…”Em 21 parti para Matadi, onde embarquei imediatamente na canhoeira Save que ao anoitecer fundeava em Noqui, sabendo nesta localidade que ali deveria chegar no dia seguinte a Salvador Correia conduzindo a 23.ª Companhia, que, de facto encontrei em 22 no rio Zaire, tendo como missão principal naquele momento, fornecer uma escolta ao delegado do Ex.º Ministro das Colónias que seguia para S. Salvador, onde aliás não chegaria com tal escolta, tanto mais que ia municiada apenas com 100 cartuchos.
Em Noqui tinha deixado instruções para a acção da 23.ª Comp.ª enquanto durasse a minha ausência em Luanda, onde ia tratar da organização da coluna, a constituir com as 23.ª e 24.ª companhias, que deveria proceder à ocupação da região de Noqui e estabelecimento da comunicação Noqui—S. Salvador, e, bem assim, dirigir umas operações a efectuar na área da capitania do Zaire. Estas últimas operações não poderam ser executadas por falta de fornecimento do indispensável transporte fluvial; de forma por que foram executadas as instruções que deixei ao comandante da extinta 23.ª já informei em relatório especial que deu lugar a procedimento disciplinar.
Em Luanda fui informado pelo Encarregado do Governo-geral da próxima chegada à província de três companhias de Moçambique e da possível de ser uma delas empregada em operações no Congo; pouco depois, porém, estalava a guerra na Europa e surgia a necessidade e conservar no litoral as companhias que viriam de Moçambique, finalmente, a circunstância de os fornecedores de géneros alimentícios não poderem ou não querem satisfazer por completo as requisições necessárias à subsistência das forças em operações, levavam a encerrar as operações activas no Congo e a procurar alimentá-las quanto possível à custa do território o que é manifestamente impossível em deslocações de grande envergadura. A falta de recursos era tão grande que tendo requisitado cerca de 30 toneladas de géneros para enviar para as forças em operações pelo vapor Vilhena que de Luanda partiria em 7 de Agosto, só poderam ser realmente remetidas cerca de 8 toneladas.
Para as operações de Noqui o abastecimento de postos careceria ainda de cerca de 43 toneladas de víveres que não cheguei a requisitar por saber que não eram fornecidas.
Entretanto acoluna, sob o comando do Governador, depois de ter atacado e destruído o Uéne, cujo soba pretendeu apresentar-se não o fazendo por ser ameaçado por dois catequistas da missão B. M. S. o que me consta de auto declarações que foi oportunamente levantado, de que o seu povo seria atacado e destruído pelos rebeldes se tal fizesse, a coluna, repito, pôs-se em marcha em 31 de Julho, pelas 9 horas e dirigiu-se a S. Salvador pelo caminho de Zulumenge que era preciso castigar pois que fazendo causa comum com os rebeldes ainda nada havia sofrido. Em 1 a coluna penetrava na mata junto da orla oeste da mata, depois de ter destruído os cinco povos que ali existiam, o inimigo, com quem os pelotões Rosas e Lemos tiveram um pequeno combate, de que resultaram três baixas por ferimentos, dos quais um com gravidade. O inimigo fugiu sabendo-se mais tarde que tivera cinco mortos, dos quais o soba.
A coluna acampou nesse dia à vista do posto do LOLO onde chegou no dia imediato às 9,35 depois de 50 minutos de marcha e dali partiu reforçada com parte da guarnição do Lolo, sob o comando do tenente Magalhães, comandante daquele posto, para se dirigir ao Lukela onde tudo levava a crer que o inimigo se encontraria e seria aniquilado pelas disposições que o Governado ordenara para lhe cortar a retirada em absoluto, infelizmente, os rebeldes que tinham pensado dar combate ali, como se prova pelas obras de fortificação que foram encontradas, dispostas, como por forma a bater a coluna de frente e flanco, resolvera desistir do combate não sendo encontrados vestígios alguns da sua presença nos últimos dias. Em vista disto, a coluna continuou a sua marcha para S. salvador e o pelotão Magalhães regressou ao posto do Lolo. Pelo Ex.º Governador foi notada a forma inteligente e brilhante como o tenente Magalhães executou as instruções que lhe foram dadas, não só em relação à construção do posto que foi encontrar quase concluído e em condições que são para admirar dada a falta de recursos, como na parte respeitante aos trabalhos exteriores a que o posto, no rasgamento de uma larga avenida através da mata do Lolo que perdeu inteiramente o seu valor para os ardis do gentio a construção da ponte sobre o rio, como ainda na sua acção para com o gentio que tinha atacado dentro do raio de acção, tendo-lhe destruído mais de 100 cubatas, dispersas em vários povos. É de notar que todo este trabalho tinha sido feito em 16 dias. Não houve mais incidentes na marcha para S. Salvador, onde a coluna chegou em 3 de Agosto, às 16 horas, tendo feito o percurso de 67 quilómetros, menos dois que na marcha para a fronteira…”
Continua
AHM-L
Pesquisa: Artur Mendes