Revolta de Mbuta em São Salvador (4)
…” Em 6 de janeiro acusava o comandante da 2ª companhia indígena e comandante militar de Maquela, capitão médico José Pinto Meira, a recepção da nota do governo do distrito em que lhe era ordenado que fizesse recolher o destacamento da Damba e comunicava que em virtude de ser dissolvida a coluna do Pombo e Sosso, pedira ao capitão mór da Damba para a esse destacamento serem agregadas mais algumas praças de modo a perfazer o total de 30, e que, para o comando dessa força nomeasse o graduado que julgasse mais competente para desempenho da delicada missão que teria de executar. É que o chefe do posto civil de S. Salvador vendo os rebeldes mais sossegados por estarem à espera da resposta do governo às suas pretensões, pedira ao comando militar de Maquela, em 31 de dezembro de 1913, que lhe mandasse uma força de 30 praças, com a qual ele tencionava, em oportunidade que se apresentasse, prender o Buta e outros responsáveis pela revolta. N’esta mesma nota comunicava ter informado o comandante de Quimbumbuge de que não podia nem conviria reforçar aquele posto nem enviar-lhe as munições requisitadas e que lhe recomendara que só se visse sem recursos “ melhor seria regressar a S. Salvador”.
Em S. Salvador havia n’essa data 9 martinis e 8 snyders, das quais uma em mau estado, mas não havia munições para as armas deste último modelo pelo que pedia para que lhe fossem enviadas
juntamente com a força. Acrescentava ter recebido, por dois indígenas que tinham vindo de Maquela, duas snyders e 190 cartuchos.
Em 14 de janeiro partia, às 14 horas, a força de 30 praças enviadas pelo capitão comandante militar de Maquela, essa força foi comandada pelo alferes Joaquim Pedro Magalhães Gama, que, de
regresso da coluna do Pombo e Sosso, se encontrava doente e em tratamento em Maquela; o mesmo sucedia com o sargento que d’essa força fazia parte. A chegada a S. Salvador teve lugar no dia 18
depois de três dias e meio de marcha forçada que é, não pela extensão mas pela rapidez, digna de figurar ao lado das mais celebradas marchas forçadas executadas em África.
Chegados a S. Salvador e conforme o solicitado pelo chefe do posto civil, procedeu o alferes Gama à apreensão de armamento e captura de indígenas suspeitos de entendimentos com Buta, e que, alem
d’isso não tinham acatado o edital que mandava que fossem entregues n’aquele posto as armas que tivesse em seu poder. O alferes Gama já encontrou em S. Salvador o sargento Virgílio e as praças
que tinham constituído a guarnição do posto de Quimbumbuge que aquele se vira forçado a abandonar por falta de víveres e munições.
Comunicava ainda o alferes Gama que parecia que a atitude do gentio se tornara mais agressiva o que era atribuído à chegada da força do seu comando e ao boato de que, em resposta às exigências
feitas na “fundação” iria ali o Governador Geral, com forças, para punir os rebeldes e, em vista daquela atitude, tinha convidado o pessoal de ambas as missões a recolher à fortaleza. A força do
seu comando não fora atacada no trajecto, porque, seguindo o conselho que lhe fora dado por D. Álvaro Tangue, fizera a marcha de Cuimba a S. Salvador em um dia, não dando assim tempo a que Buta
fosse prevenido da sua aproximação e a ataca-lo.
Ao seu relatório juntava o alferes Gama uma relação do armamento e pólvora que apreendeu em S. Salvador, figurando nelle 1026 cartuchos e 87 latas de pólvora.
Conforme vimos na primeira parte d’este relatório o capitão Baptista Cardoso marchou com parte da 20ª companhia para Noqui a fim de se dirigir para S. Salvador; o novo governador interino do
distrito marcharia com o resto da mesma companhia, logo que viesse de Cabinda, onde o tinham levado inadiáveis necessidades de serviço público.
Em 1 de fevereiro chegou a Noqui, a bordo do Salvador Correia, a 20ª companhia que em 3 partia para S. Salvador na força de 3 officiais, 5 sargentos e 102 cabos e soldados, sendo acompanhada por
um comboio de carregadores fornecidos pela circunscrição do Ambrizete; comunicava o capitão Cardoso que não lhe fora possível obter carregadores em Santo António e que dera ordem para serem
angariados 200 carregadores em Noqui, que deveriam constituir o comboio que marcharia com a coluna do governador do distrito, constituída pelo restante efectivo da 20ª companhia. Porém, logo no
dia 4, isto é, dois dias depois daquele em que o capitão Cardoso telegrafara, o administrador da circunscrição do Ambrizete, comunicava pela mesma via que não era possível completar o número de
carregadores pedido porque os POVOS do MUSSUCO se achavam sublevados, actuando já sob a influência de BUTA,
recusando-se ao pagamento de impostos e ao fornecimento de carregadores.
Continua
A. H. Militar de Lisboa
Em colaboração com Artur Méndes