Contactos de Culturas no Congo Português.(39)
CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
CONSIDERAÇÕES FINAIS (I)
Ao longo dos capítulos procedentes reunimos elementos que conseguimos apurar relativos à influência da cultura portuguesa na dos povos do Congo durante o período considerado. Ao chegarmos a esta
altura do trabalho sentimos bem nitidamente a minguada valia do material recolhido e apresentado.
Ficámos, por certo, bem longe da apresentação exacta, tanto em profundidade como em extensão, das alterações por nossa via introduzidas na cultura conguesa. Dentro do condicionalismo imposto
pelas limitações a que nos referimos no prefácio, apenas reunimos achegas e aventámos algumas hipóteses, sem a estulta pretensão de apreciar o contacto das duas culturas em presença em todas as
suas facetas e muito menos esgotar o assunto. Procurámos acima de tudo dar objectividade ao estudo e abordar apenas os aspectos sobre os quais estávamos suficientemente documentados. Nós próprios
notamos imensas lacunas e muitas mais haverá que nos passaram despercebidas. Algumas delas poderiam ter desaparecido se não tivéssemos lutado com falta de tempo e esbarrado com a impossibilidade
ou a dificuldade de consulta de certos documentos, mas muitas outras só poderiam ser colmatadas após estudos demorados feitos in loco .
Não valerá a pena indicar com precisão todos os aspectos do problema que, a nosso ver, foram, já não dizemos insuficientemente estudados, pois esses constituem a totalidade mas deficientemente
abordados, ou até propositadamente esquecidos. Nestes últimos há um que não queremos deixar de apontar, por o considerarmos de especial importância. É o que se refere à mestiçagem.
Não tivemos oportunidade de reunir elementos suficientes para chegarmos a conclusões dignas de registo sobre a extensão do fenómeno, o status social dos mestiços e o papel por eles desempenhado
na interpenetração das duas culturas. A mestiçagem deve ter começado a dar-se logo nos primeiros tempos do contacto, como aliás aconteceu em todas as regiões com que estabelecemos relações.
Para o Congo, dado o carácter da colonização que ali empreendemos, não iam mulheres portuguesas. É certo que na expedição de Rui de Sousa, no tempo de D. João, primeiro rei cristão (1491) iam
algumas mulheres para ensinarem as da terra a “amassar pam”, como vimos. Mas foi um caso esporádico. Mesmo em Angola, onde a colonização veio a ter características diferentes, o mesmo se dava.
Parece que só na última década do seculo XVI, durante o governo de D. João Furtado de Mendonça, ali chegaram as primeiras mulheres portuguesas, em número de doze. Toas casaram, como era natural
que acontecesse.
Os Portugueses, em geral, não fixavam no Congo e um grande número de mestiços, por certo a maioria, deviam ser produto de ligações de acaso. Todos estes deviam ser absorvidos pela cultura local.
Embora enquadrados na organização social tradicional, deviam no entanto gozar de certo prestígio advindo da cor da pele e da ascendência portuguesa e, por isso, exerciam funções de confiança. Era
entre eles que os reis recrutavam os seus arcabuzeiros. A prova de que estavam integrados na cultura conguesa pode descortinar-se na circunstância de fazerem causa comum com os reis nas lutas que
estes connosco travaram após a dominação holandesa.
Os arcabuzeiros do Rei D. António na batalha de Ambuíla eram mestiços.
Em Luanda, como a colonização assentava na ocupação e conquista, os mestiços mantinham contacto permanente com os seus progenitores e integravam-se nos nossos padrões culturais. Eram verdadeiros
portugueses, dedicando-se de alma e coração à causa nacional.
Outro assunto que não abordámos e que julgamos merecer estudo minucioso é o que se refere ao clero indígena. Existiram no Congo muitos sacerdotes autóctones da região e seria interessante
procurar conhecer a sua acção, o seu grau de assimilação à cultura portuguesa e o prestígio que desfrutariam entre a população indígena e entre os Portugueses.
…………
Apesar das inúmeras imperfeições e falhas que, somadas, dão ao trabalho apresentado um carácter de manifesta insuficiência, dele poderemos no entanto extrair algumas conclusões de carácter geral
que ajudem a compreender a forma de que se revestiu a acção da cultura portuguesa sobre a das gentes do Congo, a reacção da população em face dos elementos culturais novos e o processo de
selecção a que os submeteu, de maneira a aproveitar, depois de prévia adaptação aos seus padrões, aqueles que considerava úteis e não feriam as características basilares da sua cultura e a
repelir os inadaptáveis.
Em mais de um passo abordámos estes assuntos e fastidioso e desnecessário seria repetir as considerações já feitas a propósito das alterações introduzidas em cada uma das instituições que
procurámos estudar.
No entanto, poderemos ir apontando os traços mais marcantes da nossa influência na cultura conguesa…
Continua ( resumos)
Em colaboração com Artur Mendes