Damba, 1945-1953.(22)
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
Os tocoístas da Damba.
Em determinado dia do mês de Janeiro de 1950 chegaram à Damba cerca de uma dezena de naturais da área da circunscrição, desde há muito emigrados, e que tinham sido expulsos do então Congo Belga
por pertencerem a um movimento religioso de carácter messiânico e profético, fundado em Leopoldville por Simão Toco, antigo catequista da Missão Baptista situada no vizinho posto do Quibocolo, da
área do concelho do Zombo e que dali tinha sido transferido para outra missão da mesma Igreja instalada naquela cidade e da qual se desligou por ter entrado em conflito com o respectivo superior.
Este movimento deu origem a uma seita de fundo cristão, mas com algumas características que assentavam nas instituições religiosas tradicionais e que passou a ser conhecido por «Seita Tocoista».
Era pois um movimento religioso sincrético do tipo do Quibanguismo também e de outras seitas existentes naquela colónia e em outros territórios do centro e do sul de África.
Como era constituido quase que exclusivamente por Angolanos, os Belgas, que já estavam a braços com a poderosa seita de Simão Quibango e outras, não queriam que esta se implantasse profundamente
no seu território e passasse a estenderse a outras zonas e com adeptos naturais do Congo Belga.
Estes Tocoistas oriundos da Damba não permaneceram ali por muito tempo, tendo sido fixados, com todo o grupo dos expulsos, num colonato criado no Vale do Loge, orientado pela Junta de Exportação
do Café de Angola. Passado algum tempo, muitos deles foram saindo e fixaramse preferentemente em Luanda. Dotados de grande proselitismo e evidenciando notável espírito de entreajuda, em breve o
movimento cresceu, sobretudo em Luanda e outras cidades do litoral e entre a grande massa dos imigrantes provenientes de grupos étnicos do interior e que, desenraizados das suas famílias, viviam
um pouco à toa e sem o apoio das suas instituições tradicionais.
Outra causa da expansão do movimento assentou no erro sucessivamente cometido em relação ao procedimento havido com o Simão Toco. Foilhe fixada residência em mais de uma localidade e em cada uma
delas foi deixando núcleos de adeptos e difusores da seita.
O profeta Simão Gonçalves Toko, à esquerda.
A expulsão do Congo Belga imposta ao Simão Toco e aos seus seguidores consumou-se no posto fronteiriço situado entre Matadi e Noqui . Para receber o grupo ali se deslocou o intendente do
distrito do Zaire, Amadeu de Bettencourt Reys, que mais tarde me relatou as circunstâncias em que tinha decorrido a entrada daquela gente em Angola.