Especialista pede responsabilidade aos médicos.
Publicado por Nkemo Sabay - Etiquetas: #Notícias do Uíge

Alguns dos médicos e enfermeiros nacionais e estrangeiros presentes no colóquio realizado no Hospital Central do Uíge
Fotografia: José Bule | Uíge
O decano da Faculdade de Medicina de Malange, adstrita à Universidade Lueji-a-Nkonde, André Pedro Neto, disse, na sexta-feira, na cidade do Uíge, que alguns médicos revelam falta de
responsabilidade ao prescreverem medicamentos aos seus pacientes. “Muitos deles estão a ficar hipertensos, por causa da prescrição médica” errada, alertou.
O responsável, que falava num colóquio sobre “As Reacções Adversas aos Medicamentos” e as “Lesões Malignas do Colo Uterino”, promovido pela Alopa/Clínica Servimed, explicou que muitas vezes são
passadas receitas depois do paciente já ter outras prescrições “e isso está a ceifar vidas humanas”
O decano referiu que incidiu muito na prescrição de medicamentos porque “temos observado, com cuidado, alguns erros que se têm cometido, sobretudo nos casos em que as pessoas compram os
medicamentos nas farmácias”.
Doutorado em farmacologia clínica, André Pedro Neto disse que ainda se observa muita falta de sensibilidade no exercício das prescrições medicamentosas, uma vez que muitas delas incluem
medicamentos em quantidades exageradas, que podem anular a função ou efeito de cada um deles. “Isto pode representar um risco para a saúde e um encargo financeiro para o cidadão. Daí o nosso
alerta constante e firme, de que as prescrições de medicamentos devem ser feitas com responsabilidade, porque os medicamentos podem gerar sintomas, doenças e, concomitantemente, a morte”,
disse.
A principal causa do problema é, do se ponto de vista, a falta de estruturas dentro das unidades sanitárias, capazes de debater e abordar com alguma profundidade a prescrição dos medicamentos.
Por isso defende a revisão da política de prescrição de medicamentos e a criação de comités de farmacoterapia e farmacovigilância.
“Estas são as duas estruturas fundamentais que podem ajudar os profissionais a aprimorarem os conhecimentos no domínio da farmacologia, toxicologia e da farmacovigilância, de modo a prevenir as
situações que temos estado a observar, um pouco por todo o lado”, destacou.
O especialista salientou que a ideia da constituição destes comités pressupõe uma estrutura de funcionamento forte, em que a figura do farmacêutico clínico é fundamental. “Neste momento, esta
figura está ausente das nossas unidades hospitalares devido à carência de quadros e também porque não temos farmacêuticos preparados para o efeito”.
Além de lamentar a situação, reiterou que “isso constitui um vazio”. Mas acrescentou que nada impede que se possa avançar para “algumas acções que minimizem os riscos e previnam e acautelem
desastres que ponham em perigo a saúde da população angolana”.
Farmacêuticos desqualificados
André Pedro Neto disse que as farmácias, se por um lado dispensam os medicamentos, por outro deveriam ter um papel importante na educação da população. “A farmácia deve ser o local inicial onde a
população, além de comprar medicamentos, acorre para buscar alguma orientação, algum conselho, e devia também, de forma complementar, apostar na formação dos seus técnicos e empregados de balcão,
para estarem à altura de responder às muitas preocupações apresentadas pelos cidadãos”.
Por isso, considera necessário que os técnicos de farmácia estejam munidos de conhecimentos sobre a matéria da área em que desempenham as suas funções, “e não apenas ficar numa transacção
comercial, correspondendo a um momento técnico em que o paciente saia elucidado e possa haver adesão da população ao cumprimento da terapêutica”.
Segundo explicou, o incumprimento do tratamento pode falsear a melhoria do paciente e por isso “é importante assegurar a eficácia e a efectividade no uso dos medicamentos”. Vai mesmo mais longe
ao afirmar que o próprio medicamento “é uma faca de dois gumes, cujo mau uso pode levar à morte do indivíduo. Muitos pacientes estão a ficar hipertensos por causa da prescrição médica” errada,
alertou.
Lesões do colo uterino
Paula Regina Oliveira, médica pós-graduada em ecografia e vice-decana e docente da Faculdade de Medicina de Malange, interveio no colóquio para falar sobre “Lesões Malignas do Colo Uterino”, um
problema que está a afectar, de modo crescente, muitas mulheres em Angola.
A médica apontou como principais factores de risco das lesões pré-malignas e, consequentemente, do cancro cervical do colo do útero, “a idade precoce do início da actividade sexual, a
multiparidade (mais de seis filhos), os múltiplos parceiros sexuais (mais de três), as infecções de transmissão sexual, o tabagismo, o uso de anti-concepcionais e a imunodeficiência”.
A académica explicou que existe um longo período de intervenção, a partir do momento em que se faz o rastreio sistemático das lesões pré-malignas. “Ao fazer-se um tratamento atempado destas
doenças pré-malignas, vamos evitar que, mais tarde, haja mulheres com cancro cervical”, disse.
Segundo a docente universitária, a mulher, logo depois de dar início à actividade sexual deve, anualmente, consultar um médico ginecologista, mesmo que não tenha qualquer sintoma. Sustentou que
uma mulher que entra nesta rotina ajuda o médico a fazer, todos os anos, um rastreio para detectar, eventualmente, o início da patologia, que pode ser curada nesse estágio.
“As lesões pré-malignas do colo do útero são as primeiras causas de morte por cancro em mulheres. É necessário intervirmos, porque o cancro do colo do útero mata”, concluiu.
O director-geral e médico da Alopa/Clínica Servimed, Óscar Paulo, disse ao Jornal de Angola que a instituição que dirige vai continuar a apostar na promoção de acções de formação dirigidas aos
profissionais de saúde que trabalham no Uíge. O objectivo é melhorar a prestação dos serviços das unidades sanitárias da província às populações locais. “O profissional de saúde precisa de uma
formação e actualização constantes. Colóquios como este fazem-nos pensar um pouco mais e desafiam os técnicos de saúde, médicos e enfermeiros, a melhorarem a sua prestação de serviço”, disse.
O colóquio sobre “As Reacções Adversas aos Medicamentos” e as “Lesões Malignas do Colo Uterino” teve lugar no refeitório do Hospital Central do Uíge e contou com a participação de médicos
nacionais e estrangeiros, enfermeiros e farmacêuticos.
J.A