Os Zombos na Tradição, na Colónia e na Independência (19)
Por Dr José Carlos de Oliveira.
Os “Últimos Filhos do Império Colonial” entre os Zombo
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O título que escolhemos, para esta secção, não pretende mais do que dar continuidade a uma série de títulos sobre o “Império”, entre os quais
podemos destacar a obra Alta Cultura Colonial do Ministério das Colónias, de 1936, com o artigo “A Tradição Colonial e Política do Império”, redigido por Agostinho de Campos
(1936:25‑46). Há ainda que mencionar os seguintes autores e obras: José Freire Antunes e a obra O Império Com Pés de Barro (1980) e Gervase Clarence‑Smith com a obra O Terceiro
Império Português (1825/1975), edição de 1985. No entanto, provavelmente, a ninguém terá ocorrido ainda que, os impérios coloniais modernos tivessem forçosamente de terminar com os “Últimos
Filhos”. Baseados neste fio condutor, suficientemente forte, escolhemos então o título desta secção. Como apontamento curioso extraímos da obra citada de José Freire Antunes (1980:67) as
seguintes palavras:
“(…) Era, pois com sólida lógica, que a candidatura presidencial de Norton de Matos se propunha, em 1949, «consolidar a unidade nacional»,
como dever prioritário da República nova. Isto porque, explicitava‑se, a Nação era «uma só», e formada pelos territórios situados na Europa e pelas províncias de além‑mar, que assim lhes chamaram
«os nossos maiores». A candidatura era subscrita por 147 comerciantes, e apoiada numa frente política que ía até ao partido comunista (…).”
Mais à frente, na página setenta e dois, refere as sérias preocupações dos estudiosos da política ultramarina e dos compatriotas que labutavam
em Angola, Moçambique e na Guiné:
“(…) Exemplifique‑se com a proclamação da CDE de Braga em 1969, onde se defendia que a única razão válida para continuar a guerra era a
defesa do meio milhão de portugueses que viviam em Angola, em Moçambique e na Guiné.
Esse é um problema autêntico, um problema real. Não é possível abandonar à sorte esses portugueses, porque a sua repatriação, adaptação e
colocação na metrópole provocariam problemas de extrema gravidade e praticamente insolúveis. Não é possível abandonar à sorte esses portugueses, porque eles têm um papel histórico a desempenhar
no futuro da Guiné, de Angola e de Moçambique: a perpetuação, ali, dos valores morais e culturais lusíadas.» Chama‑se a isto ver longe, certo, mas sem remédio (…).”
Embora o nosso estudo tenha por base os zombo, pareceu‑nos pertinente esta introdução, uma vez que a sua abrangência nos permite enquadrar
também o outro autor supra citado – Gervase Clarence‑Smith (1985:202):
“(…) Uma das ironias da historiografia do terceiro império, é que os que consideravam a sua criação como um rotundo fracasso económico,
achavam que Portugal era incapaz de descolonizar dada a sua dependência económica das colónias (…).”
Um pouco adiante, na mesma página, o autor formula a ideia que Portugal poderia ter feito a descolonização, em 1961, em vez de, em
1975:
“(…) É discutível que Portugal tivesse exercido uma influência de tipo mais neo‑colonialista sobre as suas possessões ultramarinas, no
caso de a descolonização ter sido feita em 1961 e não em 1975. Os colonos não teriam partido tão precipitadamente e as propriedades dos oligopólios não teriam provavelmente sido nacionalizados
(…).”
Na altura em que Clarence‑Smith escreveu estas palavras estava ainda muita água por correr por debaixo das pontes. Uma coisa é certa, Portugal
não teve e não tem a mesma envergadura, por motivos óbvios, (bastam os demográficos, os económicos e financeiros para marcar a distância) que a Espanha, nem a França e muito menos a Inglaterra,
para ter sido capaz de suportar a pressão internacional sobre os seus interesses políticos e económicos, em África. Se vestirmos o papel de leitores atentos quanto às questões da África
Subsaariana, veremos a permanente e perigosa turbulência em que se encontram hoje as suas populações, as minorias étnicas, especialmente a branca, por continuar a ser aquela que, em alguns casos,
continua a ser a mais forte em termos económicos e financeiros. Por isso, frequentemente, parte das populações dessas colónias de emigrantes europeus, ainda prósperas, vêm‑se obrigadas a partir.
Um dos últimos casos tem sido o dos fazendeiros do Zimbabwe, (2005‑2007) especialmente, os detentores de grandes quintas de tabaco.
Quando nos deparamos com o título do romance de Pepetela A Geração da Utopia (1992), pensamos que um título similar
àquele não ficaria nada mal para subtítulo da presente secção. Teria sido muito fácil seguir o fio condutor dadas as similitudes do discurso, mas não, o seu a seu dono. Seria fácil, em vez de,
chamá‑lo os Últimos Filhos do Império, intitulá‑lo‑íamos sim “A Utopia dos Últimos Filhos do Império Colonial”, senão vejamos o que está escrito na contra capa daquela
obra:
“(…) A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos Angolanos a quem ficou a dever‑se a epopeia das lutas pela independência e da guerra
civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de
tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um país novo (…)”.
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A fotografia acima faz parte do acervo particular do autor. Quando revemos, com alguma assiduidade, fotografias que entram no nosso imaginário
emocional, vamos sempre encontrando pormenores que pensamos serem passíveis de crítica de que a presente fotografia é um exemplo paradigmático. Porém, ela representa assim, a colonização
portuguesa, em Luanda, no dia 15 de Agosto de 1948.
Com a colaboração de Associação dos Bazombos "Akwa Zombo, AKZ"