Uma hora com Bileku Mpasi "Djuna Mumbafu". Entrevista
Por Sebastião Kupessa
"Ajudar desenvolver a sua região de origem deve ser prioritário a todos africanos, inclusive os Dambianos".
Bileku Mpasi é um dos melhores músicos africano, excelente dançarino. Autor-Compositor, intérprete e animador (Rap africano), herdeiro legítimo do falecido Pépé Kallé e de rítmo do Agrupamento musical Empire Bakuba. Quando a celebridade bate a tua porta, especula-se muito em torno da sua pessoa, para muitos ele é angolano, natural da Damba. Há poucos meses Muana Damba publicou uma, versão apanhada na rua, da sua biografia na "Damba na diáspora". Para outros Bileku Mpasi seria um congolês e não tem nada a ver com Damba. Para ter a certitude Muana Damba aproximou-se do homem, graças a magia de tecnologia, recebeu-me com muita simpatia e humildade. Eis o teor da nossa conversa:
Muana Damba(MD): Kiambote kiaku e mpangi Bileku Mpasi.
Bileko Mpasi (B.Mp): Kiambote kiaku, ntondele mpangi'ama, savo nfiaukidi mono mutu.
MD: Numa canção com o título "Atinze muana popi" saudastes os habitantes da Damba, quero saber porque?
B.Mp: Damba é região onde nasceu a minha avó, da parte materna, ela cantava muito sobre Damba e eu aprendi a cantar com ela, esta parte do "Atinze muana popi" é um extrato de uma canção da Damba. Para render a homenagem à minha avó, citei os Bana Damba, onde ela era natural.
MD: Não és natural da Damba?
B.Mp: Não, como já disse só a minha avó é dambiana. Eu sou congolês. O meu pai é congolês e a minha mãe também é congolesa da parte do pai dela, mas angolana pela parte da mãe, repito.
MD: Podes indicar a aldeia onde nasceu a tua avó?
B.Mp: Ela nasceu no Sala Mbongi.
MD: Então não conheces Damba, nunca fostes lá?
B.Mp: Gostaria, mas nunca cheguei lá. Este ano fui até ao Uíge, mas não tive tempo de visitar Damba.
MD: Mas reconheces, ao menos, que foi graças ao rítmo da Damba que és considerado como um artista confirmado a nível africano?
B.Mp: Sem dúvida nenhuma, Pépé Kallé chamou-me para integrar o grupo dele, sabia porque. Com a minha vôz fiz a introdução da animação como na conhecida canção "Yaya Londa" em kikongo que se animava assim: "Eh kiula ka mbizi a diako ngeye wudidi ?" Com a minha contribuição, o Empire Bakuba o meu antigo conjunto musical, sagrou-se campeão de África e das Antílhas. Este rítmo constituiu a base da sustentação deste conjunto nos último dez anos. Mas isto não quer dizer que o Empire Bakuba tornou-se célebre com a minha entrada, antes de mim o Empire já era conhecido. Muitos não sabem que Empire sagrou-se melhor Agrupamento Musical do terceiro Mundo, destronando os Kassav's e eu sagrei-me melhor animador, voltamos com duas taças e eu conservo a minha até hoje.
MD: De todos cantores congoleses, Pépé Kallé foi o mas próximo do rítmo tocado no Noroeste de Angola e era rodeado sempre de refugiados angolanos no Congo, sabias porque?
B.Mp: Pépé Kallé tinha sangue angolano. Era 25% angolano como eu. Um dos seus avôs era angolano da Damba, não posso precisar a aldeia da origem, apesar de ser da etnia Luba. Não era segredo para ninguêm, todo mundo sabia.
MB: Falas bem kikongo e dominas o rítmo bazombo, é incrível para quem viveu todo tempo em kinshasa, onde aprendeu tudo isto?
B.Mp: O meu tio com o nome de Nkofi, era productor da música Konono e um destes grupos, o Konono de Mbuta Pierre, fazia repetições em casa onde viviamos. Foi ali onde aprendi tudo sobre a minha tradição e o rítmo da minha cultura.
M.B: Luambo Makiadi "Franco de mi amor", cantava em kikongo a vontade, porquê a nova geração de cantores bakongos congoleses evitam cantar nesta língua, como é o teu caso?
B.Mp: Obrigado pela pergunta, não significa que desprezamos a nossa língua, o kikongo. Como sabes a minha animação é feita em kikongo, mas cantar em nesta lingua materna nunca pensei. Agora já que me fizestes pergunta, no futuro vou compor uma música em kikongo.
MB: Em Angola o rítmo que está fazer sucesso é o Kuduro, que não está longe do teu rítmo.
B.Mp: Aprecio muito o kuduro angolano, que hoje é conhecido no mundo inteiro. Felicito todos Kuduristas angolanos pelo trabalho artístico realizado. No meu próximo álbum, com o título Foudre, comporta uma canção com o estilo do Kuduro.
MB: Ah...bom? cantado em português?
B.Mp: Não. Se notaste, algumas das minhas animações estão em português (depois de uma pausa, cantou em português com risos).
MB: Então falas português?
B.Mp: Não, traduzem para mim.
MB: Viajas frenquentemente para Angola?
B.Mp: Claro que sim. A primeira vêz que eu fui para Angola, foi em companhia do Pépe Kallé, em princípio dos anos noventa. Os bakongos de Luanda e os angolanos em geral me acolheram muito bem, todos queriam saber da minha vida, da música. Visitei muitos deles, é pena que não consegui honrar os convites de todos. Lembro-me no Soyo, na província do Zaire, fui recebido com euforia total, um velho veio se ajoelhar aos meus pés chorando de nostalgia, afirmou que eu era incarnação do rítmos dos nossos antepassados. Esta cena me marcou muito.
MB: Falando deste rítmo do Konono, tocado com kissange e batuque, fez sucesso na Europa, com a viagem naquele continente do konono n° 1 de Mbuta Minguiedi. Os seus espectáculos foram impressionantes, até chegou a gravar com a cantora excêntrica islandesa Björk. Isto quer dizer que Mbuta Minguidi entrou no World Music sem esforço nenhum. A música congolesa é uma música tocada ainda no guetho. Não pensas entrar no World Music?
B.Mp: Nós temos rítmo para entrar no Word Music, o son que produzimos agrada todo continente africano até nas Antílhas. O rítmo rumba é conhecido no mundo inteiro, como o Papa Wemba que toca a mesma música, é famoso na cena internacional, se muitos de nós, não somos ainda conhecidos, o que nos falta é a promoção. Nós dependemos de productores, que por sua vez vendem os nossos productos sòmente aos africanos. O nosso rítmo pertence o World Music.
MB: Quem conselho pode dar os dambianos da diáspora?
B.Mp: A minha messagem é para todos africanos que vivem na Europa: Não devemos esperar o estrangeiro para ajudar a África, pois ajudar desenvolver a sua região de origem,deve ser prioritário a todos africanos, inclusive os dambianos.
MB: Bileku Mpasi, muito obrigado.
B.Mp: Eu te agradeço, saudações a todos angolanos em geral e os Bana-Damba em particular.
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