Revolta de Mbuta em São Salvador (2)
…” Em 5 de dezembro o chefe do posto civil de S. Salvador comunicava o ataque à força feito no dia 3 e a notícia de que Buta estava resolvido a atacar aquela povoação, pedindo que, com toda a
urgência, lhe fosse enviada força.
Em 6 de dezembro comunicava o sargento Vergílio ter requisitado ao comando de Maquela 7 a 10.000 cartuchos, porque a região estava completamente sublevada; pedia um reforço de 12 praças para com
elas “meter gentio na ordem”; acrescentava que se não fossem dadas as providências urgentes que pedia se veria forçado a abandonar o posto, o que só faria quando o seu municiamento estivesse
reduzido a 600 cartuchos de que carecia para retirada.
Em 9 de dezembro, segundo comunica o 1º. Cabo europeu Joaquim Miguel, que tinha ido de Maquela para S. Salvador para assumir o comando do posto, Buta achava-se, conforme o informara o chefe do
posto civil, na próxima povoação de Zamba, onde aquele chefe se dirigiu na manhã de 10 a fim de ir fundar, sendo forçado a regressar a S. Salvador, quando o chefe chegou à povoação, em frente da
missão portuguesa teve que refugiar-se n’esta, por que o gentio lhe fazia fogo; o cabo Miguel, vendo o incendio e ouvindo as detonações, e verificando que o chefe não chegava mandou uma força de
4 praças, comandadas pelo 2º. Cabo indígena 66 em socorro do chefe, mas esta força foi violentamente atacada pelo gentio que invadira S. Salvador e, depois de o obrigar a retirar para o que fez
algumas descargas, retirou sobre o posto que a esse tempo estava sendo tacado, do lado nascente, por cerca de 300 espingardas.
Uma coluna de tropas portuguesas em luta contra os sublevados bakongo, dirigido pelo Mbuta ( Foto de Veloso e Castro )
Foi depois de assim proceder que o gentio resolveu ir “fundar” no dia 11. Em 12 o administrador de Maquela comunicava que contava estar cercado o posto de Quimbumbuge; que o gentio reunido pretendia atacar S. Salvador; que em Maquela não havia forças; que mandara seguir 8 praças com 4.000 cartuchos para S. Salvador; finalmente que requisitara 20 praças ao comando da coluna Pombo-Sosso e que pedia procidências urgentes.
Este telegrama só foi conhecido em Cabinda no dia 26, facto que pode parecer estranho mas que não causa a mínima surpresa a quem conheça as condições de expedição de um telegrama de Maquela para
Cabinda, abrigado à transmissão por mão de portador durante um mínimo de 6 dias de viagem, para ser transmitido telegraficamente de Noqui para Santo António e d’ahi, por meio de um barco que faz
a travessia bissemanalmente, para Banana, d’onde é transportado por escoteiro para Cabinda.
Nesse mesmo dia telegrafava o administrador de Maquela que os escoteiros que conduziam a correspondência para S. Salvador tinham regressado, por terem sido atacados em Kukuge Lembelo (1) que
roubara e inutilizara a correspondência; que a força de 8 praças a que se referira no seu telegrama anterior foram forçados a retirar para o evitar o seu massacre; não se conheciam pormenores e
ignorava-se em Maquela o que sucedia em S. Salvador, esperando administrador que da Damba viessem 20 praças requisitadas para procurar comunicar com aquela povoação.
Em S. Salvador tinham-se dado entretanto os sucessos que atrás referimos; fora incendiada quase todo o bairro católico, produto de uma peregrina inépcia administrativa que consentira na sisão
absoluta dos sectários das duas religiões, que ali contam quase igual número ervorosos adeptos e crentes; fora destruído o mercado publico, tinham sido saqueados os haveres dos habitantes
católicos ou portugueses, pois que os protestantes se intitulavam ingleses e eram considerados como tais pelos indígenas, sendo o chefe do posto civil, absolutamente privado de forças pois que a
guarnição de S. Salvador se reduzia a 7 praças indígenas, sob o comando de um cabo europeu, doente e inútil, obrigado, pelas circunstâncias, a consentir em uma “fundação”, a que o gentio
comparecia armado, no dia imediato àquele em que atacara a povoação. Os atacantes eram de toda a região de S. Salvador e ainda de parte da DAMBA e do BEMBE. A “fundação”….
Continua : “ A Fundação”
Nota: Estes episódios são transcritos do acervo do Arquivo H. Militar – muito deles manuscritos, pelo que pedimos antecipadas desculpas por alguns erros de nomes e localidades neles descritos.
Texto selecionados por Artur Méndes