Por Dr José Carlos de Oliveira
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Fotografia nº 1 - Dois pigmeus Bambutu, Azimbambuli e Abumbuku 1
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Povos como os vedda do sul da península indiana e de Ceilão, os bushmen, os negritos das ilhas Andaman, os negritos das Filipinas ou Acta, os negritos de Malaca ou Senang, entre outros, são confundidos frequentemente com os “pigmeus”, porém, a estatura por si só não é uma característica que determine a pertença ao grupo. Desta forma, o termo “pigmeu” causa inúmeros equívocos.
Aplicaremos esta designação referindo-nos apenas aos pigmeus de África. Os pigmeus, apelidados por negrilhos (o que é também impreciso) localizam-se geograficamente na floresta equatorial, em territórios compreendidos entre as florestas do Gabão ao Reino do Ruanda e do Burundi, especificando de outra forma, entre as latitudes 4º ou 5º Norte e 5º Sul, que vão da região dos grandes lagos até aos Camarões e Gabão. Consoante as populações com que contactam, recebem nomes diversificados.
1 Johnston, Harry (1908) George Grenfell and the Congo. Hutchinson and Co. Londres. II volumes, p. 332.
Deverá acentuar-se que os dados mais credíveis sobre estas populações começam nos últimos vinte e cinco anos do século XIX, quando as expedições científicas exerceram
ali a sua acção. Os portugueses não têm grandes responsabilidades no assunto, uma vez que os pigmeus têm a sua implantação na grande bacia do Rio Zaire e nas zonas de mais difícil acesso. Essas
responsabilidades cabem especialmente aos exploradores, missionários e sertanejos franceses, pelo lado do Congo e pelo Gabão; pelo lado dos Camarões, aos alemães; aos belgas, pelo lado do Congo
ex-belga e, duma forma geral, à grande potência colonizadora que foi a Inglaterra.
Finalizada a recolha e análise de dados disponíveis em documentação, recolhida ao longo de 25 anos, a pesquisa bibliográfica foi-se avolumando, foram e são consultadas obras seleccionadas de acordo com o tratamento do tema. Preocupamo-nos em utilizar conceitos e terminologias referentes de sobremaneira a conceitos ecológicos, biológicos, psicológicos, antropológicos e económicos, visando uma leitura interpretativa e complementar, bem como a lições desenvolvidas na cadeira de Ecossistemas enquadrada no curso de mestrado, em Estudos Africanos. De salientar, são os dados colhidos em alguns trabalhos de campo de reputação internacional incontestável, em especial a obra de Harry Johnston - George Grenfell and the Congo - que trata os primeiros dados científicos,2. Johnston, autor supra-referido, ocupa-se da descrição vivencial do missionário e geógrafo George Grenfell e do seu estudo sistemático do ecossistema da bacia do Zaire.
Outro trabalho de campo e, já do nosso tempo (embora diferente em muitos aspectos do primeiro), é o de um inquérito sobre os pigmeus da República Popular do Congo, da autoria de M. L. Demesse, apresentada ao seminário de G. Balandier (1971/72), no Centro de Estudos Africanos, da Escola Prática de Altos Estudos, da Sorbonne. Poderíamos acrescentar outros e valiosos contributos, mas pensamos estar o essencial mencionado.
3 Johnston, Harry (1908) George Grenfell and the Congo. Hutchinson & Co. Londres, p. 1
1) O ‘Ecossistema’ como conjunto estruturado de elementos vivos e não vivos, interrelacionados, isto é, que se condicionam e são condicionados uns pelos outros.