FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA DAMBA 21.
Por José Cardoso
CIVILIZAÇÃO DO INDÍGENA ( COLONIZAÇÃO )
“ È tal a influência que o comércio bem orientado pode exercer na civilização dos meios primitivos, que – quando se formaram as colónias da bacia convencional do Congo, que foram organizadas sob
elevado desígnio e generoso intuito de promover o progresso da humanidade habitando esta zona equatorial, e de estabelecer o bem-estar, que as atrasadas povoações do Congo desconheciam e que
podia ser-lhes facultado com os benefícios que a civilização europeia havia de trazer-lhes, foi consagrada oficialmente essa influência benéfica, contando-se que pelo comércio se realizaria o
grande plano de engrandecimento da vida cafreal no coração da África.
Nesta ordem de ideias, estabeleceu-se, como princípio fundamental da constituição das colónias da bacia convencional, a inteira e a mais ampla liberdade comercial que pudesse imaginar-se, tal
como ficou definida nos artigos 1º. e 5º. Do Acto de 1885.
Contava-se que, com o estabelecimento livre das casas de comércio e de feitorias, repletas de mercadorias provenientes dos centros de produção civilizados, espalhadas por toda a parte,
vendendo-se a baixos preços, sob o regime moderno da concorrência mercantil, o indígena fosse atraído facilmente, e que para obter o dinheiro necessário para as suas compras, ou o género
necessário para a troca, exigido pelo comércio, se precipitasse espontaneamente no trabalho livre, do qual desabrocharia uma ridente civilização para as populações primitivas, até então
mergulhadas nas trevas da barbaria – civilização que se desenvolveria por um processo evolutivo, natural e espontâneo,perfeitamente admissível, se o índice moral das raças, que habitam essa vasta
região africana, estivesse livre de uma infinidade de preconceitos gentílicos que prejudicam,senão completamente, pelo menos em grande parte, a aplicação das leis sociais que regem os meios
civilizados, quando arremessados de chofre para meios totalmente desprovidos de preparação para recebe-las.
Com a abundância característica das regiões tropicais, ter-se-ia constituído na bacia convencional um verdadeiro paraíso de pretos, que por certo faria a inveja dos brancos, se não fora meramente
falaz a lógica com que se fundamentou a teoria da civilização pelo comércio.
O que aconteceu, e o que por todos é reconhecido, é o que vai descrever-se sucintamente, sendo notável que, volvidos tantos anos de desenganadora experiencia,ainda se frise a influência do citado
princípio civilizador, consignando-o no artigo 12º. Do Acordo franco-alemão de 4 de Novembro de 1911.
Ora, tem acontecido desde o inicio das descobertas até aos nossos dias, que o europeu que vem para a África, envolvido em empresas comerciais, não se precipita no sertão pelo irresistível impulso
de vir melhorar a condição social dos indígenas, comovido ou condoído pela miséria das circunstâncias da vida rudimentar e primitiva que a humanidade tropical arrasta, por desconhecer a forma de
utilizar as comodidades que a civilização pode oferecer-lhes, e por desconhecer mesmo quais sejam essas comodidades que o comércio generoso pode tornar-lhes conhecidas e facultar-lhes facilmente
por preço módico.
Não! O homem de negócios vem a África movido pela ambição irresistível de fazer fortuna o mais rapidamente possível, enquanto que o seu subalterno nas operações comerciais vem impelido pela
imperiosa necessidade material de prover à sua subsistência, conforme a categoria de trabalhador em que, pelos seus conhecimentos e
precedentes se enfileira.
Não há, pois, tergiversações possíveis. O comerciante está em África para fazer dinheiro e não porque tenha qualquer vislumbre de pretensão de educar pretos ou fazer pretos felizes”
Em colaboração com ARTUR MÉNDES