Diana Simão Nsimba (à esquerda) começou a cantar aos 16 anos quando foi descoberto por Sam Mangwana no Congo Democrático onde integrou a Orquestra África Fiesta Nacional
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Com a proclamação da independência de Angola, muitos patriotas emigrados no Congo Democrático retornaram à pátria, dando corpo ao "período do retorno", movimento de suma importância na história
da Música Popular Angolana, assim designado por serem apelidados "retornados", muitas vezes com sentido pejorativo, os angolanos oriundos do então Zaire.
Nessa época, que vai de 1976 a 1979, destacaram-se os cantores e compositores Matadidi Mário Bwana Kitoko, o duo constituído por Pepé Pepito e Nonó Manuela, Tabonta e Diana Simão Nsimba,
figuras de forte intervenção musical, no domínio da canção política.
Tabonta, por exemplo, é o autor de "Welele Neto" (Neto desapareceu), uma das mais belas canções, cantada em Kikongo, que homenageia a figura de Agostinho Neto, em que o cantor lamenta, de forma
profundamente poética, o trágico desaparecimento do primeiro Presidente de Angola.
Diana Simão Nsimba nasceu no dia 3 de Julho de 1946, em Maquela do Zombo, e, aos 8 anos, partiu para a República Democrática do Congo com os pais, onde prosseguiu os estudos primários na Escola
Católica S. Paulo, no Quartier Barumbú, em Kinshasa. Descoberto por Sam Mangwana, que o apresenta a Tabuley Rochereau, Diana Simão Nsimba demonstrou os dotes de compositor, primeiro, é só mais
tarde veio a revelar os atributos enquanto intérprete, aos 16 anos.
Oriundo de uma família camponesa, recebeu uma educação de forte pendor religioso, absorvendo o misticismo da cultura rural, com os seus cantos de celebração ritualística, enquanto a mãe cantava
nos momentos de labor agrícola.
De Tabuley Rochereau, que o aconselhou a interpretar as suas próprias composições - recorde-se o tema "Libala a huit heures de temps" (Casamento de oito horas) - Diana Simão Nsimba recebeu o
nome artístico, homónimo a uma canção de amor, da sua autoria, que frequentemente interpretava.
A época das orquestras
Com o surgimento das academias de música e a evolução das tecnologias de gravação, criadas e desenvolvidas na época da colonização belga, em 1950, Kinshasa e Brazzaville tornaram-se dois pólos
culturalmente associados, propiciando a aparição de importantes orquestras. É assim que surgem, no então Zaire, a Orquestra OK Jazz, fundada por Nino Malapet, African Jazz, African Fiesta
Internacional e a Orchestre Afrisa Internacional, de Tabuley Rochereau e Dr. Nico, que vieram a influenciar, de igual modo, importantes guitarristas angolanos.
Muitos dos músicos mais influentes da história do Congo Democrático surgiram das grandes bandas, incluindo o cantor e compositor Samangwana, fundador da African All Stars, Ndombe Opetum, Vicky
Longomba, Dizzy Madjeku, Kiamanguana Verckys. Foi a época do desenvolvimento da rumba e da generalidade do ritmo soukous, designação que tem um significado muito mais amplo e se refere também à
generalidade da música congolesa.
Diana Simão Nsimba passou então a integrar a Orquestra África Fiesta Nacional, liderada por Tabuley Rochereau, onde permaneceu de 1968 a 1970, contra a vontade do pai, que o queria mais
devotado aos estudos. Decidido a ser cantor, integrou em 1972, ainda como vocal, a Orquestra Les Grands Maquisards do célebre Ntesa Dalienst, de que faziam parte Lokombé e André Kiesse Diambu
(vocal), Jeannot Mboko, Maubert e Jean Marie Kabongo (trompetes), Dizzy Mandjeku e Augustin Nsingi Mageda (guitarrista solo), Basile Loulou (vocal música pop), Kalambayi (guitarrista), Michel
Sax (saxofone), Dave Makondelé (guitarra), Domsis (tumba), Franck Nkodia (guitarra baixo) e Tambu (bateria) onde permaneceu durante dois anos e retomou ao Afrisa – a nova designação do grupo de
Tabuley Rochereau.
Convidado pelo cantor El Belo, do agrupamento Kissanguela, Diana Simão Nsimba participa, em 1976, no grande espectáculo comemorativo do primeiro aniversário da Independência de Angola, na
Cidadela Desportiva, com o agrupamento Inter-Palanca.
Naquela época eclodiram os grandes sucessos de Matadidi Mário Bwana Kitoko: “Café”, “Obrigado Agostinho Neto”, “Valódia”, “Ba Kokossa” e “Muana Angola”. Decidido a formar a sua própria banda,
abandona o Inter-Palanca e funda o agrupamento Olímpia com o Gingle (viola baixo), Kinaló (viola ritmo), Mengue (guitarra solo), Kokoló (bateria), Fifi e Murra (vozes).
Declínio do Olímpia
Os primeiros sinais de declínio da orquestra Olímpia começaram a surgir em 1986, por uma natural desintegração interna, mas é justo recordar as canções “Canducha”, “Bolingó Passi”, “Marguerida”
e “Sim Sinhola”, temas que Diana imortalizou com o inapagável tenor da sua belíssima voz.
De notar que a fusão entre a experiência dos músicos oriundos do Congo Democrático e a sua inclusão na generalidade dos géneros angolanos revolucionaram a estética de muitos grupos
paradigmáticos da Música Angolana: Kiezos, Jovens do Prenda e Instrumental 1º de Maio, este último formado maioritariamente por compatriotas oriundos do ex-Zaire, sobretudo na secção dos
metais, e onde o Diana teve uma passagem efémera.
A reconstituição histórica da Música Popular Angolana passa, necessariamente, pela alusão ao “Período do Retorno”, entendido como importante fase de prolífica criação artística, da qual Diana
Simão Nsimba foi uma figura de relevo e de inquestionável importância, em que o sentimento nostálgico e a emoção da liberdade e independência constituíram os motivos inspiradores de um virtuoso
movimento artístico, de grande impacto na história social da Música Popular Angolana.
Doença e morte
Desmotivado e sem capacidade financeira para gravar, embora tenha sido a sua intenção nos derradeiros momentos da vida, Diana Nsimba Simão sofria, há cerca de cinco anos, de visão monocular e
denotava sinais de desequilíbrio do foro psicológico, tendo falecido no dia 29 de Agosto, às 16h:00, provavelmente por suicídio, na sequência de uma queda do quarto andar do edifício onde
morava.
Diana estava afastado dos palcos e tencionava participar no Muzongué da Tradição do Centro Recreativo e Cultural Kilamba, que era realizado em homenagem à banda “Olímpia”.
A comissão directiva da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) emitiu uma nota a lamentar o incidente, realçando a importância do artista e valorizando o conjunto da sua obra,
considerando-o "um dos mais exímios intérpretes e compositores nacionais e ilustre figura que dedicou boa parte da vida à promoção e valorização da música angolana".
Diana Simão Nsimba foi um dos convidados no primeiro aniversário do “Muzongué da tradição”, no Centro Cultural e Recreativo Kilamba, realizado em 11 de Fevereiro de 2007.
Na ocasião interpretou os sucessos “Margarida”, “Pakita”, “Bongolola”, “Ana”, “Beto na Beto”, “Canducha”, “Valódia”, “Pongolola”, “Laurete”, “Bolingó Passi”, “Homenagem a Franco”, “Mena” e “Sim
Senhora”, tendo recordado os tempos da rumba congolesa acompanhado pela Banda Olímpia. Participaram no concerto, o agrupamento “Jovens do Prenda”, Calabeto e Samangwana, seu velho companheiro.
J.A