Revolta de Mbuta em São Salvador (3)
À “ FUNDAÇÃO” assistiram, em 11, 800 indígenas armados e, fora da povoação tinham ficado os rebeldes das regiões Canda e Manguve; os rebeldes, pela boca de Buta, tinham exposto as suas pretensões
e exigiam que até ser dada resposta do governo não fossem soldados para S. Salvador, ameaçando de que, se tal acontecesse, atacariam de novo a povoação e tudo destruiriam; o chefe do posto civil,
receoso de que poderia suceder, pedia que não fossem mandadas forças para S. Salvador e que mandassem retirar antes de ser dada resposta do governo às pretensões dos rebeldes.
Só no dia 15 de dezembro se conheceu em Cabinda o ataque feito contra a força do comando do sargento Virgílio e a ameaça do ataque a S. Salvador e, n’essa data, o governo do distrito ordenava à
Damba e ao Bembe que para ali enviassem pelo caminho directo, respectivamente 20 e 15 praças e comunicava tudo telegraficamente ao Quartel-General, comunicando também, em harmonia com informações
anteriores, que a causa aparente da revolta era o angariamento de serviçais para S. Tomé; n’esse mesmo dia confirmava o telegrama, melhor elucidando acerca de que ocorria, sem que todavia, ao que
parece, desse ao assunto toda a importância que ele merecia. E que assim é, prova-o o facto de se depreender das ordens dadas que, e esse tempo, pensava o Ex Governador do distrito que o assunto
se poderia resolver com 35 praças, que não poderiam estar em S. Salvador, reunidas, antes de um mês, aproximadamente, e que, conforme as instruções dadas, deveriam empregar n’esse serviço,
isto é, estarem ausentes das estações de proveniência apenas cerca de seis semanas. É certo, todavia, que a essa data o governador do distrito ignorava ainda o ataque a S. Salvador. Do processo
não consta documento algum do qual de deduza que tais factos mereceram qualquer importância ao quartel general, sendo certo, todavia, que muita que merecesse não poderia providenciar, pois que
então considerava impossível dispor de um só homem, como vimos a tratar da revolta de Santo António.
Nesse mesmo dia 15 o comando militar de Maquela comunicava que, em vista da falta de resposta do comando militar da Damba à sua requisição de 20 praças, mandara seguir nesse dia uma força de 15
homens sob o comando de um 1º. Sargento, proceder a um reconhecimento para apreciar a atitude dos povos e, sendo possível, socorrer S. Salvador.
Em Maquela ficaram 14 praças, na maioria doentes. Esta força saiu de Maquela em 15 e ali regressou em 16, conforme o pedido do chefe do posto de S. Salvador, cuja nota, considerando perigosa a
ida de forças para ali, fora recebida depois da partida da força.
Em 16, uma carta particular de Matadi comunicava ao secretário da circunscrição de Noqui, que em 14 já noite, chegara a Songololo, o rei do Congo, fugido, dizendo que Buta e Futichila cercavam S.
Salvador com 4.000 indígenas armados, tendo já incendiado a povoação; a causa da revolta que era contra o rei e o chefe do posto, era o imposto de cubata e o fornecimento de serviçais para
Cabinda e Landana; todos os povoados de Madimba estavam em armas. O secretário de Noqui recebendo esta carta em 18 comunicava-a telegráfica e imediatamente ao governador do distrito, sendo o
telegrama recebido em Cabinda no dia 26, data em que o governador do distrito se encontrava em Quifuma, como vimos.
Em 23 o secretário de Noqui dirigia-se de novo telegraficamente ao Governo do distrito pedindo autorização para mandar ir a Noqui o rei do Congo para o ouvir o mais minuciosamente informar; o
governo do distrito julgou bastante mais económico que aquele rei expusesse por escrito o que se passara e que lhe fosse remetido esse relato.
No dia 25 o Governo Geral telegrafava ao Governo do Distrito dizendo “ Correm aqui boatos alarmantes sobre S. Salvador. Peço informações” ao que o Governo do Distrito respondia ter mandado em 19
extenso telegrama ao quartel general e que depois dessa data nunca mais (ilegível) … Só depois de 24 é que o Ex Governador do Congo , então em Quifuma, receberia novas e alarmantes comunicações;
de facto essas informações chegaram a Quifuma quando já ali se encontrava o Ex Governador Geral, de modo que em 31 de dezembro eram requisitados telegraficamente à administração do Ambrizete 200
carregadores para o serviço da coluna constituída por praças da 20ª companhia, que viera do sul no transporte Salvador Correia, como vimos, e para que S. Salvador deveria seguir comandada pelo
tenente da Companhia Disciplinar António José Camacho e do corpo da policia de Loanda, António José Cesar Teixeira.
No dia imediato, 1 de janeiro de 1914, era nomeado chefe dos serviços administrativos da coluna de S. Salvador, o tenente da administração militar António da Costa Alves…
Continua...
Nota: Estes episódios são transcritos do acervo do Arquivo H. Militar – muito deles manuscritos, pelo que pedimos antecipadas desculpas por alguns erros de nomes e localidades neles descritos.
Fonte: Arquivo H. Militar de Lisboa
Em colaboração com Artur Méndes