História da Damba- Episódios Soltos (4)
Por René Pelissier
ENDURECIMENTO DA RESISTÊNCIA
- Região de Bembe (1912)
Em Junho de 1912, certas sanzalas das regiões de Pemba e de Quivoenga (a sueste de Bembe, nas cercanias do actual Songo) entraram em franca dissidência: recusaram-se a pagar imposto. Algumas
chegariam até a atacar a fortaleza de Bembe – facto que, parece, se não verificava desde 1860. O que ainda mais extraordinário seria, necessitando embora de se provar é que a missão baptista de
Mabaia, fundada em 1905 a sueste de Bembe, teria estado ameaçada. Estes acontecimentos, conhecidos – muitíssimo mal – através apenas de duas fontes publicadas, provocaram o envio de uma coluna a
Bembe, sob o comando do tenente-coronel Ferreira dos Santos. Derrotou os Pembas e depois virou-se contra os Quivoengas, que venceu, para depois instalar a 22 de Outubro de 1912 o posto Norton de
Matos. Atribuímos a esta resistência, esmagada, uma duração de cinco meses (Junho-Outubro de 1912).
Derrota portuguesa no Pombo (1913)
Ainda em 1912, mas sem que possamos dar a data certa, os comerciantes europeus da região do Pombo, aleste da Damba, que fora ocupada em 1911, foram convidados a retirar antes que interviesse a
ocupação militar. Numa data não especificada, mas talvez de Julho a Setembro de 1913, ou no Outono, durante três meses, a penetração portuguesa para leste da Damba deparou com uma resistência que
desmentia a reputação militar dos Bakongo. Depois de armazenar 200 toneladas de pólvora e 10.000 espingardas entre os anos de 1911 e 1913, os Sossos bateram-se tão bem no Pombo que conseguiram
matar o capitão Praça e um sargento. Desde 1859 nenhum capitão português conhecia no Noroeste angolano a sorte do capitão Militão de Gusmão. É lamentável que não tenhamos melhores informes sobre
as condições em que se verificou esta derrota, mas podemos considerá-la de capital importância, atendendo a que o Governador-Geral Norton de Matos cita o “desastre da coluna do Pombo e Sosso”
entre as causas da grande revolta que iria devastar o Congo durante anos.
A GRANDE REVOLTA (1913-1915)
O Kongo registaria em 1913 é uma revolta prolongada e quase geral na maior parte das zonas do distrito que estavam realmente ocupadas. Mas ela é talvez de todas as revoltas que marcaram o
princípio do século XX angolano, a que está menos estudada. Embora sabendo aproximadamente como ela começou, o seu decurso escapa-nos em parte; e o desfecho é ainda misterioso. Nunca lamentaremos
tanto a actual impossibilidade de consultar todos os arquivos indispensáveis – consulta que nos permitiria conhecer mais satisfatoriamente esse grande movimento de oposição, que não teve
equivalente em Angola até 1961.
Os Portugueses procuraram, mais uma vez, bodes expiatórios para sobre eles lançar as responsabilidades. Encontraram-nos logo nas pessoas dos missionários baptistas, que foram acusadas de
conivência com os chocolateiros britânicos que participaram na campanha de descrédito em volta de S. Tomé. Na realidade, embora a sua simples presença fosse em 1914, tal como seria depois, em
1961, um catalisador do descontentamento africano, é uma falsificação histórica dizer que foram eles artífices deste levantamento, que ameaçou fazer mudar o destino do distrito do Congo.
In- Historia das Revoltas em Angola.
Texto escolhido por Artur Méndes.