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24 Jul

Contactos de Culturas no Congo Português.(41)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

 

CONTACTO DE CULTURAS

                                              NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).



Alfredo de Morais Martins.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS – IV



Mas voltemos à apreciação das consequências do contacto das duas culturas em presença.

Se nas instituições socias e religiosas a nossa acção não introduziu importantes alterações, o mesmo não se pode dizer em relação às instituições económicas. Com maior ou menor intensidade, quase todas elas receberam modificações que proporcionaram melhoria de vida á população.

Devemos destacar o que diz respeito à agricultura, não só por as plantas introduzidas terem contribuído consideravelmente para a beneficiação do regime alimentar e terem modificado até a própria paisagem conguesa, como ainda por revelar um dos traços mais característicos da nossa actuação nos trópicos – a nossa como que integração natural no ambiente que nos levava a saber escolher e aproveitar os elementos úteis que encontrávamos nas diversas culturas locais com que entrávamos em contacto e a transplantá-los para distantes regiões para proveito das respectivas populações.

A mandioca, o milho, a batata-doce, o amendoim e tantas outras plantas que introduzimos no Congo aí se adaptaram, ganharam o favor dos indígenas e de lá se difundiram para o interior, alterando profundamente a economia das populações que as receberam.

Mas além destes houve muitos outros elementos culturais novos que nunca mais perderam, apesar do abrandamento do contacto e das várias falhas de continuidade que se verificaram. Ficaram tão radicados em todas as regiões habitadas pelos Congueses que se mantiveram firmes e não foram substituídos nem adulterados, apesar da mudança de soberania.

Na antroponímia e na língua, por exemplo, essa característica está bem patente. Dezenas de vocábulos portugueses entraram no quicongo, adaptados à fonética e á morfologia próprias, e nele se mantêm não só no nosso território como no Congo Belga e Francês. No último quartel do século XIX o português chegou a ser “língua franca” nas relações entre comerciantes estrangeiros estabelecidos nas feitorias das margens do Zaire e as populações indígenas do que francês.

Quanto à influência do português em toda a bacia inferior do Zaire e outras regiões vizinhas, devemos ainda referir que muitos vocábulos nossos passaram, quer directamente quer após a sua adaptação ao falar quicongo, não só para o “petit nègre” , francês falado pelos indígenas e adoptado também pelos colonos europeus, como até para o francês correcto.

Robert Reynard, em relação ao Gabão, cita os seguintes:

PALAVRE: a que atribui o significado de “debate de natureza civil ou criminal, seja entre pessoas pertencentes a aldeias diferentes, e regulado por acordo comum ou por decisão de um chefe indígena ou de uma autoridade europeia”.

O Petit Larousse dá-lhe também o significado de “conferência com um chefe negro” e, na linguagem familiar, de “discurso comprido e conversa demorada”. Deve ser uma adaptação ao francês do termo “palábela”, já indicado em lugar oportuno, que é uma corruptela da nossa “palavra “e que passou a designar, no quicongo, “processo” e “questão”.

FÉTICHE, derivado do nosso “feitiço” e com significado do “nkixi” (feitiço) indígena” e também com o de “ encanto”.

CASE, derivado de casa. Designa, no Gabão, “toda a habitação, quer indígena quer europeia”. No francês culto julgamos que significa apenas “ pequena habitação primitiva”. Tem outras significações mas não relacionadas com habitação.

FACTORERIE, derivado de “feitoria” e com significado que atribuímos a esta palavra.

CAPITA, com significado de “capataz”. Deriva-o de “capitão”. No nosso Congo, além da forma “kapita”, o indígena usa também “kapáta” com a mesma significação. Serão ambas derivadas de “capataz”, ou a primeira de “capitão” e a segunda de “capataz”?

CHICOTE, que tem a grafia exacta e o mesmo significado do nosso “chicote”. Não é termo usado em França, mas apenas nas colónias ou em algumas colónias.

MATABICHE, derivado do português mata-bicho, ou directamente ou através da forma conguesa “matabiisi”, e com o mesmo significado, isto é “gratificação”.

CALABOUSSE, derivado de “calabouço” e com a mesma significação. Muitos outros termos de origem portuguesa devem existir no francês falado nas outras regiões meridionais da A. E. F. e no Baixo Congo Belga, mas não tivemos oportunidade de fazer as necessárias indagações.

Mas além de todos estes elementos, que muito representam, o que maior admiração causa é o prestigio que Portugal e os Portugueses ganharam entre todos os congueses de aquém e de além-fronteiras.

O simples facto da designação “Mputu”, abreviação e corruptela de Portugal e de português, ter passado a designar tudo quanto é europeu ou próprio dos Brancos, isto é, tudo o que é produto da técnica ocidental ou oriundo da Europa, é sobejamente elucidativo. Mas há mais. No Congo Belga o Português tem tanto prestígio que de todos os brancos lá estabelecidos, incluindo os próprios Belgas, ele é o mais respeitado. Mesmo nas frequentes rebeliões indígenas que naquela colónia se têm verificado, e em que tem havido atentados contra pessoas e bens de colonos, os Portugueses têm recebido um tratamento diferente, têm sido quase sempre respeitados.

Continua

 

 

                                                                            Em colaboração com Artur Mendes

 

 


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