Novo Jornal ouviu dois políticos de gerações diferentes. Joaquim Ernesto Mulato,
da UNITA e António Fernando Gomes da FNLA.
Ernesto Mulato, vice presidente da UINITA
Mulato foi antigo militante da União dos Povos de Angola (UPA) e agora vice-presidente da UNITA. Ao
Novo Jornal revelou que Imperial Santana, Neves Bendinha, Calvino irmão de Hoji Ya Henda e o Cónego
Manuel das Neves nunca foram mili- tantes do MPLA.
Aquele político justificou que “em 1959 até 1961 a UPA estava implantada em todo o norte de Angola, incluindo nos musseques de Luanda e até mesmo no sul. Nesta altura não se ouvia falar do MPLA
só depois dos acontecimentos do 15 de Março de 1961 é que se ouviu falar pela primeira vez deste partido mas de forma tímida”, contou.
“O MPLA aparece depois de 1961 com o objectivo de ofuscar a UPA e, começou a capturar alguns jovens
para se filiarem na sua causa política. O MPLA surge verdadeiramente em 1961, para contrariar a UPA, mas
não tinha nenhuma expressão e limitou-se em ficar em Luanda. A UPA estava em todo o país”, recordou.
O político confidenciou-nos que Aníbal de Melo quando chegou em Kinshasa fez parte da direcção da UPA. E só muito mais tarde é que passou para o MPLA. Em 1961 quando se realizaram os ataques do 4 de Fevereiro nas cadeias da Polícia Internacional de Defesa do Estado/ Direcção Geral de Segurança (PIDE/DGS), nessa altura não se falava do MPLA, “se fomos a ler os livros, os historiadores deste partido dizem que nesta altura esta formação política não existia”.
“No livro de Edmundo Rocha, “Amplo movimento de Lúcio Lara” ou na colectânea de Agostinho Neto, de Fernando Pacheco, nesta data (1961) não se falava do MPLA e, existiam outros movimentos,
falava-se mais das actividades da UPA, através do Cónego Manuel das Neves e do emissário César, que naquela
altura fazia o trajecto Kinshasa a Lu- anda”, frisou.
Mulato refere que “a UPA não era um partido regionalista como se propalava. Quando acontece o 4 de
Fevereiro, muita destas pessoas estavam ligadas à UPA, e as catanas que tinham a inscrição do partido
fundado por Holden Roberto, saíram da paróquia do cónego Manuel das Neves, antigo pároco da igreja da Sé Catedral”.
“Quem tivesse um calção, camisola preta e uma catana em casa era considerado terrorista. Houve
mortes e prisões lamento que se fale muito pouco do dia 11 e, para mim deveria ser um dia de reflexão. As datas de luta pela libertação nacional não deviam ser disputadas pelos movimentos de
libertação nacional. Mas devemos saber que o 4 de Janeiro, o 4 , o 11 de Fevereiro e o 15 de Março de 1961, são datas que têm a mão da UPA/FNLA e não de um outro movimento político”, explicou.
Mulato considera o 15 de Março, uma data importante em que Oliveira Salazar, presidente do Conse-
lho de Estado de Portugal enviou um grande contingente militar para Angola ao invés de negociar com os movimentos de libertação nacional, “isto demonstra que não viam com bons olhos a
independência do nosso país, por isso é que foi necessário pegarmos em armas”, recordou.
"A fnla foi o primeiro partido angolano a ser reconhecido no mundo"
FNLA Foi primeiro movimento de libertação reconhecido pela União Africana. O nacionalista António Fer-
nando Pedro Gomes não considera o 15 de Março de 1961 um acto selvático praticado por analfabetos, como referiram os portugueses.
Para o secretário nacional para os assuntos jurídicos e constitucionais da FNLA, os ataques violentos perpetrados pela sua organização política foram apenas, uma consequência e reacção a um
conjunto de atitudes, comportamentos e actos coloniais realizados contra o povo angolano.
O pai do nacionalismo angolano, Álvaro Holden Roberto
Pedro Gomes adiantou ainda que a origem da FNLA, remonta a 7 de Julho de 1954, quando os nacionalistas Manuel Barros Sidney Nekaka, João Pinock Eduardo e Francisco Borralho Lulendo
radicados no então Congo Belga, hoje República Democrata do Congo, formaram na cidade por- tuária de Matadi e Leopoldeville a União das Populações do Norte de Angola (UPNA).
O também professor universitário disse ainda que no dia 27 de Março de 1962, emergiu a FNLA numa fusão da UPA com o Partido Democrático de Angola (PDA), aglutinando no seu seio patriotas
revolucionários, numa amálgama de grupos provenientes dos diversos povos étnicos do mosaico angolano.
Pedro Gomes recordou que, a FNLA foi o primeiro movimento de libertação em Angola a ser
reconhecido internacionalmente na cimeira da então Organização da Unidade Africana (OUA), em Addis-Abeba, Etiópia, em 25 de Maio de 1963, através do Governo revolucionário de Angola no exílio
(GRAE), o seu órgão executivo, liderado pelo malogrado Holden Roberto.
Fonte: Novo Jornal