Homilia de Dom Emílio Sumbelelo – Bispo do Uíje
Dom Emílio Sumbelelo
Missa de ordenação Episcopal de Dom Luzizila Kiala
Homília de Dom Emílio Sumbelelo
"Aqui nos reunimos, sob a invocação do Espírito Santo, para a Ordenação Episcopal do Pe. Luzizila Kiala, nomeado pelo Santo Padre, o Papa Francisco, para a Diocese do Sumbe. É motivo de alegria
para a Diocese do Uíje – mesmo com a penúria de sacerdotes – pôde oferecer um dos seus filhos, que procurou seguir as pegadas de Jesus Cristo, fazendo o bem e bem todas as actividades que lhe
confiamos. É motivo de júbilo para os seus familiares e para os fiéis da Diocese de Sumbe aqui presentes com muitos dos seus sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, que no dia 08 de Setembro
o acolherão como o 3º Bispo daquela Igreja particular, cantando com o salmista: «Bendito o que vem em nome do Senhor!».
Neste momento singular e especial para a Igreja Católica em Angola, saúdo cordialmente Sua Excelência Reverendíssima Sr. Dom Gabriel Mbilingi, Arcebispo de Lubango e Presidente da CEAST, Suas
Excelências Reverendíssimas Senhores Arcebispos e Bispos da CEAST, a Sua Excelência Reverendíssima Dom Fedele N’sielele, Bispo de Kisantu, RDC, os sacerdotes, religiosos e religiosas; saudação
especial ao Monsenhor Gildardo Marín Acevedo, Encarregado de Negócios da Nunciatura Apostólica.
Saúdo afectuosamente Sua Excelência Sr. Dr. Paulo Pombolo, Governador da Província do Uíje; saúdo igualmente os Membros do Governo Central, os Membros dos Governos Provinciais do Uíje e do Kwanza
Sul, as demais Autoridades Militares, Policiais e Civis presentes na celebração. Particular saudação aos Parentes do nosso Dom Luzizila Kiala, em nome da Igreja a nossa gratidão por esta dádiva
que fazem à Igreja de Cristo. A todos os fiéis aqui presentes, vindos de longe e de perto, a minha cordial saudação!
1. Meus irmãos e minhas irmãs, conforme os Evangelhos sinópticos, Nosso Senhor Jesus Cristo, dentre os seus discípulos, escolheu doze homens e os chamou Apóstolos. Com estes, formou um colégio,
um grupo estável, que tinha Pedro como chefe, como cabeça. Antes de sua ascensão, Jesus, com sua autoridade e poder, enviou-os para prolongar, no espaço e no tempo – até ao fim dos séculos -, a
sua missão: «Foi-me dado todo o poder no céu e na terra», disse-lhes Jesus: «Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a
observar tudo quanto vos tenho mandado. E Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo» (Mt 28, 18-20). Em razão do mandato de Jesus, os Apóstolos tiveram o cuidado de constituir Sucessores,
para que, como atesta Santo Ireneu, a Tradição Apostólica fosse manifestada e guardada ao longo dos séculos. A especial efusão do Espírito Santo, de que foram repletos os Apóstolos, pelo Senhor
Ressuscitado, foi comunicada por eles, por meio do gesto da “imposição das mãos”, aos seus colaboradores. Estes, por sua vez, transmitiram-na com o mesmo gesto a outros, e estes, sucessivamente,
a outros mais, sem ser jamais interrompido o elo dessa corrente apostólica. É o gesto, queridos irmãos e irmãs, que nós Arcebispos e Bispos vamos repetir daqui a pouco, e por meio do qual,
juntamente com a “Oração da Ordenação Episcopal” que vamos proferir, será conferida a Dom Kiala a plenitude do Sacramento da Ordem. Será ele, assim, constituído membro do Colégio Episcopal,
sucessor dos Apóstolos, cuja cabeça é o sucessor de Pedro, actualmente o Papa Francisco, que preside na unidade e na caridade a Igreja de Cristo, «que no Credo confessamos ser una, santa,
católica e apostólica; que depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo 21, 17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo
(cfr. Mt 28,18ss.), e erigindo-a para sempre em “coluna e fundamento da verdade” (1 Tim 3, 5)».
2. Ao Bispo é confiada a tríplice função na Igreja: a primeira e mais importante delas é a de “Servidor da Palavra de Deus”. Essa missão é simbolizada pelo “Livro dos Evangelhos” que será
colocado aberto sobre a cabeça do Bispo ordenando. A segunda missão é a de “Santificador”, pela administração dos Sacramentos. A terceira é a de “Servidor do Povo de Deus”, que deve ser exercida,
conforme o coração de Cristo, o Bom Pastor: com caridade, conhecimento do Rebanho e solicitude com todos, em particular com os pobres, na defesa corajosa da vida e da dignidade humana; na
promoção do diálogo ecuménico e inter-religioso; na busca das ovelhas perdidas para reconduzi-las ao único redil, que é a Igreja. a unção do Espírito Santo faz do Bispo um Apóstolo, um Enviado,
na pessoa do qual «está presente o próprio Cristo no meio dos fiéis, para santificar, ensinar e governar o povo de Deus» (LG 21). A imposição das mãos dos Arcebispos e Bispos presentes sublinhará
a origem divina da eleição, da investidura, do carisma, agregando ao Colégio Apostólico o nosso irmão Luzizila Kiala. A unção sublinha a comunicação do Espírito Santo, a força, a graça, o poder
de Deus. E a propósito escreve São João Crisóstomo: «A ordenação é isso: a mão do homem se estende, mas é Deus quem toca a cabeça daquele que é ordenado, é Deus quem realiza tudo» (in Ac. Apost-
III, Hom. 14,3). Esta é a fé convicta da Igreja, Una Santa, Católica e Apostólica, à qual o nosso irmão Kiala tem a graça de pertencer, e ama de coração, abraçando-a neste momento na sua querida
Igreja de Sumbe.
Exige-se a consagração não só para conferir responsabilidade jurídica e pública ao consagrado. A consagração expropria a pessoa de si mesma, para que nela possa agir Aquele que o consagrado passa
a representar: Cristo – Servo, Mestre e Pastor. Assim, quando o Bispo ensina, ao mesmo tempo santifica e governa o Povo de Deus; enquanto santifica, também ensina e governa; quando governa,
ensina e santifica. Esta é a ascese do Bispo: dedicar-se, na caridade pastoral episcopal, a todos os combates e a todos os zelos do apostolado, até dar a própria vida se for necessário, “em nome
de Jesus Cristo”.
3. Caríssimos irmãos e irmãs, unida à ordenação do Bispo está também a entrega das “insígnias pontificais”: o anel, a mitra e o báculo. Creio ser oportuna e necessária uma palavrinha a propósito,
sobretudo nestes últimos tempos em que se usam os nomes, termos, símbolos e instituições próprios da Igreja Católica, por outras denominações religiosas distintas e às vezes criando equívocos e
confusões entre os nossos fiéis católicos.
As insígnias pontificais, meus irmãos e irmãs, foram instituídas pela Igreja Católica, no decorrer dos séculos, a fim de tornar mais claro aos fiéis a sagrada dignidade dos Bispos, enquanto
representantes do próprio Cristo e sucessores dos Apóstolos. E, por isso mesmo, a entrega do anel, da mitra e do báculo foram inseridos dentro do rito da ordenação, com fórmulas e orações que
exprimem as tarefas pastorais do novo Bispo para com a Igreja a ele confiada. São próprias da Igreja Católica! Ipso iure deveriam ser usados só pelos católicos.
Para além deste sentido pastoral, está também um outro sentido mais profundo e espiritual: as insígnias pontificais manifestam a dignidade e o poder do Bispo, como pastor e mestre das suas
ovelhas, que deve guiar e nutrir como “sumo sacerdote da sua grei, do qual deriva e depende em certa medida a vida dos seus fiéis em Cristo” (cfr. Inst. Pontificalia Insignia, 75).
4. Caro Dom Kiala, na vida de Santo Agostinho lê-se que, depois do seu baptismo, tinha decidido regressar à África e aí, com os seus amigos, fundou um pequeno mosteiro. A sua vida seria
totalmente dedicada ao colóquio com Deus, à contemplação e à meditação da beleza e da verdade da Palavra de Deus. Assim passou 3 anos felizes nos quais julgava ter alcançado a realização da sua
vida. Porém, num domingo em que participava na celebração da missa na Catedral de Hipona, o Bispo Valério, com o aplauso do povo, chamou-o para ser sacerdote. Agostinho compreendeu então que o
belo sonho da sua vida contemplativa tinha acabado, que a sua vida mudava totalmente. Mas compreendeu também que precisamente perdendo a sua vida, dando-se a si mesmo por Cristo e pela sua
Igreja, encontraria a verdadeira Vida para a qual levaria os outros. Foi assim, na partilha humilde da vida quotidiana dos seus cristãos que se tornou o grande mestre, o grande doutor da Igreja,
capaz de ensinar uma fé encarnada no seu tempo. Estou certo, Dom Kiala, que algo de semelhante aconteceu a ti quando chegou o chamamento do Santo Padre para seres o Bispo da Diocese do Sumbe e
entrares num novo tipo de vida pastoral. Meu irmão, tal como o Povo de Deus que acorreu à Catedral de Hipona para dar coragem a Agostinho, assim também hoje o santo Povo de Deus acorreu em
multidão a este lugar para te dar ânimo, participando na celebração do dom da tua ordenação episcopal. Aqui estão também os teus irmãos no Episcopado que se sentem particularmente próximos de ti
no comum destino da graça e do ministério, para implorar sobre ti a graça sacramental do Episcopado. 3 características deverão nortear sempre o teu ministério de Bispo. A primeira característica,
que o Senhor exige do seu servo, é a fidelidade. Foi-te confiado um grande bem, que não te pertence. Pois, a Igreja não é a nossa Igreja, é de Jesus Cristo, a Igreja é de Deus. O servo deve
prestar contas do modo como administrou o bem que lhe foi confiado. Não vinculemos os homens a nós; não procuremos o poder, o prestígio e a estima para nós mesmos. Conduzamos os homens para Jesus
Cristo, para o Deus vivo.
A fidelidade do servo de Jesus Cristo consiste também no facto de que ele não procura adaptar a fé às modas do tempo. Somente Cristo tem Palavra de vida eterna, e é esta Palavra que tens de levar
ao povo de Deus, anunciando-a oportuna e inoportunamente.
A segunda característica, que Jesus requer do seu servo, é a prudência. Segundo a tradição filosófica grega, prudência é a primeira das virtudes cardeais; indica o primado da verdade, que
mediante a “prudência” se torna critério do agir humano. A prudência é a virtude mais necessária à vida humana, pois viver bem consiste em agir bem. Ora, para agir bem é preciso não só fazer
alguma coisa, mas fazê-lo também do modo certo, ou seja, por uma escolha correcta e não por impulso ou paixão. A prudência exige a razão humilde, disciplinada e vigilante, que não se deixa
obcecar por preconceitos; não julga segundo desejos e paixões, mas procura a verdade; e às vezes, a verdade incomoda e acarreta perseguições. Prudência significa procurar a verdade e agir em
conformidade com ela. O servo prudente, é antes de tudo, um homem de verdade e um homem de razão sincera. Sê prudente!
A terceira característica do servo é a bondade. Bom, em sentido pleno, é só Deus. Ele é Bem, o Bom por excelência, a Bondade em Pessoa. A nossa bondade pressupõe sobretudo uma comunhão viva e
permanente com Deus, o Bom; exige uma crescente união interior com Ele. Tornar-nos-emos servos bons mediante a nossa relação viva com Jesus Cristo. Só se a nossa vida se desenvolver no diálogo
com Ele, só se o Seu agir, as Suas características penetrarem em nós e nos plasmarem, nos tornaremos servos verdadeiramente bons. Imita a Jesus, que na sua bondade te vai agregar daqui há pouco
ao ministério Episcopal!
Que Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa Mãe, te cubra com o seu manto protector, que Ela continue a ser para ti um amparo durante o teu ministério episcopal, e te ensine também
amparar os homens e as mulheres, de modo particular as famílias, que cruzarem o teu caminho. Assim seja!"
Uíje, 25 de Agosto de 2013
+ Emílio Sumbelelo
Bispo do Uíge