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31 May

Contactos de Culturas no Congo Português.(27)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Fragmentos históricos da Damba

 

 

CONTACTO DE CULTURAS

                                              NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).



Alfredo de Morais Martins.

 

 

Contacto –C ( NZILA BAZOMBO)



Mais tarde, após a Conferência de Berlim e a divisão territorial que cindiu o grupo étnico bakongo, passou a fazer-se a ocupação comercial do interior do nosso Congo, nalgumas regiões antecedendo a militar e administrativa, e surgiram estabelecimentos comerciais por toda a parte, nos próprios centros de produção. Os mercados e a actividade comercial dos Congueses diminuíram de importância, em certos aspectos, mas não se extinguiram de todo. Os mercados principais, aqueles que concorriam comerciantes portugueses, desapareceram ou perderam, como era natural, as suas características anteriores, e os secundários, em quase todas as regiões, retomaram a finalidade que lhes era peculiar nos tempos anteriores às relações comerciais com os Europeus. Passaram a servir apenas para compra e venda de géneros de subsistência de consumo local e de produtos das indústrias tradicionais. Noutras
regiões, porém, mantiveram certa importância por razões que variam uma das outras. Àqueles que estavam próximos dos centros europeus em formação, como Léopoldville e Brazzaville, passaram a acorrer grandes quantidades de géneros agrícolas e de criação que os intermediários adquiriam para abastecimento da população citadina. No nosso Congo, em grande parte do concelho do Zombo e no posto sede da Damba, apesar da existência de estabelecimentos comerciais, os mercados mantiveram-se como centros importantes de negócio, mesmo para os artigos de importação vendidos nas lojas. A sua tradição estava tão arraigada que sobreviveram, e este carácter de perdurabilidade, em circunstâncias que deviam contribuir para a sua extinção, define bem os mercados como verdadeira instituição, dando a este termo o seu significado sociológico. Nas áreas administrativas acima citadas, o espirito comercial é a característica dominante dos seus habitantes que se tem mantido, adaptando-se
com facilidade espantosa a todas as evoluções que a economia regional tem sofrido. O que sempre lhes tem interessado é o negócio em si próprio, sejam quais forem as tendências do mercado. Colocados, como já dissemos, numa zona central donde partiam os caminhos das caravanas para S. Salvador e, mais tarde, também para Nóqui e para os portos do litoral, e donde irradiavam também as vias de penetração comercial para o Norte, para o Pumbo, para o Cuango e até para além deste rio, estavam em óptimas condições para servirem de intermediários e aproveitaram-se.

O espirito comercial dos bazombo e o seu papel de elos de ligação nas relações comerciais com as regiões mais afastadas foram bem observados pelo grande missionário padre Barroso, como se deduz do seguinte passo de um dos seus escritos. “ Os géneros coloniaes que afluem a S. salvador são o marfim e a borracha, com algum café vindo do Bembe.

“ Os dois artigos primeiros mencionados, saem da região vizinha do Stanley-Pool e mais ainda da região a E., compreendida entre as bacias do Quango e Cassai, e às vezes de mais longe. Em geral os mexicongos (habitantes da região de S. Salvador) não vão comerciar a estas regiões; os azombo, raça eminentemente traficante, servem-lhe de intermédio.

“ O indígena do Congo em geral, ou compra a borracha aos capos nas grandes quitandas (mercados) do Zombo, ou entrega as suas fazendas aos Zombos para que lh’as vão permutar ao Pumbo (região de Tecula) à Jaka, e outros sertões situados a N. e NE.

“ Os indígenas destas regiões têm pronunciada tendência para o negócio; talvez esta a sua
feição característica”.

Os mercados em todo o Congo, abstraindo da referida evolução derivada das alterações sofridas pelo comércio de exportação, tinham e têm características especiais e dignas de nota, que devem vir das recuadas eras em que a instituição se criou e se têm mantido quase incólumes até aos nossos dias, pelo menos nas áreas onde se radicaram mais firmemente e que são, precisamente, as que melhor conhecemos: Zombo e Damba.

São conhecidos vulgarmente por quitandas, mas o seu nome verdadeiro é nzandu, que também significa “lugar neutro”, “lugar de igualdade”, “ lugar de divertimento”.

A sua criação e o seu funcionamento obedeciam a regras fixadas pelo costume. Nenhum se podia fundar sem prévio acordo dos chefes vizinhos, que, em conjunto com o chefe interessado, escolhiam o local e proclamavam as leis que deviam reger o seu funcionamento.

Essas leis diziam respeito especialmente à liberdade de acesso, à liberdade de comércio, à proibição da entrada a indivíduos armados, ao acatamento dos preços estipulados para certos artigos e a tantos outros pormenores, tudo tendente a dar ao mercado um ambiente de sossego, onde não eram permitidas rixas nem altercações e, mais ainda, a transformá-lo em zona neutra, inviolável, gozando de certo modo um privilégio de extraterritorialidade. Havia penas severas para os que não cumpriam essas leis, desde multas pesadas para os brigões até á condenação à morte para os que nele cometessem acções desonestas ou roubos.

Localizavam-se sempre em sítios elevados, bem arejados e a certa distância da aldeia.

A sua direcção competia ao “chefe do mercado”, que marcava o momento do seu início, vigiava os preços, mantinha a ordem e impunha os castigos aos transgressores.

Além da sua finalidade principal, que era o comércio, os mercados funcionavam também como locais de execução de criminosos, e era neles que se realizavam as cerimónias finais de alguns ritos de iniciação, como os da puberdade, da entrada na seita secreta do Kipaxi e em certos feitiços especiais. Eram, além de tudo isso, como ainda hoje o são, os lugares de reunião predilectos, onde, à sombra tutelar ou nas imediações da figueira-brava (nzanda no falar quicongo) que fora plantada quando da sua criação, confraternizavam milhares de pessoas, ali atraídas não só pelas necessidades do comércio como também pelo natural desejo de convivência. Era nos mercados que se marcavam encontros, que se ouviam e transmitiam as novidades, que se entrava em contacto com as novas mercadorias e com novas ideias. Funcionavam como verdadeiros centros de difusão cultural.

Havia os de duas espécies : uns, centrais, servindo bastantes aldeias e que, pelo bulício, pela multidão que os animava, pela presença de indivíduos vindos de longe e pelo valor das transacções, muito se assemelhavam ás nossas feiras, e outros, mais pequenos, verdadeiramente locais, onde apenas se negociavam víveres e eram quase só frequentados pelas mulheres.

Os sistemas de negócio em vigor nos mercados foram variando com o decorrer dos tempos. A simples permuta primitiva cedo passou a coexistir com o emprego de moeda, representada primeiramente pelas conchas (nzimbu) e depois também missangas de vidro por nós introduzidas, por barrinhas de latão, por espingardas, por cobertores, por medidas certas de tecido e por fim, já no final do século XIX, por dinheiro nosso ou do Estado Independente do Congo. Actualmente todas as transacções são realizadas a dinheiro.

Continua (Mercados da Damba e do Zombo)

 

 

                                                                               Em colaboração com ARTUR MÉNDES

 

 

 


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