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25 Apr

DAMBA – HÁ DIAS DE SORTE!

Publicado por Nkemo Sabay  - Etiquetas:  #Fragmentos históricos da Damba

 

Por Joaquim Coelho


 

     As missões sucediam-se, sem tempo para descanso. As semanas de contínuas batidas nas matas e picadas da zona da Damba já deixavam marcas nos corpos que emagreciam a olhos vistos. Os pára-quedistas, constituídos em dois grupos destacados para as movimentadas missões de apoio às povoações em perigo, encontraram-se, casualmente, na Damba, com destino a rumos diferentes. O grupo do tenente Martins Veríssimo regressava à povoação de 31 de Janeiro, onde se destacou na defesa das populações; o grupo do tenente Proença aguardaria o avião para embarcar com destino a Maquela do Zombo, onde o esperava uma espinhosa missão de reconhecimento na zona de Luvaca, fronteira com o Congo Belga. As informações disponíveis apontavam para uma grande quantidade de bandidos infiltrados a partir do Congo, pelo que teriam de ser montadas emboscadas aos grupos de facínoras referenciados como estando bem armados e treinados de “fresco”. Os pára-quedistas aproveitaram para comer algumas bolachas da Manutenção Militar e saborear umas latas de conserva. Para animar os espíritos amortiçados, os mais palradores trocaram opiniões sobre os percalços das operações e, numa toada de brincadeira, ironizaram sobre os desgostos dos aventureiros com amores em Luanda.

 

 

     O grupo que chegou da zona de Lemboa preparou as mochilas para embarcar com destino a Maquela, já que o avião Nordatlas fez uma passagem sobre a pista para avisar da iminência da aterragem. Com a deslocação do ar na aterragem, levantou-se uma densa nuvem de poeiras que obrigou a tapar as narinas. O avião parou na improvisada pista e o pelotão embarcou de imediato, porque a noite caía a olhos vistos. Após várias tentativas, os pilotos contactaram com o controlo de Maquela, e a resposta foi uma inesperada decepção: “Não há condições para aterragem nocturna, porque muitos dos candeeiros a petróleo estão vazios e não há pessoal para os encher”. Depois de meia hora numa espera inquietante, o tenente piloto ordenou:

 

 

     - Toda a gente a desembarcar. O avião vai para o Negage e voltamos amanhã, de manhã cedo.

Com um sussurrar de palavras de descontentamento, o desânimo foi só de alguns! E todos desembarcam para voltar a acantonar. O tenente pára-quedista mandou o pessoal para o local de pernoita, ali junto dos taipais do posto, onde cada um descartou a sua manta para dormir no aconchego da barraca, defendido da cacimbada da noite fria. As más notícias vieram pelo ar – o sargento das comunicações do avião falou ao sargento Ribeiro e este transmitiu ao pessoal:

 

 

     - Por muito que nos custe, temos de aceitar que a morte anda por aí!  Desta vez, foi o soldado Ricardo, depois de ferido, acabou por morrer... Paz à sua alma.

 

     Compreensivamente, todos sentiram a tristeza envolver-lhes a alma e, consternados pela perda de mais um camarada de armas, a noite custará mais a passar.

 

     Alvorada tristonha mas tranquila, sem alaridos nem mosquitos, todos manducaram o mata-bicho depois do despertar sereno. Mas o sossego não durou muito. Uma barulheira estranha de vozes em movimento, vinda da mata, pôs os pára-quedistas em guarda. Poucos minutos passados, irromperam pela estrada central da povoação várias centenas de bandidos a gritar “UPA... UPA... UPA” e outras palavras imperceptíveis, armados de catanas e canhangulos em riste para matar.

 

     Sem esperar por ordens, os pára-quedistas tomaram posições de defesa e as rajadas certeiras e bem compassadas foram abatendo os facínoras que avançavam a peito descoberto contra as balas mortíferas. Alguns, cambaleando, iam caindo trespassados; outros continuavam em debandada, mesmo feridos, passando para o outro lado da povoação e embrenhando-se nas matas. Só uns minutos depois, quando se esperava outra investida, como já era habitual, se percebeu que o ataque foi preparado para varrer o que restava de habitantes brancos e bailundos na povoação! As informações que, certamente, partiram de bandidos escondidos na sanzala local não contaram que o pelotão de pára-quedistas voltasse a desembarcar do avião e permanecesse ali mais uma noite! “Limpeza à povoação e reconhecimento da sanzala”, ordenou o tenente Proença, que entrou na sanzala à frente do seu grupo e disparou duas rajadas de aviso, tal era a sua raiva. O tenente Veríssimo, mais habituado a estes ataques, cauteloso para ser eficiente sem colocar o pessoal em situações de risco desnecessário, e mais contido nas decisões, ordenou ao seu pessoal para fazer uma batida nas imediações da povoação da Damba. Quanto aos bandidos mortos, o chefe do povo da sanzala iria providenciar a sua sepultura.

 

 

     - Para provar que as balas de branco matam mesmo, terá de se cortar a cabeça a alguns dos mortos – reclamou o cabo Almeida, fazendo fé na convicção de que eles poderiam nascer por feitiço.

     - Pois, já é tempo dos chefes da UPA entenderem que estão a mandar os seus apaniguados às “molhadas” para ataques que lhes causam autênticas chacinas – atestou o sargento Saldanha.

 

 

 

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo