Contactos de Culturas no Congo Português.(38)
CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
ANTROPONIMIA – II
Logo nos primeiros anos do contacto, os indígenas do Congo começaram a usar nomes portugueses. O exemplo foi-lhes dado pelos primeiros reis católicos que, com o baptismo, receberam nomes
cristãos, sobretudo os dos reis e fidalgos de Portugal. O costume passou dos reis para os seus súbditos e foi-se difundindo entre as populações conguesas, independentemente da envangelização,
levado pelas caravanas dos pumbeiros e dos bazombo (Pumbeiros ou pombeiros: comerciantes que faziam viagens de negócio à região do Pumbo, actual Stanley-Pool). Esses nomes sofrem alterações
impostas pela adaptação às características fonéticas da língua e estão absolutamente integrados na cultura local. Se é
certo que alguns deles são, por assim dizer, nomes de luxo, usados por ostentação, mas sem fazerem desaparecer os nomes tradicionais impostos quando do nascimento ou depois de certos ritos de
iniciação, outros porém perderam esse carácter e funcionam já como nomes nitidamente congueses. Todos os nomes tradicionais do Congo têm significado e são postos de harmonia com certas
circunstâncias ocorridas antes, durante ou depois do nascimento ou, mais tarde, em face do carácter da criança. Pois alguns nomes portugueses estão já de tal forma enraizados que para eles também
existem explicações tipicamente conguesas. É o caso, entre outros, dos nomes DOMANUELE significa; toma-o, entende-o; se entenderes és sábio. Para NDONDERI a explicação é: Ndonderi é como pássaro
“nsongi-nnzádi; a sua força vem de Deus. Normalmente o nome Domanuele será dado a uma criança tranquila e Ndonderi a uma inquieta.
Muitas vezes os nomes portugueses são antecedidos de NDO (Dom) quer separado quer incorporado no próprio nome, como por exemplo, em NDOMBELE (D. Abel) NDOMBAXE (D. Sebastião), NDOTÓNI (D.
António) NDONGALA (D. Garcia), etc. Noutros tempos o Dom era apenas usado pelos reis, pelos chefes e de territórios e de linhagens importantes, mas esse carácter foi desaparecendo e passou a ser
usado indistintamente por todas as classes. (Já em meados do século XVII o uso de DOM estava generalizado Cavazzi a ele se refere: “ Per quanto selavaggi, rozzi, ignorante, morti, di fame
pretendono sempre i titoli di Don e Donna,e, portanto i bambini al battesimo, ricoperti non d’alatro che d’una foglia verde, richiest del nome súbito rispondono com arrozanza: Don Tale e Donna
Tale”). Nos primeiros tempos da nossa acção no Congo os indígenas da classe dirigente adotavam apelidos de fidalgos portugueses, como Vasconcelos, Pereira, Corte Real, Meneses, Silva, Castro,
Barreto, Vilhena, etc. Como é natural, os nomes masculinos aparecem em maior número do que os femininos. Isso deve-se a várias razões. Dadas as características da sociedade conguesa, o homem
possui maiores condições de recetividade às inovações, funcionando a mulher como elemento conservador ou moderador. Por isso, a mulher foi sempre mais refractária à conversão e daí a existência
de poucos nomes cristãos, femininos, introduzidos por vai do baptismo. Outra razão importante, talvez a de maior peso, assenta na circunstância de só há relativamente poucos anos terem começado a
viver no Congo mulheres portuguesas.
Eis alguns dos nomes portugueses que o quicongo adaptou e adaptou:
MASCULINOS
NZUAU – João / MBELE – Abel / ZOZE e ZUZE – José / FUSU ou FUNSU – Afonso / SIMAU – Simão / SIBATIAU,BATIAU e BAXE – Sebastião / MPÉTELO – Pedro / MPAOLO – Paulo /MANUELE – Manuel / NGALASIA ou
NGALA – Garcia / DANIELE – Daniel / MBOLOZI – Ambrósio /MBELENADU – Bernardo / MINGUIÉDI – Miguel / NGOSITINU – Agostinho / NDÉRI – André/ LUVUALO – Álvaro / DUALO – Eduardo / NTONI – António /
ANDIKI – Henrique / NIKOLAI – Nicolau / MATESO – Mateus / FULASESKU ou FULA – Francisco / LUMINGU – Domingos / DAVIDA – David.
FEMININOS
MADIA – Maria / GLASA – Graça / ZABELA – Isabel / KIDITINA ou DITINA – Cristina / PODINA – Leopoldina / FINEZA – Inês / LOSA – Rosa.
Todos os nomes atrás indicados são se uso antiquíssimo no Congo, datando a sua introdução dos primeiros tempos do contacto. Nos últimos anos muitos outros têm sido adoptados, tanto masculinos
como femininos, devido ao incremento da colonização e à expansão da acção missionária. Actualmente raros são os jovens, sobretudo do sexo masculino, que, além do seu nome tradicional, não possuem
também um nome português e até mesmo um ou dois apelidos, sendo sobretudo usados os dos europeus que conquistaram maior prestígio ou simpatia entre a população indígena. Vão até ao ponto de
usarem os nomes completos. Entre o nosso povo facto semelhante se dá com frequência, conhecendo nós alguns casos em que crianças receberam no baptismo os nomes completos dos padrinhos. As
mulheres também usam às vezes o nome de NDONA, só ou antecedendo um dos acima indicados. DONA ou NDONA também significa senhora e mulher venerável.
Continua (VIDA MATERIAL)
Em colaboração com Artur Mendes