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08 Mar

Os Zombos na Tradição, na Colónia e na Independência (41)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Fragmentos históricos do Uíge.

 

Por Dr José Carlos de Oliveira.


 

 

Estava‑se a escassas três semanas da independência da futura república do Zaire, quando, por volta da meia‑noite, se chegou à vata da Kibenga, uma das mais emblemáticas kandas dos kongo, (bem assinalada nos mapas do Batalhão 88) e, após as dezasseis horas de caminho utilizadas para percorrer os quarenta e oito quilómetros que iam de Maquela do Zombo à Kibenga. Não se encontrava lá vivalma. A única coisa estranha é que à porta do mfumu a nsi e dentro do telheiro, estavam religiosamente agrupadas algumas coroas fúnebres de flores metálicas, que se colocavam antigamente nas campas (católicas).
 
A cozinha dos militares deslocados na Kibenga (Maio/Junho 1960)
 
No pelotão, iam incorporados soldados zombo, dois condutores auto que, à vista das coroas de flores, ficaram petrificados. O respeito que o sinal dos seus antepassados lhes impunha, passou despercebido à maioria dos europeus. Montou‑se o acampamento e, ao alvorecer, deu‑se pela presença de um único habitante, um pigmeu baka‑baka ou ba‑aka, reconhecido porque, em kikongo, disse ser baka‑baka. Ficou no acampamento até que se cumprisse a missão da procura do marco geodésico. Posteriormente, o comandante da coluna foi informado de que a população se tinha deslocado dois quilómetros para lá do marco, mais propriamente para a vata do Inajá em território daquela que viria ser dentro de dias, a nova República do Zaire.
 
Diga‑se de passagem que, para acompanhar nove homens dos Serviços Geográficos Cadastrais de Angola, ia um pelotão da 5ª Companhia de Caçadores Indígenas. Porém, como se tratava de uma zona de contrabando, incorporou‑se uma secção da guarda‑fiscal, mas não foi tudo, juntaram‑se dois elementos da PIDE. Não houve qualquer incidente porém, note‑se a incoerência de que os agentes da PIDE não sabiam a língua kongo (o kikongo) nem levavam intérprete (o célebre ‘língua’).
 
Entre missões de reconhecimento aos postos de fronteira, incluindo Sakandika, a leste, e Luvaka, a oeste, nada de assinalável se passou na companhia até que rebentou o 15 de Março de 1961. 
 
 
 
 
Repare‑se nas instalações do quartel: desde a acomodação dos sargentos às praças, destas às instalações do paiol e deste às camaratas dos soldados, tudo tinha mais de quarenta anos de vida e era coberto de colmo. Em Maio de 1961, os quatro militares zombo, todos condutores auto, desertaram. Estavam de sentinela e às seis horas da manhã, entregaram as armas com que tinham estado no posto. Nunca mais ninguém os viu, só se deu pela sua falta, quando tocou para a formatura do café e, à chamada, não responderam. Admitimos que, pela sua especialidade de condutores auto, foram incorporar‑se nas hostes da UPA. Estaremos recordados da primeira fotografia na Kibenga, com os condutores auto e um deles o Nzambitala com uma catana em riste. Fica‑nos a indelével impressão de que já estariam a par das movimentações da UPA. Não nos podemos esquecer que os condutores auto eram imprescindíveis nos reconhecimentos aos postos fronteiriços.
 
Esta companhia não era, de forma alguma, operacional e para seu bem, nunca fora atacada. Quando tal aconteceu, foi já a caminho da Damba, a 4 de Setembro de 1961, com viaturas requisitadas aos comerciantes. Metade das armas, feito o primeiro tiro, deixou de disparar. O cabo quarteleiro tinha entregado munições 7.9 para as armas Enfield. Deixavam, para trás e para sempre, o aquartelamento novo (entretanto construído), à companhia de comando e serviços do batalhão 88 que os foi render.
 
Facto notável para satisfação dos militares e população, em geral, aconteceu em Julho de 1961. Chegava a ‘1ª Caravana da Saudade’, constituída por uma pequena orquestra, que acompanhava artistas que se tinham oferecido respondendo a um apelo do ministério da defesa. Iam cantar para os militares e população na zona de combate, no norte de Angola. O governo português sabia que estas acções eram de extrema importância para manter elevado o moral dos militares.
 
 
 

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