KÔNGO - DYA - MPÂNGALA (1)
Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama
Esta província se localizaria na parte de Angola que fica entre as regiões ao Norte do Kwânza até possivelmente mais além do rio Kunene. É possível que nos finais do século XV, aquando da entrada do reino do Kôngo na literatura europeia, esta parte tenha sido reduzida ou, ainda, repartida naturalmente em “kinkâyi” dispersos, com as consequentes influências do desmembramento territorial, sem no entanto perder o embrionário sentido social e político, tal como ficou patente nos séculos XVI com os Jagas, século XVII com Nzîng’a Mbande e século XVIII com os Imbângala. Eis porque as lendas das origens ainda dão importância à mesma lógica da criação do reino do Kôngo, tal como já o mostramos.
Ponto controverso é a nossa tentativa de localizar no Sul a origem primordial das populações que irão fundar o reino do Kôngo, sobretudo porque a produção científica sobre o assunto não parece bastante e consistente. Contudo, as informações reunidas por Hermenegildo Capello e Roberto Ivens na interes-
sante viagem de exploração antropológica que empreenderam ao sul de Angola, nos meados e fim do século XIX, são interessantes e bastante encorajadoras para a tarefa que nos assiste. um certo esforço investigativo ainda será necessário nestes tempos para que se reuna dados que possam ser comparados e confrontar as
informações dessa e outras fontes possíveis. Contudo, mesmo em face de tais limitações circunstanciais, podemos aqui abordar com atenção especial esse território meridional angolano, que se chamaria Mbângala, ou Kôngo dya Mbãngala, para reconstruir a sua população e distribui-la ao seu espaço.
Com efeito, comecemos por analisar a seguinte citação de H. baumann:
Todo o Sul-Angola estaria ligado com Oeste, inclusive os Ambos estabelecidos no Sudeste africano; encontramos os (Ovi-)Mboundo, os (A)Mboundous e os Ngangela- Mbouela-Mboundas ao Sul-Este de Angola e os Tchokwe, Luena, Louimbi-Songo-Mbangala ao Nordeste da mesma província”. “O grupo Ambo, inclusive os Ndonga, o Houmbé, os Hânda e os Ndombe, marca a transição entre os Hereros e os Mboundous tanto linguisticamente quer de ponto de vista da civilização.
Vamos agora tentar organizar essa balbúrdia de “topónimos” e informações, visando nosso intento. Os Ambos (Ambundu, bambundu), os Mbunda, os Ndundu e mesmo os Humbe (Wûmbu ou Hûmbu), seriam os diferentes habitantes de Mpûmbu de Kôngo-dya-Mpângala. “Os bambûnda se chamam a eles próprios Ambunu”, escreveu Torday, que aqui seriam as “raças” do Mpûmbu de bandûndu ou Kôngo-dya-Mulaza. Os Padres Luca e Marcellino, dois missionários do século XVII, designam- os Mubûmbi, uma designação que J. Cuvelier e F. bonctinck identificam com bawûmbu. Mubûmbi – que deriva do verbo
bûmba (agarrar, apossar-se, assenhorar-se) – é um sinónimo incontestável de mubûndi ou mumbûnda. À rigor, as tribos de Ngangela (sic), Mbwêla e Ndôngo, por exemplo, só podem ser encontrados, seguindo a semântica, num Mbâmba (no caso da primeira), num Mpêmba (a segunda) e num Nsûndi (a terceira).
Do Sul ao Norte, em harmonia com o princípio da emigração, começa-se no Mpûmbu austral (do Kôngo-dya-Mpângala) passando por todo Mpûmbu que incluia, no sentido Este-Oeste, os territórios de Mpûmbu, Ndôngo e lulômbe. O resto deste Mbâmba seria constituído da seguinte maneira:
a) MBÂMBA = colectividades de locais (bairros) de Mbânda e de Mbâmba; a leste, aquelas de Mpângala (Ngangela) e de Ngânda (Hânda); Assim António Cadornega escreve: “…o capitão mor Lopo
Soares laço fazendo aquella conquista do reino de benguela, muitas jornadas pello sertão dentro, chegará a este caudalozo rio Cuneni, e que outra banda delle tinha suas terras e senhorio hum rei ou apontentado por nome Mazumbo a Calunga”. Este seria o espaço fronteiriço setentrional de Mbâmba de Mbângala
(benguela): Mazûmbu ou Mayûmbu’a Kalûnga seria o Mpûmbu de Mbâmba Kalûnga.
b) MPÊMBA, terá sido formado pelos bairros de Mpêmba e de Ndêmbo a Oeste – circunscrições que Pigafetta chamou respectivamente de Tshimpemba e Malêmba – e por Mbwêla102 e Kwîmba (lwîmbi), a leste. Esta zona deveria, de igual modo, ser a parte dos Yaka do Sul do Kunene, sbre a qual falou António Cavazzi, citado também por Planquaert. Aliás, Mesquitela lima publicou as suas investigações sobre esses Kyaka em obra de três volumes.
c) NSÛNDI, que dependiam dos bairros de Mpûmbu e lulômbe a Oeste; de Matâmba e de Mbêmbe, duas circunscrições que Cavazzi
situa ao Sul de bengale (Mbângala), na direcção de Oriente.
Extrato do livro: