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11 Mar

Os Zombos na Tradição, na Colónia e na Independência (42)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Fragmentos históricos do Uíge.

 

Por Dr José Carlos de Oliveira.


 

 

Até à chegada do Batalhão 88, estiveram em operações, na zona de Maquela do Zombo, serra da Kanda, grupos de caçadores especiais e de pára‑quedistas, para além de um corpo de polícia móvel. Repetimos, além do que adiante se relatará, que as acções em que o Batalhão 88 interveio, foram levadas a cabo nas povoações ocupadas pelos descendentes de Buta, (1916), factos esses já relatados, em pormenor, aquando da I Parte, na secção ‘Do Advento da Civilização Técnica e da Ciência Aplicada à Consequente ‘Situação Colonial’. A todas estas movimentações estavam atentos diversos comissários políticos zombo, confiantes do poder político‑religioso dos seus ancestrais, que não deixariam, (segundo a sua crença) de forma alguma, de proteger os seus filhos. É também verdade que se sentiam seguros pela sua prestação de serviços à organização da ‘Casa Nogueira’ ou melhor Nogueira e Reis Lda. René Pélissier, em La Colonie du Minotaure (1978:265), menciona que os proprietários da organização comercial referida eram donos de cerca de uma centena de filiais espalhadas pelo antigo Congo Belga e que tinham empregado Roberto Holden (futuro presidente da UPA)já se sabendo, em 1959, que o mesmo era aspirante ao título do Ntotila, sem que, para isso, deixasse de ter o consentimento do ramo da sua família Nekaka, bem como da Baptist Missionary Society e inclusivamente de Simão Gonçalves Toco, o ‘Profeta’.
 
Acima de tudo, este movimento de libertação tinha o privilégio do forte apoio de grandes grupos económicos dos EUA. Por mais paradoxal que pareça, também certos grupos económicos portugueses, com sede em Lisboa, estariam a par da generalidade dos desenvolvimentos políticos, como se verá pela descrição de René Pélissier (1978:273):
“L’ascention de Robert Holden”
“(…) Pendant tout ce temps Holden Roberto a poursuivi son initiation politique à Accra où il travaille comme traducteur au Ghanaian Bureau of African Affairs. Encadré par un entourage dont le militantisme révolutionaire est suffisamment actif pour se dispenser d’analyser les forces en présence en Angola, Roberto, qui vit sous le pseudonyme de José Gilmore, représente à lui seul l’UPA en exil hors du Congo Belge. Il obtient de Conakry de faire partie de la délégation guinéenne à la Quatorzième session des nations Unies en septembre 1959. Sorti de Léopoldville depuis un an, Robert retrouve à New York les correspondants de son oncle au sein de l’American Committee on Africa. Il est raisonnable de penser que la présence de Roberto aux Etats‑Unis ne va pas sans certaines visites dans les ministères intéressés et aux sièges des sociétés privées qui n’ont rien à voir avec l’église baptiste mais qui, en revanche, pourraient bien avoir un soudain intérêt pour les richesses minières du Nord‑Ouest de l’Angola et peu‑ètre de L’Angola tout entier. (…)”
 
 
 
 
As informações, esclarecimentos e argumentos de René Pélissier são vastíssimos e podem ser compulsados em toda a vasta literatura, que dedica à colonização portuguesa, entre outra. Todavia, um certo ‘sombreado’ passa pela importante acção do director da missão baptista de Kibokolo, David William Grenfell, em todo o processo. Por exemplo, um sobrinho e companheiro de Grenfell, J. James Grenfell (1998:257) escreve o seguinte: 
“(…) As celebrações dos Cinquenta Anos da missão da B. M. S. em Kibokolo tiveram lugar em Julho de 1949. Foi uma semana inteira de reuniões e eventos especiais, nos quais participaram mais de 2.000 membros da igreja e seus amigos. Vieram visitantes de todos os distritos das igrejas Zombo. Mais de duzentos caminharam durante cinco dias desde Quilo Futa, e mais de duzentos e cinquenta andaram dois ou três dias desde Damba, Outros viajaram desde Bembe e S. Salvador para representarem igrejas irmãs. Simão Toco trouxe o seu coro de duzentas vozes masculinas de Leopoldville (…).”
 
Precisamente, em Julho de 1949, por coincidência ou não, desce ‘O Espírito Santo’ sobre Simão Toco, mais precisamente, a 25 de Julho de 1949 e, mais uma vez, nos apoiamos (embora tenhamos outras fontes) em René Pélissier (1978:174) que, depois de se referir ao cinquentenário da BMS – Baptist Missionary Society, reconta exactamente que Simão Toco, depois de uma prece nocturna, acompanhado pelo seu coral, “(…) lui et ses fidèles sont visités par le Saint‑Esprit : glossolalie, tremblements, citations bibliques dans l’assistance, le tout suivi de prières au domicile de Toko.”
 
O que continua a ser o fio condutor deste poder político e religioso zombo, é que Simão Toco iniciou a criação da L’ASSOMIZO, em 23 de Dezembro de 1956 mas, fora da esfera da sua influência, existia a forte pressão de um zombo, muito influente – Ferdinand Ndombele ou simplesmente Dombele. A partir desta parceria, forma‑se a L’ALLIAZO, que passaria a ser o farol dos zombo, após a independência da República do Zaire.
 
Como nota final, deixamos aqui registado também um facto relevante: a firma Léo‑Motors e o seu sócio gerente Edmundo Morais Monsanto passaram a ser um forte e privilegiado apoio para a ALLIAZO, contudo não podemos desligar a ALLIAZO da UPA, porque o então português Edmundo (que se veio a naturalizar belga ‘por coincidência’) seria o padrinho do filho mais velho de Holden Roberto. Passa‑se que um camião, conduzido por José Alves Mavakala, filho de Pedro Alves Mavakala, uma autoridade muito importante da serra da Kimbumba, tinha regressado a Kibokolo de uma rápida viagem a Kinshasa, a 13 de Março de 1961, para entrega de um carregamento de feijão aos comerciantes zombo que o tal Edmundo conhecia. Assim que chegou, José Mavakala pediu para se ausentar, com urgência, à zona do Kusso pois tinha de ir visitar seu pai que, segundo notícias recebidas, estava muito doente. Se não estamos em erro, a 16 de Março, José Mavakala foi procurado e preso pela PIDE de Maquela do Zombo, em Kibokolo.

 

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