Revolta de Mbuta em São Salvador (14), a resistência continua na Damba e Bembe.
…” O destacamento deu entrada em S. Salvador em 2 de abril; as tropas estavam bastante depauperadas por efeitos das fadigas sofridas e pela acção dos temporais quase quotidianos a que esteve
absolutamente exposto sem dispor do mais insignificante abrigo. Não foi isto porém que deu lugar a uma interrupção nas operações activas; foi sim a falta de víveres e a necessidade de reabastecer
e remuniciar, e, pior ainda a demora havida em tais operações.
Como a acima se disse, era intenção do Ex Governador que a coluna partisse de S. Salvador, logo que ali regressasse o destacamento a Quimbubuge; a presença do vice-cônsul inglês, Bell, e, também
o inquérito a que procedia o capitão Cardoso aos actos do alferes Gama, como comandante militar de S.Salvador enquanto exercera aquele comando, demoraram a partida, que só teve lugar em 11 de
Abril.
A composição da coluna era a seguinte: 4pelotõres de infantaria a 40 praças, respectivamente comandados pelos tenentes Filipe, Teixeira e Matos e alferes Gama. I peça de 7 sob o comando do
tenente Ribeiro de Almeida, ficando em S. Salvador, gravemente doente o 1º sargento Isidoro, tendo essa guarnição um sargento e 1 cabo de infantaria e duas praças indígenas para serviço de
ambulância e chefe dos serviços administrativos. A coluna era
comandada pelo capitão Monteiro, acompanhavam-na o Ex Governador e o capitão Cardoso.
Segundo as comunicações recebidas em S. Salvador até ao da partida era o seguinte o estado da rebelião no distrito: a revolta de QUIFUMA e de QUELLO estavam no mesmo pé, sem gravidade imediata;
na área da circunscrição de NOQUI havia absoluto sossego; durava ainda a rebelião na DAMBA e no BEMBE.
Em face desta situação o objectivo da coluna era: marchar sobre o rio Luso e destruir o povo do mesmo nome, para castigar a sua atitude anterior de desfazer a impressão da retirada a que a coluna
do capitão Cardoso tinha sido obrigada; montar ali um posto que, ao tempo se suponha que completada com blackhaus sobre o rio Lunda, garantiria a comunicação Noqui – S. Salvador, guarnecendo
desde logo esse posto um pelotão; prosseguir a marcha com os três pelotões restantes até ao rio M’Pozo, destacando ali um pelotão que escoltaria todos os carregadores disponíveis, que iriam a
Noqui efectuar o reabastecimento de viveres e munições. Os dois pelotões que avançavam até o M’Pozo bateriam na direcção Sul. Toda a região entre o M’Pozo e Luso até às nascentes deste rio e
regressariam ao acampamento do Luso, marchando para ao longo da margem esquerda. O pelotão que ia a Noqui, reforçado por 150 praças requisitadas a Loanda (18º Companhia) marcharia até ao Luso
onde, reunidas todas as forças disponíveis se organizariam duas colunas ligeiras que marchariam para S. Salvador,
seguindo uma delas o itinerário Vembo-Lungueje o outra por Kiende e Cunga.
Nada disto, porem, se pôde realizar, porque, quando a coluna chegava ao acampamento no rio Zoge, chegou um escoteiro vindo de S. Salvador com correspondência urgente e por ela se soube que a
revolta alastrara em S. António, para onde tivera de ser enviada a 18ª companhia; que a região de Noqui se sublevara também e que o gentio dali, bem informado ao que se vê, tencionava ir atacar a
força que sabia pequena, que escoltaria o comboio a Noqui.
Na fixação de objectivos da coluna à partida de S. Salvador, não quisera o Exº Governador ter em atenção a absoluta falta de víveres com a mesma coluna teria a lutar, especialmente os pelotões
que tinham de aguardar o regresso do comboio; o pessoal todo estava já habituado à fome, para o pessoal indígena contava-se alimentá-lo com a mandioca das importantes lavras do Luso e o europeu
teria de recorrer à mesma alimentação, porque acima de tudo era necessário proceder com rapidez. Não contara porem com uma tal modificação na situação nem aqueles que se encontravam em S. António
e Noqui a tinham previsto apesar de estarem em bem melhores condições para a estudarem; esta mudança radical da fase dos acontecimentos não podia deixar de actuar no procedimento a adoptar.
Continua
AHM-LISBOA
Pesquisa de Artur Mendes