
Especialistas em educação apontam o equilíbrio emocional das crianças e a competência dos professores como factores importantes para o sucesso escolar dos alunos
Fotografia: José Bule
O desenvolvimento do país requer nova postura na adequação de políticas e de melhoria das técnicas e de materiais que contribuam para o processo de aprendizagem de crianças e de jovens, disse o governador do Uíge.
Paulo Pombolo, que fez a afirmação na abertura da I Conferência Provincial da Educação, que decorreu na capital do Uíge, referiu que a iniciativa foi realizada para se colherem contribuições
para a melhoria da qualidade do ensino na região, fundamentalmente a nível organizativo e de funcionamento das escolas.
”Com acções do género, encontramos, com certeza, uniformidade na gestão organizacional e funcional das escolas, proporcionando a todos os intervenientes no processo, ferramentas e argumentos
que correspondam às modernas exigências metodológicas e tecnológicas”, declarou.
O governo provincial, disse, tem prestado especial atenção ao sector da educação dada a importância de que se reveste.
Hoje, salientou, questionamo-nos sobre o desenvolvimento, mas há quem ao perspectivá-lo eleja a formação dos recursos humanos como a primeira prioridade.
O governador insistiu que educação deve ser o pilar do crescimento de qualquer região e lamentou que, muitas vezes, as crianças na escola em vez de motivação e carinho encontrem professores sem
identidade, que chegam atrasados e abandonam os alunos nas salas antes de cumprirem o horário estabelecido, com a desculpa de óbitos, doenças, bancos, tratamento de documentos, entre outras
justificações falsas.
Temas interessantes
A directora nacional da Inspecção da Educação recordou que o desenvolvimento do sector e a consequente melhoria da qualidade do ensino são metas da Reforma Educativa. Fátima Lemos, que falava
sobre o papel da inspecção no desenvolvimento da educação e da melhoria da qualidade do ensino, disse que a escola deve garantir que as crianças aprendam e sejam preparadas para transformações
na sociedade. A inspecção, afirmou, contribui para a construção da autonomia escolar, fortalecendo a sua capacidade institucional, ajudando-a a assumir protagonismo no processo de
desenvolvimento e a valorizar gestores escolares, professores, alunos, encarregados de educação, autoridades locais e parceiros sociais.
O representante do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação, que dissertou sobre “temas transversais no currículo e a sua importância no processo educativo”, referiu
que “os sistemas mais modernos contemplam a educação não sexista como meio de questionar a concepção de género na escola”.
O procedimento mais significativo para atacar a discriminação no meio escolar, declarou Pedro Nsiangego, é a transversalidade, o que implica abordar o tema em todas disciplinas, durante toda a
etapa de escolarização, com recurso a conteúdos conceptuais e a procedimentos.Sobre a educação multicultural, Pedro Nsiangego disse não haver dúvida que a escola é um lugar onde se produzem
encontros de várias culturas.
O fundamento inter cultural na educação, sublinhou, parte da verificação e reconhecimento da diversidade de culturas, onde a própria interacção é factor educativo de enriquecimento mútuo.
É necessário, insistiu, manter a cultura endogénica de uma determinada sociedade, reconhecer a existência multicultural, fomentar a solidariedade e a reciprocidade entre culturas, denunciar a
injustiça provocada por assimetrias e enfrentá-la. Além disso, propôs, é preciso avançar para um projecto educativo global que inclua a opção inter cultural e a luta contra a descriminação para
haver classificação de modelos.
Inadaptação escolar
A directora nacional do ensino geral, que falou sobre as causas da inadaptação escolar, disse que ela surge quase sempre nos primeiros anos, quando os alunos vivem “o conflito entre o que sabem
e trazem como experiência e o que encontram na escola”.
Luísa Grilo afirmou que têm de ser criados mecanismos para a inadaptação se transformar em êxito e que a família é importante nessa alteração. As práticas familiares, garantiu, auxiliam a
criança na organização do tempo, na regularidade, interiorização, calma, autonomia, ordem e clareza.
O outro factor, referiu, é a própria escola mas, neste caso, apenas pode haver êxito da criança se houver professores competentes, que lhe despertem o interesse. A alimentação, frisou, é outra
componente indispensável e as escolas têm de procurar compensar as carências que muitas crianças ainda têm nesse aspecto.
Tudo isso, disse Luísa Grilo, contribui para o equilíbrio emocional e intelectual da criança e lembrou que há estudos que demonstram que o desenvolvimento da criança também depende da
alimentação que tem em casa.
Formação e competência
Os participantes no encontro concluíram que o desenvolvimento da educação depende, em garnde medida, da formação e competência dos professores e realçaram o contributo da inspecção na autonomia
escolar, pedagógica e profissional. O professor, referem, deve ser socialmente credível e ter grande autoridade moral, com sentido de missão e dever. O texto salienta a importância dos alunos
terem uma alimentação equilibrada e de ser reforçada a verba financeira destinada a merenda escolar na província por os recursos actuais serem insuficientes. Quanto à alfabetização, os
participantes concluíram que deve haver maior mobilização dos parceiros sociais para o programa atingir os níveis desejados.
* Com Joaquim Júnior
J.A