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26 Jul

FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA DAMBA 12.

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Fragmentos históricos da Damba


VIAGEM AO BEMBE E DAMBA. Setembro a Outubro de 1912


“ In- NO CONGO PORTUGUÊS. VIAGEM DO BEMBE E DAMBA – Considerações relacionadas. Relatório do Governador do distrito, primeiro tenente de marinha, José Cardoso

Cabinda 1913.

 


Ocupação militar - Administração local


…Os serviços de ocupação dos territórios que constituem o distrito do Congo, e em especial a ocupação daqueles que ficam para sul do rio Zaire, têm sido feitos com uma lentidão excepcional, perdendo-se, de ordinário, o efeito da acção militar exercida por cada etapa desses serviços, pela grande demora que, em regra, medeia entre a montagem de cada um dos estabelecimentos destinados a fixar as vantagens da ocupação, tornando-se portanto muito dispendiosa a execução de cada novo empreendimento, feito para continuar a disseminar a acção da autoridade, pois que pelo intervalo de tempo decorrido entre a instalação dos nossos postos se perde o efeito de continuidade que tanto facilita as empresas desta natureza.


(…) O estado da ocupação na região para sul do Zaire, em 1910, quando assumi o governo do Congo, pouco mais era que o seguinte: dominávamos o litoral, a margem esquerda do Zaire e uma estreita faixa da fronteira terrestre do norte, prolongando a ocupação do Zaire Como desgarrado, nos confins de leste do distrito, estava o posto do Quango que era então, dos postos do Congo, o mais internado.


O posto mais avançado em relação ao litoral, era o Tomboco, a três dias da costa partindo do Ambrisete, e a dois dias partindo da Mucula: O posto mais internado em relação à fronteira era em San-Salvador. A ocupação do Enclave, do litoral, da margem esquerda do Zaire e o nosso estabelecimento administrativo em San-Salvador, são, pode dizer-se, coetâneos da fundação do distrito. Era todavia uma ocupação descontínua, e tão pouco efectiva que até 1901 o gentio, que vivia a menos de um quilómetro da costa, cobrava impostos e impunha multas aos negociantes europeus estabelecidos no litoral.


A circunstância de nada se exigir ao gentio e de consentir-se-lhe que viesse comerciar livremente as feitorias do litoral, o facto do estado da ocupação da colónia belga não nos ainda ter cortado o acesso comercial à margem direita do Quango, e a felicidade de serem largamente remuneradores os preços que a borracha obtinha então nos mercados da Europa, formava um conjunto de factores que contribuíam para que se mantivesse no Congo uma atmosfera artificial, dando ao céu um tom azul que não deixava denunciar os defeitos desse impróprio sistema de ocupação, que o público e o próprio Estado só reconhecem quando se manifestam sob um ponto de vista económico. Não havia pressa de sair desse vexame estado de coisas, que é tão sugestivamente descrito pelo tenente João Jardim no seu relatório da coluna de operações à Quincumguila.


Pode dizer-se que foi a decadência económica do litoral que veio lembrar a necessidade de se prosseguir na ocupação como meio de por termo a esses vexames, que se suportavam de animo leve nos dias de abundância, mas que se tornavam intoleráveis nos tempos de crise, a qual para mais prejuízo era agravada pelos caprichos do gentio que dificultava, quando queria, a já de si frouxa corrente de negócio para a costa, com os seus impostos de transito e com o frequente encerramento do caminho, motivado pelas constantes rixas entre povos rivais.”


Em 1896 (portaria provincial nº. 30, de 30 de Janeiro de 1896), ocupou-se Maquela do Zombo a pedido do próprio gentio que reclamava, do Governo, defesa contra os soldados do Estado Independente, os quais, sempre, que actuavam fora das vistas dos funcionários europeus, se internavam no território português, exercendo violências e extorsões sobre os habitantes do Zombo. A certeza da impunidade das suas façanhas animava-os a essas aventuras.


O Cuilo e o Quango foram ocupados alguns anos depois por motivos análogos (portarias provinciais nº 280, de 17 de Junho de 1899 e 449, de 10 de Agosto de 1900). Como já dissemos, foi por assim dizer a crise comercial do litoral que determinou a organização da coluna que em 1901 operou na circunscrição do Ambrisete sob o comando do governador João Jardim, e do qual resultou a ocupação do Tomboco e o estabelecimento do posto militar Cabral Moncada , hojesuprimido por desnecessário.


Quão fictícia era a ocupação do litoral, mostra a circunstância frequente dos mussorongos inquietarem constantemente a autoridade de Santo António, que viveu como que bloqueada na vila desse nome até 1899, o governador Pedro de Azevedo Coutinho mandou ocupar o Quifuma, onde o capitão Luis Augusto Pimentel montou o posto militar daquele nome.


Em 1900, foi montado pelo então primeiro sargento Nicolau Perdigão o posto militar do Lunuango, hoje suprimido por desnecessário com o fim de proteger a missão católica que ainda existe ali. Houve relativa tranquilidade na região dos mussorongos até 1908, ano que se pretendeu compelir aqueles povos a pagar o imposto de cubata. Capitaneados pelo velho soba do Tombe, reuniram-se todos os povos mussorongos para reagir contra a inovação, sendo necessário organizar-se uma coluna móvel, cujo comando foi confiado por Paiva Couceiro ao então alferes Angêlo Lima. Essa coluna percorreu toda a zona do litoral e margem do Zaire, deixando montados os postos militares do Quelo e do Sumba (este último já suprimido), por desnecessário para tornar efectiva a imposição do Governo e deixar vestígios da acção exercida.


Para avaliar do carácter irrequieto e turbulento desta raça, recordarei aqui que Paiva Couceiro esteve quase perdido entre Santo António e Quifuma, enquanto a guarnição deste último posto se achava bloqueada. Ainda no ano corrente o velho soba do Tombe (o mesmo já citado) teve veleidades de reagir contra a cobrança de imposto, e senão fora o comandante do posto militar do Quifuma tê-lo preso imediatamente, ter-nos-iam surgido novas dificuldades, porquanto suspeito. Que a rebelião dos mussorongos do Quingombe, acorrida em Abril próximo passado, tenha sido resultado de algum concerto para a resistência entres os povos do litoral, que rebentou contra Quinzau por ser
desguarnecido de força militar.


Foi este último povo castigado por uma força que, sob o comando do tenente Angêlo Lima, percorreu em Maio último parte da área sob jurisdição do posto militar do Quelo que contem os povos que se haviam declarado rebeldes. Ao tomar conta do governo em Agosto de 1910, percorria a região do Quizau,na circunscrição do Ambrisete, uma coluna móvel que, sob comando do tenente Melo, andou castigando os povos dessa região que se haviam insurreccionado para resistir também ao pagamento imposto de cubata, instigados por um tal Lengo, recentemente falecido, exilado do seu povo.


Em consequência destes últimas operações montou-se o posto militar de Bessa Monteiro, em Novembro de 1910, consagrando-se com a aquela dominação do posto a memória do desditoso oficial que sacrificou a sua vida ao bem da Pátria,durante essas operações, e cujos os restos descansam sob os parapeitos da fortaleza ali edificada”.

 

                                                                                      Texto selecionado  por Artur Mendes.

 

 


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