Contactos de Culturas no Congo Português.(43)
CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
CONSIDERAÇÕES FINAIS VI
…” Vamos mencionar apenas algumas (palavras) que já estão registadas nos dicionários”:
CAPIANGO – Muito usado no Brasil e em Angola, significando “ladrão sagaz”. Deriva de um termo quicongo, com o mesmo som e igual significado. No quicongo designa ainda “um poderoso nkixi (feitiço) destinado a descobrir e perseguir ladrões.
GURI – Termo usado correntemente no Brasil, com o significado de “criança”: Em quicongo, muana nguri quer dizer “filho mais pequeno.
XINGAR – Verbo de uso frequente em Angola e no Brasil, com o significado de “insultar, injuriar, ultrajar”. Deriva do verbo “singa” ou “xinga”, com igual significado.
PALA – Usa-se com frequência na metrópole, em calão na acepção de “mentira”. No quicongo existe a palavra “páala”, com significado de “fanfarronada”.
BALELA – Existe em quicongo o termo “bilela”, significando “mentira”. Durante algum tempo supusemos que “bilela” seria uma adaptação da nossa “balela”, dada a identidade de significação, mas quando averiguámos a existência do vocábulo “lela”, que também significa “mentira” e “vã tagarelice”, nasceu a dúvida e admitimos a hipótese contrária, isto é, de que “balela” é que deriva de “bilela”
O regime alimentar, sobretudo no Brasil, recebeu influência africana bem nítida, tanto no que respeita a novos alimentos ou condimentos como à forma de preparação. Algum desses alimentos novos é provável que tenham ido do Congo, quer levados directamente por Portugueses, quer difundidos por escravos dali oriundos. Gilberto Freyre faz referência especial ao azeite de palma, ao jindungo, ao quiabo, ao maior uso da banana, a novas maneiras de preparação da galinha e do peixe e à introdução de certos pratos como a farofa.
Dos elementos da cultura conguesa transplantadas para o Brasil e ali conservados e difundidos pelos escravos, merece especial referência a constituição de confrarias, dirigidas por “reis do Congo” que trajavam à maneira dos Brancos e impunham a disciplina aos seus vassalos. Os seus membros, embora cristãos, mantinham alguns costumes tradicionais e organizavam festas com danças da sua região de origem e onde eram admitidos escravos oriundos de outras regiões africanas. Até no Brasil se fazia sentir a tendência associativa que ainda hoje é característica importante da cultura conguesa.
CHEGADOS ao fim deste despretensioso trabalho, sentimos com maior nitidez que ele não dá uma visão, já não dizemos completa, pois isso seria impossível, mas tão aproximada como seria de desejar, por lhe faltar o necessário complemento da apreciação da sequência do estudo do período de aculturação mais intensa que decorre desde a ocupação efectica do distrito do Congo até aos nossos dias. Só com ele se poderia avaliar bem a profunda influência por nós exercida na alma dos Congueses. Pela análise das alterações que têm sofrido as instituições tradicionais, derivadas da implantação de uma economia monetária, da saída de trabalhadores para outras regiões, da difusão do Cristianismo, da introdução e expansão de novas culturas, nomeadamente do café, da instrução e da educação profissional e, sobretudo, da corrente migratória para o Congo Belga, que põem os nossos indígenas em presença de um sistema de colonização estruturalmente diferente do nosso e em contacto com novas ideias que no nosso território não teriam campo propício para se difundirem, é que poderíamos chegar ao perfeito entendimento dos reais resultados que multissecular contacto das duas culturas em presença produziu…”
F I M
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“ Chegados ao fim” desta série – Contactos de Cultura no Congo Português”-- cumpre-nos agradecer ao seu autor Dr. Manuel Alfredo Morais Martins, ilustre “mindamba” a oportunidade que nos concedeu em a publicar e a todos os leitores que nos acompanharam, com manifesto interesse, ao longo dos 43 capítulos.
Os nossos agradecimentos ao nosso colaborador Artur méndes, pelo trabalho de pesquisa sobre as obras do Dr Manuel Alfredo de Morais Martins.