Contactos de Culturas no Congo Português.(42)
CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
CONSIDERAÇÕES FINAIS V
Em todos os contactos culturais não é apenas a cultura mais atrasada que sofre influência da cultura superior. Esta também absorve elementos culturais daquela, mas em número reduzido, como é
natural.
Há sempre uma interpretação cultural, mais acentuada quando cultura superior, como no nosso caso, tem características peculiares que lhe dão uma maleabilidade especial e uma facilidade de
adaptação aos diversos meios para onde é transplantada, sem no entanto perder os seus traços basilares. Sem deixarmos de ser portugueses, sem perdermos as características essenciais de
comportamento, que constituem a nossa personalidade modal, adaptámo-nos perfeitamente aos meios estranhos onde nos fixámos, quer seja na África, na América ou na Ásia, difundindo os nossos
padrões e absorvendo muitos elementos das culturas locais, cruzando-nos com os aborígenes, sem preconceitos de superioridade racial. É a este complexo, característico da acção portuguesa no
ultramar, que Gilberto Freire dá a designação de luso-tropicalismo.
A acção das culturas estranhas é mais acentuada, como não podia deixar de ser, nos próprios locais onde o contacto se processa, mas passa também com facilidade para outras regiões, mesmo
distantes, mas características semelhantes e até mesmo para a própria metrópole.
No Congo, durante o período que temos analisado, a influência da cultura local sobre os portugueses nele estabelecidos deve ter sido bem marcante. Se ainda hoje ela é importante, apesar das
condições de vida serem tão diferentes, quanto o não seria naquelas recuadas eras em que no Congo não se notava ainda a presença da mulher portuguesa e em que as comunicações com a metrópole eram
difíceis e demoradas, para não citarmos outras circunstâncias. Na alimentação, na habitação e em tantos outros aspectos, a vida do colono português devia ser altamente influenciada pela cultura
local. Quanto à alimentação, já Cavazzi notava a predilecção dos Portugueses pela “MUAMBA”, apetitoso prato conguês em que tem papel predominante o óleo de palma.
No Congo, hoje mesmo, a cultura portuguesa está inçada de traços da cultura local, sobretudo no que respeita á língua, à culinária e aos processos de amanho da terra em certas culturas. Até há
poucos anos era também importante a influência na habitação, sobretudo no tocante á cobertura, que, normalmente, era de capim.
Mas não foi apenas sobre os portugueses que viviam no Congo ou frequentavam os seus portos ou centros comerciais que a cultura conguesa se fez sentir. Mesmo longe a sua influência se
manifestou.
Não está feito estudo completo sobre o assunto e os elementos que conseguimos recolher são muito incompletos. Tanto na metrópole como no Brasil ela se nota, sobretudo na língua e na culinária,
mas mais acentuadamente no Brasil. Isso não deve causar estranheza, pois há que atender á circunstância de para o Brasil terem ido muitos escravos oriundos do Congo.
Sobre a influência do quicongo na língua portuguesa, julgamos que ainda não foi publicado nenhum estudo especial, e o mesmo se pode dizer quanto a todos os outros aspectos da difusão de elementos
da cultura conguesa na portuguesa. No entanto, de trabalhos
respeitantes á influência africana em geral, podemos extrair alguns elementos que reputamos nitidamente congueses, sobretudo no tocante á língua. Os melhores trabalhos existentes devem-se a
autores brasileiros, mas neles não se encontram, em geral, referências directas ao Congo. Na maior parte das vezes referem-se a Angola, sem especificação de regiões, e ta é somente à África, sem
particularizarem a zona.
Comecemos pela língua. Não nos vamos referir aos vocábulos do falar quicongo que na actualidade são usados correctamente pelos colonos estabelecidos no Congo; atingem muitas dezenas, mas, por o
seu emprego ser meramente local, não poderemos talvez considerar como neologismos introduzidos na língua portuguesa, pois ainda não são de uso corrente fora daquela região. Teria cabimento a sua
notação se este trabalho abrangesse, como desejávamos, o período que decorre desde a ocupação efectiva até á actualidade. Vamos mencionar apenas alguns que já estão registados nos
dicionários.
Continua ( exemplos de palavras)
Em colaboração com Artur Mendes