Recordações da Damba.
Por Dr Camilo Afonso (Adido Cultural de Angola no Brazil))
A Damba ficou marcada por muitos portugueses que ali passaram e não só.O heroísmo patriótico da gente da Damba é bem conhecido,na história do congo português.Como o
descreve o Major Hélio Felgas,na sua obra História do Congo Português,(...)" na região de Nsangui-Mabubo foi enxuvalhado em 1909 o major Galhardo,pelo soba Namputu e sem qualquer reação da nossa
parte".Assunto de grande interesse histórico local,e que muito ficou marcado na memória da reação dos nossos antepassados.Na verdade foi um facto inédito na história da região.
A reação das forças militares portuguesas surgiu mais tarde,isto é depois de dois anos.Namputu foi raptado e levado para Luanda onde morreu numa prisão.Hoje faz parte da lista das Figuras
Históricas do nosso país.Consta da lista das figuras históricas que estão sendo valorizadas pelo Governo Angolano.
A vila da Damba após os acontecimentos do 15 de Março na região,apareceu no manual do livro de leitura da 4ª classe,como,"Damba,uma Vila graciosa do Norte de Angola".Este título tinha a ver
com a acção levada a cabo por um nacionalista,da aldeia do Nsalambongui,cujo nome ando a pesquisar junto dos nossos velhos,ao ter retirado a bandeira portuguesa do mastro.E quando se preparava
para fugir com a mesma foi mortalmente atingido,pelo antigo chefe do posto administrativo de 31 de Janeiro,de nome Baião.Se na altura serviu para exaltar os factos portugueses,contra os nossos
nacionalistas,é bem verdade,que este facto heróico deste nosso "herói" anónimo,deve fazer parte da história da nossa Ndamba.São estes e outros factos que devemos recolher para escrevermos a
história local.
Outrossim,há que ressaltar factos positivos que se passaram na Damba após a guerra de 1961.É por todos reconhecido o papel desempenhado pelos Padres Capuchinhos da Missão Católica da Damba,na
pessoa do seu Superior,Pe.Frei Camilo de Terrassa,também conhecido por Pe.FreiCamilo Peraro,ao recolher e defender na Igreja da Vila da Damba cerca de 350 famílias,que não tinha conseguido fugir
para as matas ou para o então Congo-Belga,face a intensidade dos acontecimentos na região.E mesmo sob a pressão de alguns comerciantes e governantes portugueses locais,sob manté-los vivos
até à chegada na Damba, do Batalhão de Caçadores 141.De referir, que nessa altura minha família encontrava-se refugiada na igreja.Em defesa destas populações recolhidas no interior da
igreja,perdeu a vida na varanda da mesma,o Pe.Frei Pedro João,capuchinho italiano.
Do Batalhão 141,apesar da situação crítica de guerra que se vivia na região da Damba,e da missão que tinham que cumprir o de reprimir a rebelião armada dos nacionalistas angolanos,o seu trabalho
na Damba foi marcado também pela positiva.Conseguiram estancar as atitudes criminosas dos comerciantes da vila da damba, apoiados por alguns mestiços e cipáios,queimando todas as aldeias
circunvizinhas.Estas acções nefastas levaram a grande maioria das populações do Concelho a refugiarem-se nas matas e fundamentalmente,para o ex-Congo-Belga,recém independente.Em pouco tempo
conseguiram restabeleecer o clima de paz e a recondução das populações que se encontravam nas matas próximas para junto da vila,concretamente,para o Bairro da Saúde e Quiteca,e posteriormente,no
Kinsanga.Estava assim reencontrada parte da população da Damba.No plano da acção social e saúde,fizeram apoios em viveres e medicamentos,apoiando o hospital local e o hospital da Irmãs de
Misericórdia da Damba.O facto marcante nas populações locais, na altura,foi a oferta feita à Sra HELENA TUTU,filha do nosso Velho Afonso Tutu,antigo trabalhador auxiliar do hospital do
Concelho da Damba,de uma bicicleta,adaptável à sua situação de diminuida física dos membros superiores.Hoje ele vive em Luanda e tem o seu filho primogénito como Padre,da Ordem dos Frades
Menores.
Por isso,nem tudo foi mau nesta altura.A figura do Alferes Albertino de Almeida,do batalhão em referência,marcou profundamente as populações refugiadas no Quiteca e Kinsanga,estendendo as suas
visitas até Camatambo.Enquanto,permaneceu em Angola,muitos jovens da Damba,conseguiram emprego nas instituições administrativas e públicas em Luanda com o seu apoio.
Hoje vive em Lisboa,perto do Lumiar.Foi superior hierárquico do Sr.Artur Mendes,"Soba"da Damba, que tem contribuído na recuperação dos dados históricos da Damba.Está em curso o programa das
comemorações do Jubileu do Batalhão 141,em Junho de 2011.Bem haja.
Outros factos terão seu tratamento logo que for oportuno.O que foi escrito no sentido positivo,sobre a vida da Damba,merecerá a nossa atenção.Há testemunhos bastante positivos feitos pelo
Prof.Dr.Manuel Alfredo de Morais Martins, que aos 22 anos chegou à Damba,tendo ali iniciado a sua carreira administrativa,com a categoria de Secretário,nos finais dos anos 40/50.Em conversas
com ele em Lisboa,deu-me a conhecer que tinha aprendido muito do direito costumeiro da região,junto do meu Avô,Kiala kya Natlu,tio do meu pai e grande soberano da região do
Kikosi-kya-Mabubo,bem como de outra figura da região,o soberano,Kiala-Kya Nzinga,do Kimayala-Missão,meu tio.Duas figuras muito referenciadas nos escritos dos missionários e administrativos.O
soberano Ndominguiedi Nakunzi,no Kiyanika,figura que sempre cobrou taxas aos portugueses que sempre transitaram nas suas terras até aos anos 50.
Para lá do soba Nanga,a figura do soberano Ndwalu Mbuta(Eduardo-Grande),que também contribuiu para a manutenção de um clima de coopereção respeitável entre as autoridades tradicionais da
região e as portuguesas.Isto para dizer,que até as portas da nova República Portuguesa,a região da Damba era um espaço independente.Até 1911,existiam na Damba,quatro comerciantes que ali
comercializavam os seus produtos.Os Mazandu(feiras)locais fizeram sempre parte da vida destes povos.Eram as verdadeiras instituições económicas desta região.O figurino dos mercados hoje
existentes no país,são de origem Bakongo.Isto está escrito na obra de Morais Martins,"Contactos com culturas do Congo Português".As contestações que possam surgir sobre a matéria,são
subjectivas,contra factos não há argumentos.
Feliz Natal e um Próspero,ano Novo a todos Mindamba, amigos e Naturais da Ndamba.
Mavimpi kwa yeno awonso Mpangi akwa Ndamba.