VIAGEM AO BEMBE E DAMBA. Setembro a Outubro de 1912
In- NO CONGO PORTUGUÊS- Relatório do Governador do distrito, primeiro tenente de marinha, José Cardoso. Cabinda ,1913”
CIVILIZAÇÃO DO INDÍGENA( COLONIZAÇÃO )
Em sua circular de 17 de Abril de 1913, considera Sua Ex.ª o Governador Geral, e muito bem, os administradores das circunscrições civis como sendo, de toda a engrenagem executiva da organização
administrativa, o mais poderoso elemento de progresso da província, capaz de levar por diante a obra de levantamento moral, de civilização e desenvolvimento económico que a Nação Portuguesa se
tem esforçado por conseguir na província de Angola…
Pedindo um pouco ao génio criador desses funcionários, mas reclamando-se muito das suas faculdades de absorção, de assimilação e de adaptação, exigindo-se-lhes imenso da sua habilidade, tacto e
actividade, são justamente – essas entidades – aquelas de quem mais depende o progresso real da colónia, o qual, por todos os pontos de vista sob que se possa ser encarado, se reconhece estar
sempre intimamente relacionado com o feitio que possamos fazer assumir o indígena.
Educar, instruir e civilizar o indígena – é tarefa que só os administradores podem realizar – e é por certo, de entre todas as que sobre eles pesam, aquela para a qual é necessário que possuam
mais experiencia, mais prudência e maiores conhecimentos, devendo o Estado facultar-lhes, e por todas as formas, todos os elementos de consulta onde encontrar os conselhos entre os quais escolher
os que mais se coadunam com as características das populações gentílicas que lhe estão confiadas, na certeza de que, na orientação que seguirem, devem partir de um principio rigorosamente
verificado, qual é o de que todo o sistema visando o aperfeiçoamento das condições gerais de vida das comunidades gentílicas depende intimamente do conjunto de conhecimentos que houver reunido,
precedente de um cuidadoso estudo das particularidades étnicas dos povos com os quis tem de manter-se em permanente contacto e com os quis terão por vezes que fazer vida intima.
(…) De há uns anos a esta parte que entre nós se tem encarado com particular atenção e esmerado interesse o dever de melhorarmos a condição social indígena; e nesse intuito altruísta, em que nos
achamos empenhados, consideramos como elemento capital dessa função – a instrução – atribuindo-lhe exagerada importância e demasiada influência,acreditando que ela só por si constitui a chave da
educação cafreal, que nos produzirá os resultados civilizadores que temos em mira conseguir.
Por seu turno, o indígena corresponde a esta fase da nossa actividade colonial,acorrendo com um certo transportamento às escolas que estamos abrindo; crente, como está na sua imaginação infantil
e rudimentar, que será na escola que adquirirá tudo quanto lhe falta para nivelar-se com o branco que admira e simultaneamente detesta.
Errados andamos – Estado e nativos – se nos abstinarmos neste modo de ver sobre a forma de civilizar.
Habituados a conhecer os efeitos produzidos em o nosso meio de instrução, e esquecidos de quanta distancia nos separa do meio em que queremos introduzi-la, familiares, como estamos, com as nossas
instituições de ensino e de educação, parece- nos simples, senão mesmo racional, ser fácil de com elas conseguir-mos para o indígena os resultados que entre nós atribuímos tão somente a esses
dois factores, e repelimos a necessidade de estudar aprofundadamente a forma evolutiva dos processos sociais alheios aos nossos, deduzindo-a da crítica comparativa desses processos, pela qual
melhor poderemos aperceber a influência exercida no progresso pelos seus factores mais remotos, em geral os menos conhecidos e, quiçá, os de maior importância…”
Continua
TEXTO ESCOLHIDO POR ARTUR MÉNDES.