Revolta de Mbuta em São Salvador (1)
ÁREA DE S. SALVADOR
Certamente o chefe do posto civil de S. Salvador nunca supos que tão completamente se cumpriria ao profecia que encerrava na sua nota nº. 87 / 7 de 21 /11/1913, ao administrador de Maquela,
pedindo rápidas e enérgicas providencias para castigar e reprimir a desobediência manifesta de Buta, soba do Lavo. Afim de evitar o alastramento a outros povos”, para o que julgava necessário se
possível que tivesse então sido suficiente – um reforço para o posto Quimbubuge e outro de 20 praças para o de S. Salvador.
A extrema penúria militar, característica da província de Angola e ainda mais do distrito do Congo, agravada com desguarnecimento completo que ressoltou da infeliz ocupação do Pombo e Sosso, eram
tais que ao administrador de Maquela, dando ao governo do distrito conhecimento dos factos anormais que se passavam em Quimbumbuge, comunicava que a guarnição d’este posto bem: como o de S.
Salvador se achavam comandados por 2 cabos indígenas! E era tal a penúria que fora necessário lançar mão de um 2º. Sargento que estava em marcha para a metrópole, para ir com quatro praças tudo o
que foi possível arranjar para reforçar o posto de Quimbumbuge. E o nosso espanto, para não dizermos a nossa indignação, sobe ao ponto ao verificar-se pelo relatório desse sargento, José Augusto
Vergílio, que as praças a ele saíram de Maquela para S. Salvador desarmadas!!!
Só em S. Salvador este reforço para o posto de Quimbumbuge recebeu armamento e munições e estas mesmo quase insuficientes, como o diz no seu relatório, com a heroica simplicidade de um forte, o
comandante de quatro praças que, através de uma região já sublevada, se propõe ir reforçar um posto ameaçado. É digno de leitura esse documento em que se vê que quando o reforço entrou no posto
de Quimbumbuge o seu municiamento estava reduzido a… 23 cartuchos!
Partiu o sargento Virgílio de Maquela em 23 de novembro 1913 chegando a S. Salvador em 30, recebendo só ali armamento e munições; de S. Salvador partiu em I, perseguindo no dia 2, em que foi
atacado, na passagem do povo Lavo, de Buta, onde teve de sustentar um combate de duas horas, das 8 ás 10, recomeçando o combate; mais longe, às 11,15, verificando então que só tinha 112 cartuchos
para todas as 5 espingardas; só então pensou em evitar o combate, para o que saiu do caminho habitual, sendo n’essa ocasião morto o carregador e ferido elle próprio. Desde esse momento a força
foi constantemente perseguida até a proximidade imediata do posto, onde entrou às 3 horas da tarde e pouco depois, às 4,15, era tacado pela gente de Buta.
Felizmente havia munições em quantidade razoável no Quimbumbuge, o que o sargento Virgílio permitiu sustentar-se até aos princípios de janeiro, quando, exausto de munições e de víveres e a
conselho ou indicação do chefe dos posto civil de S. S. Salvador, abandonou o mesmo posto, retirando para S. Salvador…
Nota: Estes episódios são transcritos do acervo do Arquivo H. Militar – muito deles manuscritos, pelo que pedimos antecipadas desculpas por alguns erros de nomes e localidades neles descritos.
Continua...
Texto selecionado por Artur Méndes