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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Contactos de Culturas no Congo Português.(24)

Publicado por Muana Damba activado 22 Mayo 2012, 02:31am

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

 

 

                                                    CONTACTO DE CULTURAS

                                             NO CONGO PORTUGUES

  ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).


Alfredo de Morais Martins.

 

NAS INSTITUITUIÇÕES ECONÓMICAS

Agricultura 3

Por ordem de importância, devemos mencionar ainda o amendoim, a batata-doce, o feijão, o ananás e diversas árvores de fruto (coqueiro, goiabeira, cajueiro, mamoeiro), como espécies por nós levadas directamente do Brasil para o Congo.

O amendoim deve ter sido introduzido na mesma altura em que o foi a mandioca, isto é, no final do século XVI ou princípios do século XVII. Nem Pigafetta nem a História do Reino do Congo o referem. No tempo de Cavazzi já era cultivado e entrava na alimentação do indígena. Descreve-o assim: “… come arieggia il nostro cece (grão de bico) l’ incuba. I bacecli sono sotterranei, il frutto è più duro del cece e di color bianco, il fore rassomiglia a quello della viola di color giallo. Il seme,coto crudo, é gustoso e di facile digestione”

Na edição da “Descrizione de Cavazzi que possuímos, o nome indígena atribuído ao amendoim é “ Incuba”, mas deve ser gralha tipográfica ou cópia de erro já existente em edições anteriores, porque a verdadeira designação é “NGUBA”, vocábulo nitidamente conguês que também significa rim. Ignoramos qual o nome que os introdutores lhe dariam, mas é provável que fosse aquele por que era designado entre os Índios do Brasil, como sucedeu coma mandioca. No entanto, René Bouvier diz que esse nome seria “Mantiga”, corruptela de manteiga, e abreviação “TIGA”, ainda hoje usada pelos Mandingas. Pode ser verdade, mas não conhecemos, quer em português quer em línguas e dialectos de Angola, nenhuma designação do amendoim que por perto ou de longe se assemelhe à da manteiga. Seja como for, o que é certo é que os indígenas do Congo, ao padronizarem esta inovação, lhe atribuíram um nome da sua língua. Neste caso não foi nenhum outro produto idêntico já existente, como aconteceu com o milho e o feijão. Julgamos que baptizaram o amendoim com o nome de “NGUBA” por a sua semente se assemelhar a um rim.

Como depreendi de Cavazzi, o amendoim nesses tempos era comido cru ou cozido e ainda o não utilizavam como produtor de óleo. Mais tarde passou a ter essa aplicação, não sabemos se por invenção local ou devido a ensinamento dos Europeus. Actualmente o óleo de amendoim é muito mais usado entre os indígenas do Congo do que o de palma.

Com o decorrer dos tempos, o amendoim passou a ocupar no regime alimentar dos Congueses um lugar só superado pela mandioca, sendo o principal fornecedor das gorduras e proteínas.

Além do seu relevante papel na alimentação, este produto veio mais tarde a ser o primeiro género agrícola adquirido pelo comercio europeu para fins de exportação.

Outra importante contribuição para o melhoramento das condições alimentares dos Congueses que o contacto proporcionou foi a introdução da batata-doce. Cavazzi, depois de descrever a planta e o seu tubérculo, diz que “ é una fortuna che sai copiosa perche è cibo cotidiano delle famiglie”

Igualmente valiosa foi a disseminação de diversas variedades de feijão vulgar, que quase expulsaram o feijão “MACUNDE” já cultivado anteriormente.

Todas as culturas atrás mencionadas provocaram uma mutação quase total da dieta dos indígenas, revolucionaram a agricultura e até alteraram a paisagem do Congo. As culturas tradicionais passaram a ser apenas auxiliares, como ainda hoje o são. De todas elas as que conservam certa importância são as do “ WANDA” ou ervilha do Congo (Cajunus cajan), das bananeiras pão e de algumas abóboras. A maior parte dos documentos XIX relativos o Congo, e que descrevem a agricultura dos indígenas, quase só se referem às plantas que a colonização introduziu, mas de uma maneira que dá a entender que os seus autores as julgavam autóctones da região.

Outra cultura nova transplantada para o Congo foi a da cana sacarina. Deve ter sido levada da Madeira e ainda no século XVI, pois a História do Reino do Congo já a menciona.

O ananaseiro, o mamoeiro, o coqueiro e a goiabeira, plantas originárias do Brasil já abundavam no final do século XVII, segundo o testemunho de Cavazzi.

A farinação da mandioca e dos cereais não sofreu alteração, o processo tradicional manteve- se em toda a sua pureza até hoje. Não sabemos se foi tentada pelos colonos portugueses a introdução de moinhos ou azenhas, mas se foi, não colheu sucesso entre os indígenas, pois as suas técnicas rudimentares não estavam aptas para aproveitar este progresso. Devemos atentar na circunstância de que, mesmo nos nossos dias, a roda ainda não entrou na cultura própria do Congo. Nem na olaria, por exemplo, ela é utilizada. Só as crianças a utilizam nos seus brinquedos feitos de pedaços de hastes de palmeira bordão e que representam automóveis e aviões. Cavazzi comenta o atraso verificado na técnica da farinação, nos seguintes termos: “ Parlare a questa gente di mulini europei,di macine,d’ingranaggi, del corso di poca acqua necessária a molire in poco tempo grano per intere popolazione è tempo perso. La credono una fola inventata per ischernirli, e macinano farina, mais legume differenti dai nostri, come li hanno macinati sempre”

Durante largos séculos, o contacto não introduziu alterações importantes na habitação indígena. Só nas últimas décadas se passou a verificar acentuado progresso neste aspecto da economia. Em S. Salvador, só as igrejas, as casas dos Portugueses e o palácio do rei podiam comparar-se com as construções europeias. Diz Cavazzi. Todas as outras casas eram feitas à maneira tradicional, com paus, canas e capim. No tempo de Cavazzi, porém, já existe um pormenor revelador de progresso que deve ser devido à aculturação. Muitas das palhotas já eram barreadas, as suas “debole parete” já eram revestidas “di fango impastato com paglia”. Outra inovação foram janelas, mas a sua existência constituía uma raridade só observável nas casas de alguns chefes, como os das regiões de Bamba e Sogno.

Quanto ao seu recheio, também apenas nas dos chefes o contacto operou alterações. Nestas já existiam esteiras bem trabalhadas a atapetar o pavimento térreo, algumas tapeçarias de seda nas paredes, cadeiras forradas de veludo, cabides para pendurar as armas e alguns trastes domésticos – malas, baús e até armários.

Numa região em que abundavam os paus, o capim, as canas e as lianas, e onde a pedra era rara ou de difícil extracção e transporte, as cubatas tradicionais eram habitação mais adequada, tanto mais que o atraso da cultura não permitia uma revolução na técnica da construção, que implicava a existência de mão-de-obra especializada. Mesmo hoje, em todo o Congo, as casas dos indígenas mais adiantados, se bem que sejam cópia fiel das habitações dos colonos europeus quanto à forma, à divisão interior, à existência de portas e janelas e até, mais raramente, quanto ao uso de chapas de zinco ou alumínio na sua cobertura ainda mantêm muitas características tradicionais, como no pequeno pé-direito e as suas paredes serem construídas com adobes de uma mistura de barro e palha secos ao sol, por serem
material de mais fácil utilização, dada a abundancia dos elementos que os compõem e a simplicidade da sua confecção. É certo que a utilização dos adobes se deve ao contacto, mas na sua confecção entram materiais de uso tradicional.

Mas não é apenas por características do meio físico e no atraso da técnica que devemos filiar a resistência dos Congueses quanto à aceitação de um novo tipo de habitação em que entrassem materiais de construção de carácter definitivo. Devemos ir mais longe e procurar as suas causas na organização da economia e nas instituições sociais e religiosas.

Dada a inexistência de técnicas de refertilização do solo e do sistema de rotação de culturas, as terras cultivadas depressa se esgotavam, o que implicava a necessidade de fazer agricultura itinerante. Daí as frequentes deslocações das aldeias, só possíveis desde que as cubatas sejam construídas de maneira que permita a sua fácil transplantação. E assim sucedia e sucede. As quatro paredes e a cobertura podem facilmente ser transportadas de um lado para o outro sem sofrerem qualquer dano e implantadas no novo local com um mínimo de esforço e de perda de tempo.

Mas não era apenas a agricultura que dava origem à mudança frequente das cubatas: às vezes, um aumento anormal da mortalidade, ou até a queda repetida de raios numa aldeia, levava os seus habitantes a mudar de local. Além disso, surgiam de quando em vez conflitos entre clãs ou ramos de clãs que habitavam numa mesma aldeia e que davam origem a enxameamentos.


Outra razão ainda existe, de grande valia e ligada aos ritos fúnebres. A cubata onde tenha morrido uma pessoa é destruída e os seus restos são queimados após os funerais; além disso, quando morre o chefe de uma povoação há o costume de se abandonar o local primitivo e de reconstrui-la num outro, passando o primeiro a servir de cemitério. De toda esta conjuntura ressalta a conclusão de que tipo de habitação tradicional é o mais conveniente e de que as construções definitivas só ganharão o favor das populações quando a evolução das instituições tiver feito desaparecer as circunstâncias que ainda hoje determinam todas aquelas frequentes mudanças de local de residência.

Continua

 

 

                                                                  Em colaboração com Artur Mendes

 

 


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