Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama
Geralmente, é a família do rapaz que se interessa pela tal rapariga e envia um símbolo para servir de PEDIDO. Nos Nyaneka, por exemplo, tanto a família do rapaz como a da rapariga entregam um
símbolo que
consiste num boi. Nos Kôngo, o símbolo é o primeiro vestido da noiva. Caso aceite, então será sempre respondido pelo outro símbolo, isto é, duas galinhas (geralmente, fêmea e macho). Este animal
simboliza o início do dia e da nova realidade. Em princípio, esta troca faz-se entre indivíduos singulares e não entre toda família. O que significa que entre dois povos que pretendem viver
juntos, a conversa inicial realiza-se entre os embaixadores ou diplomatas. Caso cheguem a um consenso, inicia-se o começo das cerimónias a fim de juntar, realmente, o povo. Deste modo, fazem
assim acreditar as palavras aqui analisadas.
Como já vimos, a família do rapaz é o primeiro a cumprir este acto. Em Kikôngo, o rapaz ou homem, que é competente para se casar, chama-se TOKO ou, mais precisamente, YAKALA (mwâna Yakala). A
rapariga, que já está pronta para ser casada, é NDuMBA (literalmente, rapariga pronta a ser pedida?). Comecemos com este simples facto. Na sociedade Bantu, para a passagem de menino (mwâna) para
rapaz (yakala) ou de menina (mwâna) para rapariga (ndûmba) é necessário um rito de passagem. No homem é a circuncisão e na mulher é a incisão ou, simplesmente, no caso dos Kôngo, uma prova da
virgindade da moça. Esta, também, era repetida no casamento. Se o homem descobrisse que a sua noiva não era virgem, resultava sempre em multas e, muitas vezes, era o caminho de «anular»
o casamento. Razão pela qual, numa certa época, a família da rapariga, era obrigada a substituir pela irmã como a segunda mulher, isto é, para não quebrar este laço, esta união. Se o marido
morrer, a sua família é obrigada a substituir o irmão ou primo uterino cassúla. Assim, o casamento é eterno, partindo do homem, aquele que casa. No caso de infertilidade, é a mesma coisa:
substituição do irmão ou primo uterino. Alguns dos Côkwe antigos pagavam dote apenas depois da morte de um dos cônjuges. Ao se apresentar na família da noiva é simplesmente obrigatório assumir a
relação integrando um símbolo. Somente depois da morte (de um dos cônjuges) é que se deve pagar o dote pela simples razão que o mesmo não pode ser devolvido. Algumas versões dizem que, no
casamento de Ruej, Cibind Irung não teria pago o dote, mas honrou a relação dando uma lança. Os seus filhos teriam pago o dote aos tios maternos.
Mas porque é que a família do rapaz é a primeira a dar o primeiro passo do casamento? Numa primeira observação, quando se fala do pedido, isso implica dois «quocientes», duas realidades em
relação ao objectivo, quer dizer, o requerente e a coisa requerida. Aqui, o homem é o requerente e a requerida é a mulher. Mas porque não o contrário? Rapariga pronta a ser pedi-da chama-se
NDOMBWA (Nyaneka) ou NDUMBA (Kôngo). E o homem pronto a casar-se é YAKALA ou TOKO (adolescente, donzel ou donzela),
isto é, somente a mulher (espaço) é pedida (ocupado) e o contrário seria anormal (espaço pedir povo).
Mas como vamos ver nos próximos capítulos deste trabalho, Bayâka eram os conquistadores das terras. Quem faz a conquista sente-se obrigado a proceder à paz, logo solicita um culto dos ancestrais
com
os espíritos locais, ou seja, fazer casamento entre os espíritos locais e os recém-chegados. Como no casamento, a mulher é valorizada numa determinada variedade de coisas a entregar ou símbolos a
que chamamos dote. Deste modo, a conquista finda e os conquistadores ou invasores, também,
entregam ofertas aos espíritos locais. é nesse sentido que o casamento arrosta nele todos os elementos da conquista de um povo por outro povo. O casamento é a dimensão precária ou inicial da
conquista ou ocupação de uma terra, como se fazia nas migrações (durante e, provavelmente, depois da fundação do Kôngo).
Extrato do livro: " As origens do Reino do Kongo " editado por:
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