Formação profissional garante trabalho aos jovens
Por António Capitão| Uíge
Gouveia João, 24 anos, à noite andava com marginais e durante o dia lavava carros nos arredores do bairro Candombe. Hoje abandonou essa vida.
Frequentou um curso de formação profissional no Pavilhão de Artes e Ofícios de Quijima e agora tem a vida mais ou menos folgada e dorme descansado.
À reportagem do Jornal de Angola confessou que a necessidade de conseguir dinheiro rápido foi motivo mais do que suficiente para a realização de acções reprováveis socialmente. Por isso, perdeu a
confiança dos familiares e amigos.
“As más companhias influenciavam-me a consumir excessivamente o álcool e a fazer furtos”, disse, com tristeza, acrescentando que não dormia descansado com medo de que os agentes da Polícia
Nacional o fossem prender a casa por denúncia.
Surpreendido com a melhoria das condições de vida de um amigo, Gouveia João quis saber o que mudou a vida dele:. “respondeu-me que frequentou um curso de formação profissional no pavilhão de
artes e ofícios. Agora tem um novo estilo de vida. É electricista e está a ganhar o sustento com esta profissão”, referiu.
Gouveia João resolveu seguir o exemplo do amigo. Em Março deste ano inscreveu-se no Pavilhão de Artes e Ofícios do bairro Quijima, onde durante nove meses aprendeu electricidade de baixa tensão.
A formação foi agora concluída.
“Antes mesmo de concluir o curso já fazia trabalhos de electricidade em várias residências, fruto disso, conseguia resolver vários problemas da minha vida”, revelou o jovem, que garantiu nunca
mais voltar ao mundo da criminalidade.
Gouveia João afirmou que agora é um homem diferente e respeitado por todos os que lhe são próximos. O jovem aguarda apenas um emprego efectivo para materializar as suas ambições. “A dedicação e
empenho do meu amigo serviram de fonte de inspiração para que eu também apostasse na formação profissional. Hoje consigo ganhar a vida de forma honesta e sou um orgulho para a minha mãe, irmãos e
familiares”, realçou.
Homem dos sete ofícios
João Nsingui, 21 anos, estudante da 11ª classe no Uíge, viu-se obrigado a parar três anos com a formação académica para se dedicar à formação profissional. No Pavilhão de Artes e Ofícios de
Quijima, o jovem especializou-se em mecânica, alvenaria e electricidade. É o homem dos sete ofícios e garante que profissionalmente se sente
realizado, apto para o mercado do emprego e a trabalhar em qualquer área.
“Já não me posso queixar. Tenho formação profissional em três áreas e estes conhecimentos permitem-me trabalhar por contra própria e ganhar algum dinheiro. Pela qualidade dos trabalhos que
realizo sou muito solicitado, sobretudo na área da electricidade onde faço instalações eléctricas em residências e executo projectos de electrificação de baixa tensão”, disse com orguho.
No mês de Outubro, Eduardo Antunes e um colega do curso de mecânica, lançaram-se numa grande aventura. Decidiram reparar o carro de um vizinho. Abriram o motor do veículo para trocarem as capas e
os segmentos.
Quando tinham sete meses de frequência no curso profissional de Mecânica, os jovens conseguiram devolver a alegria ao proprietário da
viatura. Ficaram convencidos de que estavam a receber uma formação sólida. Eduardo Antunes ganhou fama de mestre e tem conseguido viver do trabalho de reparação de todo o tipo de viaturas.
“Com o dinheiro que ganho compro roupa, alimentação, pago as despesas da minha formação académica e estou a fazer poupanças para construir a minha casa. O meu sonho é trabalhar nas oficinas da
Polícia Nacional para facilitar as acções de policiamento”, frisou. Como Gouveia João, João Nsingui e Eduardo Antunes, centenas de jovens já receberam formação técnica e profissional no Pavilhão
de Artes e Ofícios de Quijima, nas especialidades de Alvenaria, Mecânica, Electricidade e Informática.
Profissionais desempregados
O chefe do Pavilhão de Artes e Ofícios de Quijima, Bozardo Bongo, lamentou o facto de muitos jovens formados pela instituição continuarem desempregados, situação que pode vir a desencorajar a
aposta na formação profissional.
Os jovens depois de formados são encaminhados para o Centro de Emprego onde aguardam que as empresas públicas e privadas peçam profissionais, sobretudo as de construção civil. Mas infelizmente,
realçou, tem havido poucas ofertas de postos de trabalho para os jovens que constituem a força activa da região.
“Temos solicitado às administrações municipais que nos contratos de empreitadas de obras públicas e construção de infra-estruturas obriguem as empresas a preencherem os seus quadros de pessoal
com jovens formados pelo Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional”, disse. O Pavilhão de Artes e Ofícios de Quijima foi aberto em 2008 e já formou 922 jovens de ambos os sexos, nas
especialidades de Mecânica, Informática, Electricidade de baixa tensão e Alvenaria, dos quais 89 concluíram o ciclo formativo no passado dia 10 de Dezembro. Bozardo Bongo informou que a
instituição necessita de mais formadores para as áreas de Electricidade e Informática, para permitir a inclusão de mais jovens no projecto, “visto que todos os anos há jovens que não conseguem
frequentar o curso devido à falta de formadores”.
Estágios profissionais
Ângelo Francisco, técnico do Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional, defendeu a necessidade dos formandos frequentarem estágios profissionais em empresas públicas e privadas que
exercem actividades compatíveis com a sua formação.
“O objectivo é permitir que os formandos demonstrem as suas habilidades e conquistem a confiança dos gestores das empresas, dando-lhes a oportunidade de conseguirem um posto de trabalho”, disse.
Aos jovens formados pediu para apostarem no empreendedorismo através da criação de pequenas associações para abrirem oficinas, empresas de construção civil e noutros sectores que garantam o
auto-emprego e promovam a criação de novos postos de trabalho para outros jovens.
“O tempo de duração da formação permite uma boa assimilação dos conteúdos teóricos e práticos. As habilidades e capacidades dos formados devem ser postas à prova em estágios profissionais.
Para tal, é necessária mais colaboração entre as unidades de formação profissionais com as empresas e outras instituições onde a mão-de-obra é necessária”, concluiu.
J. A