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27 Nov

Revolta do Mbuta em São Salvador (29)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

Por René Pelisier

 

 

…” No dia 23 como tivesse sido avistado o gentio na mata do rio Coco, para ali foram feitos 3 tiros de artilharia, sendo seguidamente atravessada a mata sem incidentes; às 11,10 na mata do Senguene, foi incumbido o tenente Amaral de fazer um ataque fixante na direcção do caminho, entretendo com espaçadas descargas a atenção do inimigo, enquanto a secção de artilharia marchava apressadamente para uma colina que domina toda a mata e o pelotão Rosas torneava esta por oeste a fim de cortar a retirada ao gentio, sendo estes movimentos feitos perfeitamente a coberto das ondulações do terreno; e o pelotão Oliveira estava em situação de cortar a retirada para leste caso o inimigo por ali a tentasse e, protegido pelo pelotão Matos o comboio preparava-se para atravessar o rio a leste da mata. Subitamente a artilharia rompeu o fogo que foi certeiro e desmoralizador, enchendo de pânico os rebeldes que se puseram em fuga desordenada, não lhes sendo realmente cortada a retirada porque as granadas rebentavam muito perto da posição em que se encontrava na ocasião do primeiro tiro, o pelotão Rosas que, em face disso não pôde continuar a avançar. Continuada a marcha foram avistados às 17 alguns rebeldes no morro da Funkila que disparam sobre a guarda avançada, sendo perseguidos com muita energia pelo tenente Amaral, com uma secção.

 

No dia 24 foi executada uma pequena marcha, no decurso da qual foi incendiado pelo pelotão Lamelas um povo grande que se avistava a oeste do caminho. A coluna acampou nesse dia pelas 10,40 no alto do morro de Lukenge, sendo o resto do dia empregado no reconhecimento e estudo do terreno para o combate do dia imediato, em que tudo indicava que Buta reuniria todos os seus meios de luta, como de facto fez. À tarde foi distribuída a  todos os oficiais a ordem de combate (Doc. Nº. 12) O combate iniciado às 9,20 terminou às 14,00 pelo assalto a Batutútu, o povo de Buta, em que foram encontradas algumas casas seteiradas, tendo o povo nessa ocasião muito maior numero de cubatas que quando fora destruído da primeira vez. O relatório deste combate não se resume e por isso nos limitamos a indicar a sua leitura; aqui limito-me a dizer que os rebeldes foram asperamente castigados e que é para lamentar que movimento envolvente tivesse falhado em ambas as alas.

 

Rm2485 208

Era tal a confiança que o gentio tinha nas suas forças e nos seus ardis e emboscadas que organizara cuidadosamente que conservava no povo toda a criação que, como é sabido, oculta sempre que tem receio que lhes vai aplicar o castigo que reconhecem ter merecido. Nesse combate os bisonhos soldados de Angola, portaram-se como se portarão sempre que deles se faça soldados; estes fizeram-se em campanha e não é para estranhar que no começo das operações nenhuma confiança inspiravam; em vez de exercícios de táctica, que nunca tiveram, a sua instrução foi feita com o inimigo real, o mais real que é possível. Quando foram ao povo do Buta, pela segunda vez, tinham já a consciência do valor do seu fogo, já não desperdiçavam munições e obedeciam prontamente às vozes e aos sinais do comando; seu fogo foi certeiro, disciplinado e eficaz; a sua atitude foi esplêndida porque já conheciam os seus oficiais, os quadros de graduados, porque já eram enfim, soldados. É justo que se consagre aqui a atitude e o valor desses soldados, tão desacreditados por aqueles, especialmente, os que não tentam um único esforço para fazer deles os soldados que depois desejariam encontrar, nos momentos em que como soldados são necessários; e tenho tanto mais prazer em registar aqui as palavras, quanto é certo que na coluna se encontravam vários oficiais que serviram em Moçambique, em serviço de campanha, e que já no combate de Lunguegue me diziam que eram bons soldados aqueles que desde Fevereiro andavam recebendo em combates a sério, a instrução que deveriam ter recebido em tempo normal.

 

No morro de Lukenga, dominando perfeitamente a mata de Buta e garantindo a sua posse ficou instado um posto, cujo comando foi confiado ao tenente Amaral Fernandes que revelou bastantes qualidades para ficar à testa dum posto de tal importância, posto este que está integrado na rede geral de postos volantes necessários à ocupação eficaz do distrito.

 

No dia 2 pôs-se a coluna em marcha para S. Salvador, atravessando sem incidente os riachos de  Maza Mapombe e Senguene e chegado ao rio Coco às 15,15 onde a guarda avançada foi recebida por uma descarga do gentio ali emboscado; transcrevo do relatório desta operação o que ali se passou: “ Imediatamente o pelotão do tenente Matos que marchava na guarda avançada estendeu em atiradores sobre a direita e começou batendo a mata de montante para jusante do rio; o pelotão do alferes Lamelas com o grupo de ordenanças desenvolveu em atiradores sobre a esquerda e bateu o inimigo em sentido contrário; as duas peças colocaram-se com uma rapidez extraordinária em dois montículos que ficavam à direita e à esquerda do caminho e lançaram sobre a mata umas 4 ou 5 lanternetas; o pelotão do tenente Oliveira, comigo, avançou rapidamente sobre o rio que atravessou em poucos minutos, ocupando a margem oposta. Era tal o entusiasmo das praças indígenas que rapidamente se lançaram sobre a mata sendo difícil segurá-los. Enfim tão rapidamente tudo se passou que às 13,50 acampamos no alto fronteiro, donde se domina a mata, a fim de alcançarmos.” …

 

Continua

 

AHML                                           

 

                                                                                     Pesquisa:  Artur Mendes

 

 

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