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04 Jul

Contactos de Culturas no Congo Português.(34)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

 

CONTACTO DE CULTURAS

                                              NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).



Alfredo de Morais Martins.

 

NAS INTITUIÇÕES RELIGIOSAS – 3

Mas voltemos à apreciação das consequências do contacto sobre as instituições religiosas
tradicionais dos Congueses.

Para provar o apego dos reis do Congo à tradição cristã, será interessante recordar que, logo que chegou a S. Salvador a notícia da existência no Ambriz de uma missão da Congregação do Espirito Santo, fundada em 1866 por um padre francês, o rei D. Pedro V se apressou a enviar dois dos seus filhos para a respectiva escola.

Na massa da população, os esforços e os sacrifícios das centenas de missionários que no Congo trabalharam, sofreram ou morreram não deixaram vincados traços profundos da fé e da moral cristã.

As concepções religiosas tradicionais, por fazerem parte da própria cultura e estarem intimamente ligadas às instituições económicas, sociais e políticas, constituindo um todo indivisível ou só fraccionável, pacificamente, desde que se operassem transformações em todos os sectores que o compõem, não foram destruídas e substituídas pelas que os missionários pregavam.

Os espíritos dos indígenas não estavam preparados para os receber, porque a sua concepção do universo era muito diferente e também porque as regras da vida que impunham não se harmonizavam com a sua organização familiar e económica. A primeira dificuldade talvez fosse superável se os missionários tivessem baseado a catequização no estudo das concepções tradicionais e consequente aproveitamento daquilo que se pudesse aproximar das verdades da nossa fé. Mas nunca o fizeram e até, pelo contrário, sempre as ignoraram, escarneceram e procuram destruir violentamente as suas manifestações exteriores, dando assim origem a fortes correntes de reacção por parte dos elementos mais conservadores da população. A “ Descrizone” de Cavazzi está recheada de alusões e práticas desta natureza, sobretudo na luta contra a seita secreta do Kipaxi, instituição das mais importantes, como já vimos, dentro da vida espiritual dos Congueses, e que eram seguidas de manifestações directas e encobertas de resistência à nova religião e até atentados contra os missionários ou catequistas.

Por todas estas razões, mais uma vez o dizemos, o Cristianismo não penetrou profundamente na mentalidade das massas indígenas, e da acção missionária ficou apenas a tradição, que facilitou o seu futuro renascimento, umas tantas fórmulas verbais de origem cristã, mas despidas do seu significado real, e alguns símbolos da mesma origem, mas padronizados pela cultura local, constituindo umas e outros simples formas de sincretismo religioso.

Quantos às primeiras, vulgarizou-se entre os Congueses o costume de invocarem nos seus juramentos os nomes de Jesus e Maria juntamente com os de Nzambi. Ainda hoje é frequente ouvir-se, na boca de pagãos, o juramento em que entra a expressão: Dezu, Madia, Nzambi Kambona: Deus (ou Jesus?), Maria e Nzambi me vêem. Se lhes perguntarem o motivo que os leva a empregar aquela fórmula, respondem que já a ouviam pronunciar aos antigos.

Quanto aos símbolos, foram introduzidos na cultura local o crucifixo e a cruz.

Os cruxifixos, de fabrico local, passaram a entrar no material mágico de alguns “ minganga”.
São peças muito curiosas de arte indígena que ainda hoje se encontram em muitos povos. Aqui em Lisboa existe uma valiosíssima colecção desses cruxifixos em poder de um coleccionador particular.

Pequenas cruzes feitas de pedaços de folhas de palmeira são feitiços individuais que se vêem em muitas cubatas e que servem de protecção contra os malefícios dos espíritos errantes que não foram recebidos na aldeia dos bakulu.

Outro feitiço de grande reputação é o denominado “ Kuluzu, Santu ou Ngubu santu”. É uma cruz de madeira que tem por finalidade proteger os caçadores e proporcionar-lhes boas caçadas. Há ainda um outro feitiço que devemos também incluir nas formas de sincretismo: é o Kulunzi dya kimpanzu, visto o vocábulo Kunzi ser uma das corruptelas de “cruz”.

Vejamos outro aspecto da influência portuguesa na cultura do Congo, operada através da missionação.

Entre os nomes por que os indígenas conhecem a cidade de S. salvador, conta-se o de” Kongo dia Ngunga” isto é, “Congo do Sino” e que vem dos tempos da construção da primeira igreja definitiva, ocorrida em 1491. Vamos transcrever um passo de um livro de Monsenhor J. Cuvelier, referente a esta designação, posta designaçr, reasso de umlivro de mor nos parecer que poderá ter certo interesse: “ Le 6 mai 1491 la première pierre de l’église fut posée sur la place de Mbanza Kongo. Travailleurs et bâtisseurs enthousiasmés par les événements des derniers jours (baptismo de D. João, primeiro rei cristão do Congo), chantaient, et l’édifice s’elevait comme un hymne à la gloire de Dieu et de sa Mère. Les cloches du Portugal étaient arrivées. Un soir eles sonnèrent au-dessus de la montagne. Leurs vibrations firent tressaillir les coeurs, celui des missionaires qui s’agenouillèrent l’âme émue, celui des Portugais qui, perdus dans leurs pensées, revirent l’image de la patrie et du lieu natal et de la vieille mère qui leur avait appris à joindre les mains. Les cloches sonnaient et les noirs ravis écoutaient les sons qui se prolongaient en décroissnat jusqu’aux villages voisins. Et Mbanza Kongo fut appelé Kongo
dia Ngunga, Congo de la cloche. Congo de la cloche aux deuex sons. Et bien loin sur les rives du Kwango on parlait aussi de la cloche de Mputu. Et ceux qui émigraient gardaient dans leus divises de clan le souvenir de ces cloches: ” Il avait une grande cloche à Kongo et quand elle s’ ébranlait les petites cloches se mettaient aussi à tinter.”

Actualmente, (1) ” Kongo dia Ngunga” é o título do órgão de propaganda do movimento
nacionalista dos “bakongo” do Congo Belga, que pretendem a reconstituição do antigo reino
do Congo e a sua independência.

 

 

                                                                                       Em colaboração com Artur Mendes

 


 

 

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