
A Vice-Governadora visita a exposição.
Fotografia: António Capitão
A feira províncial de artesanato do Uíge, realizada no pavilhão gimnodesportivo do Futebol Clube do Uíge (FCU), foi um sucesso. O certame visou descrever a cultura, hábitos e costumes dos povos
da região e servir de antecâmara ao que a província vai expor na feira nacional, a decorrer nos dias 28 e 29 deste mês, na capital do país.
A exposição, bastante concorrida, contou com a participação de artesões dos municípios do Alto Cauale, Bungo, Milunga, Mucaba, Quimbele, Quitexe e Uíge, que apresentaram artefactos feitos à base
de argila, junco, bordão, vidro e outros adornos naturais.
A vice-governadora do Uíge, Piedade Samuel Hebo, valorizou a realização do evento e disse que o artesanato é uma das formas de se conservar a cultura dos povos, transmitindo às pessoas parte dos
seus hábitos, usos e costumes. Acrescentou que o artesanato, que deve ser transmitido às novas gerações, tem servido também de fonte de rendimento para o sustento de muitas famílias.
“O artesanato continua a ser uma das principais riquezas tradicionais, uma vez que esta actividade garante o sustento de muitas famílias e comunidades e nos permite conservar a nossa cultura,
pois nela se revelam os nossos usos, costumes, tradições e características de cada região”, realçou Piedade Samuel Hebo.
A governante pediu aos artesãos para redobrarem esforços para o crescimento da actividade na província. Pediu ainda que se organizem em cooperativas, de forma a permitir que o governo tenha um
maior controlo da classe e crie políticas de apoio.
“Pedimos a todos os artesãos da província para se empenharem cada vez mais, criarem associações ou cooperativas, para que o governo crie estímulos para as acções que visam resgatar as vocações
individuais, a preservação da cultura local e a formação de uma mentalidade empreendedora que possibilite fomentar a actividade artesanal e a valorização dos artesãos”, disse.
O director provincial da Cultura, António Mucanza Cangudi, referiu que a feira permitiu apreciar a capacidade produtiva e criativa dos artesãos locais e ao mesmo tempo manifestar a identidade do
povo uigense.
“Os nossos artesões demonstram grande habilidade e qualidades cuja beleza está expressa nas peças expostas. Para além de servir como oportunidade de negócio, a feira visou sobretudo exprimir a
identidade deste povo bakongo”, sublinhou.
Peças históricas
Das peças expostas na feira, o responsável pelo sector da Cultura no Uíge, António Mucanza, destacou, entre as peças de olearia, as panelas de barro, que têm a reputação de confeccionar os
quitutes mais saborosos da região, como o feijão, a kizaka, makaxiquila (folhas de feijão), muengueleka (folhas de abóbora), muteta (pevide), wangila (gergelim) e outras iguarias.
As muringas e cabaças também mereceram destaque dos visitantes, por se tratar de uma espécie de geladeiras artesanais, já que têm a capacidade de manter a água fresca e protegida durante muitos
dias.
“Há muitas peças valiosas nesta feira. Já comprei o meu pilão, que me vai permitir triturar muitos produtos para alimentar a minha família à base de comidas naturais e espero comprar outros
artefactos que me façam recordar a vida no campo”, comentou a jornalista Helena Swana.
Na tecelagem, os destaques foram para os “inguiengos”, cestos em forma de mochila, originários da região do Quimbele, usados para o transporte de produtos do campo, e também as peneiras, feitas
com tiras de junco, que crivam a farinha de mandioca, também conhecida como “fuba de bombó” da mesma qualidade das de crivos industriais.
Outra grande atenção mereceram as esculturas feitas de madeira, troncos de árvore e argila, que representam actividades desenvolvidas pelos antigos povos de Angola, como a caça, agricultura e
pesca.
Estiveram ainda expostos bancos, cadeiras e cadeirões feitos de junco e bordão, vassouras tradicionais, variedades de cestos, pentes de pau, fogareiros, pratos e tigelas feitos de argila,
instrumentos sonoros e outros artefactos para decoração.
Artes plásticas
Para além de se tratar de uma feira de artesanato, as artes plásticas, mais concretamente a pintura, também estiveram representadas pelo pintor do município do Bungo, Jeremias Augusto Kateco
Kangola.
O artista revelou ao Jornal de Angola que a sua participação a nível de artesanato pretendeu despertar a sociedade uigense para esta área da cultura, que está a perder espaço na região. “A
pintura é uma actividade que está a desaparecer na província. Tudo porque não temos apoios e encontramos muitas dificuldades para adquirir a matéria-prima e mercado para comercializarmos os
nossos produtos”, afirmou.
Kateco Kangola solicitou maior atenção do governo da província e da sociedade civil para com este sector, visto ser uma actividade capaz de gerar emprego e rendimentos a muitas famílias e por
nela se expressarem vários acontecimentos do dia-a-dia das sociedades.
“A pintura é uma actividade que, desde as civilizações mais antigas, teve sempre uma grande influência na evolução das sociedades, havendo muitos quadros pintados em épocas remotas a valerem hoje
verdadeiras fortunas. Porque não apostarmos mais nesta vertente, para que amanhã surjam mais Álvaros Macieiras e Etonas?”, perguntou.
Jeremias Augusto Kateco Kangola disse que utiliza tinta plástica, panos e madeira para formar e pintar os seus quadros, que retratam a convivência dos povos angolanos, as maravilhas naturais que
o país possui e a vida dos nossos antepassados. O seu sonho, como o de qualquer artista, é que a sua obra se espalhe pelo mundo inteiro.
J.A