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29 May

Contactos de Culturas no Congo Português.(26)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

CONTACTO DE CULTURAS

                                              NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).



Alfredo de Morais Martins.

 

Contacto – B

Os Pombeiros ou Pumbeiros eram portugueses que, internando-se pelos sertões, iam negociar ao Pumbo, região actual do Congo Belga e cujos limites eram, mais ou menos, os seguintes: a oeste o Zaire, a norte o Cassai, aleste o Cuango e a sul uma linha, paralela ao equador, que, passando o actual Stanley -Pool, unia os cursos do Zaire e do Cuango. Mais tarde esse nome generalizou-se e passou a designar-se todos funantes portugueses, brancos ou mestiços.

Um pormenor a destacar desta transcrição é o que alude ao envio de escravos para o interior para negociarem por conta dos seus senhores. Os comerciantes portugueses adoptaram um costume já existente na cultura local. Como já vimos, eram também os escravos que, nos mercados tradicionais, comerciavam em nome dos respectivos donos.

Na época em que foi redigida aquela História do Reino do Congo, final do século XVI, já o móbil principal dos comerciantes portugueses era a compra de escravos. As plantações de açúcar do Brasil exigiam muita mão-de-obra e o Congo era um dos centros abastecedores. Porém, nos primeiros tempos do contacto, limitavam-se a exportar marfim, mabelas, peles e pouco mais.

Os pombeiros e seus agentes não negociavam de povo em povo, mas afluíam a grandes mercados centrais, espalhados por todo o Baixo Congo e localizados sobretudo nos cruzamentos dos grandes caminhos das caravanas, que terminavam em S. Salvador e nos portos do Pinda, na foz do Zaire, e do Luango, a norte de Cabinda. Aí acorriam os comerciantes indígenas com levas de escravos que trocavam por mercadorias. Na posse destas regressavam às suas terras, e aí as permutavam, nos mercados locais, por géneros de que necessitassem ou por escravos.

Os indígenas de algumas regiões especializaram-se no comércio e passaram a ser grandes intermediários entre os comerciantes portugueses e os habitantes das regiões onde aqueles, ou os seus agentes não chegavam. Frequentavam os mercados locais e os que se realizavam noutras regiões, algumas muito distantes. Nos territórios de algumas tribos não lhe era permitido negociar directamente com as populações, mas apenas com os chefes. Estes tinham como que o exclusivo do comércio por grosso e abasteciam os respectivos mercados dos artigos que os portugueses iam introduzindo.

Um grupo étnico que cedo se distinguiu nas lides comerciais foi o bazombo ou bambata, habitantes da região de Mbata e que hoje ocupam grande parte do concelho do Zombo e quase todo o posto sede do concelho da Damba. Foram eles os grandes intermediários do comércio e os maiores difusores de elementos culturais introduzidos pelos Portugueses, numa extensa área que vai de S. Salvador ao rio Cuango, na direcção oeste-este, e da região do Sosso (actual posto de 31 de Janeiro)ou ainda mais para baixo, até ao Zaire, na direcção sul-norte. Na região de Mpangu, que actualmente tem como centro principal a importante povoação de Thysville, no Congo Belga, a influência do bazombo era tanta, as visitas comerciais eram tão frequentes, que a Via Láctea, por apresentar no firmamento a mesma direcção do principal caminho trilhado pelas caravanas daqueles caminhantes infatigáveis, passou a ser conhecida por nzila bazombo, isto é, caminho dos bazombo. Esta designação traz-nos à mente o nome de Estrada-de-Santiago que o nosso povo dá à nebulosa, julgamos que por motivo de certo modo
semelhante, pois indica o caminho de Santiago de Compostela.

A especialização dos bazombo como comerciantes manteve-se pelos séculos fora e é ainda hoje um dos traços mais característicos da sua cultura, dando origem a uma verdadeira instituição. Talvez não estejamos longe da verdade se afirmarmos que esta característica dos bazombo e dambas pode ser tomada como definidora de uma pequena área cultural distinta dentro da zona angolana ocupada pelos Congueses ou bakongo.

Mas voltemos aos mercados. Esta instituição, que supomos ser nitidamente conguesa, pois não se encontra, pelo menos com as mesmas características, em outras populações de Angola e dos Congos Belga e Francês, tem sofrido alterações de pormenor, sobretudo no tocante ás mercadorias negociadas e ao sistema de trocas, mas tem permanecido quase imutável nos seus traços essenciais. Mas mesmo no primeiro aspecto a evolução não tem sido uniforme em toda a zona habitada pelos bakongo. Antes do estabelecimento do contacto tinham uma função quase meramente local de transacções neles efectuadas não iam além dos géneros de subsistência e dos artigos da primeira indústria, vindos algumas vezes de regiões que se haviam especializado na sua confecção. Com a introdução das mercadorias europeias passou a haver mercados centrais, como vimos, onde, a troco de marfim, mabelas, peles e sobretudo escravos, depois do início do tráfico, os indígenas passaram a especializar-se como comerciantes adquiriam sal, adornos, armas, pólvora, aguardente, tecidos e outros artigos que iam depois negociar nos mercados secundários espalhados pelos matos. Este estado de coisas durou até meados do século XIX, altura em que foi extinto o tráfico de escravos, o que, como é
óbvio, teve sensíveis repercussões nos mercados indígenas.

O principal produto que a eles passou a afluir foi o marfim e depois a borracha de raiz de Landolphia, que durante longos anos, foi a mercadoria basilar da exportação. A sua extracção, que era actividade feminina, divulgou-se por toda a parte onde abundavam aqueles rizomas.

Com o decorrer dos anos, o comércio europeu passou a interessar-se por certos produtos da agricultura local, e esta sofreu uma transformação profunda, perdendo o seu carácter de actividade destina apenas à subsistência, meramente autárcica, e passou a ter finalidade comercial. É por esta altura que aumenta o número de feitorias na costa (Ambriz, Musserra, Ambrizete, Mucula, Quinzau, Cabeça de Cobra, etc.) e nas margens do Zaire (Banana, Boma, Noqui, etc., onde começaram a afluir caravanas de indígenas transportando marfim, borracha, alguma goma copal e também géneros agrícolas como o amendoim, o coconote e óleo de palma. Estes últimos ocorriam mais às feitorias ribeirinhas do Zaire.

Todos os produtos indicados passaram a movimentar-se em larga escala nos mercados indígenas do interior.

Continua

 

                                                  Com a colaboração de ARTUR MÉNDES

 

 

 


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