Os nomes africanos são identidades sócio-culturais
Por Camilo Afonso Nanizawu Nsaovinga (*)
Aqui coloca-se uma questão de Identidade Cultural. Trata-se de saber das suas origens socio-culturais.
Em Kikongo, trata-se de Lusansu, Kinkulu, Ki-muntu. Ou melhor, quando alguém lhe pergunta, sobretudo, os nossos Mais- Velhos,"Nge nani?". A primeira preocupação nos dias de hoje, é dizer o seu nome, e ponto final. É incorrecto. O que em português é,! Quem és tu?". Existe uma diferença muito grande, entre as duas formas de se identificar alguém.
No caso concreto de nós africanos em geral e de angolanos em particular e, sem querer particularizar os Bakongo, "Nge Nani"? Tem a ver consigo, suas linhagens familiares, materna, paterna, avós, o espaço geográfico do seu nascimento e dos seus parentes mais directos e colaterais. Não importa agora nos alongarmos sobre o assunto o que levaria muito tempo a ser explicado.
Por outro lado, tem a ver com a primeira presença portuguesa no Kongo, onde as interferências culturais europeias se fizeram sentir logo no início, através da evangelização - baptismos, e da adopção de nomes portugueses. Dom João, Ndozuawu; D. Abel -Ndombele; D. Maria- Madya; D. Pedro-Ndompetelo. São pequenos exemplos para que se possa reflectir sobre o que demais aconteceu neste período e seguintes.
O que se pode dizer agora em tempos modernos, sobre a cidadania. Qual é a
sua cidadania? Finaliizar-vos com o escrito pelo Prof. J. Zerbo, sobre o assunto em questão: " Em toda a África, a referência à grande família, à aldeia, ao bairro, ao cantão, conta muito. Quando
um africano pergunta alguém: " Quem és tu?", quer saber a que grupo pertence, donde vem, qual é a sua identidade colectiva e social e, por essa via, como deve tratá-lo. Quando os Mossi dizem
buudu, isso significa a " origem", a "extracção". É a referência do ponto de vista socio-cultural". A questão dos nomes tem este fundamento. Ele é dado dentro de um contexto próprio, da vida da
família ou das famílias. Mfulumpingani, o quer quer dizer, a cama de sucessão. Ou ainda, segundo a interpretação de cada um, é o que me aconteceu a mim pode acontecer a outrém. Para podermos ser
mais cpmpreensivos para aqueles que pouco domínio têm da sua realidade socio-cultural.
Na realidade o debate ainda não conheceu o seu termino, mas, é preciso
ter também em conta que os nomes dados à nascença, não são os que muitos passaram a ter depois de terem passado pelos ritos de iniciação denomidos de Longo (na imagem). Muitos destes nomes são
intraduzíveis, porque fazem parte do" código secreto" do iniciado. E
como resolver? Há nomes que se repetiram em função do culto aos antepassados, sobretudo, daqueles que em vida foram exemplares, merecedores de um digno tratamento no seio das suas linhagens (Nkwa
mavangu ma mbote ye lendo), e como forma de os prepetuar, os seus nomes foram passando de geração em geração. É preciso não esquecer que o Culto aos Antepassados é uma realidade socio-cultural
Bantu. Por exemplo, na Ndamba tivemos e temos muitos Kituma, como se explica isto na sua família. Quais as razões?
Claro, como o afirmei noutra passagem, trata-se de uma
questão de Identidade Cultural, o que hoje se designa em áfrica da retoma dos nossos conhecimentos endógenos, que foram silenciados após a presença europeia no continente africano. Aqui se coloca
o cerne da questão colocada pelo Kupessa.
Mais uma vez como dizia o Prof. Ki-Zerbo, "Se nos deitarmos, morremos!".
Os nossos Velhos também nos ensinaram: " Ndyanga vià, ndyanga savuka", "Lwenda mo yendingi lwazaya ma mena mo!". São dentre outros, estes saberes proverbiais que nos mantêm presentes e que são a continuidade de todo um conjunto da nossa idiossincrasia. Este é o despertar para a busca dos nossos valores ético-morais. Não se está a dever nada a ninguém.
Fonte: Grupo ANADAMBA/Facebook
(*) Director da Casa de Cultura de Angola no Salvador de Bahia, Brasil. Historiador e Docente universitário. É mundamba do Kinkosi e antigo professor da Escola primária da Missâo Católica da Damba.