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Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
ALIMENTAçÃO (3)
Como a agricultura era insuficiente para fornecer todos os produtos vegetais destinados à alimentação, valiam-se da colheita de produtos espontâneos para poderem sobreviver. Cogumelos, de tubérculos, folhas e frutos comestíveis não faltavam naquela região, em que as condições de solo e de clima davam origem, como ainda hoje, a uma vida vegetal extremamente rica. De todas as plantas espontâneas as mais úteis para o homem eram sem dúvida as palmeiras. Pigafetta cita pelo menos três espécies e Cavazzi aponta e descreve oito, que considera as principais: De todas elas destaca-se a palmeira dendém ( Elaeis giuineesis Jacq.), que era e é uma planta providencial para os indígenas , fornecendo-lhes duas variedades de alimento, óleo para tempero e para untarem o corpo, vinho e ainda matérias para a construção das habitações e para a confecção de cestos e esteiras .
Vejamos o que Pigafetta diz sobre ela: “ Outra árvore de palma ali nasce, idêntica às sobreditas, da qual extrai azeite, vinho, vinagre, fruta pão; o azeite faz-se de polpa de fruto, que é de cor e da substancia da manteiga; e arde; e com ele untam os corpos; e espremem aqueles frutos como o azeite das azeitonas; cozem-no para o conservar. O pão faz-se do caroço do dito fruto (coconote) , que é à semelhança de amêndoa, mas mais duro, dentro da qual está o miolo bom de comer, sadio e de sustentação; e todo este fruto é verde juntamente com a polpa; e se cru e assado. O vinho tira-se do cimo da árvore, fazendo-lhe um furo, do qual estila um licor semelhável ao leite, que nos primeiros dias é doce e depois se torna azedo, e no processo de tempo vinagre que serve para salada, mas bebe-se fresco e move urina, de tal sorte que não se encontram homens que, naquelas terras, sofram de areias nem pedras na bexiga, e embebeda quem beber dele em excesso, e é de grande nutrimento “. Cavazzi também faz a apologia desta palmeira e descreve todas as formas de aproveitamento dos seus produtos. Segundo ele, o seu fruto era a base de alimentação dos pobres: “ Dentro havvi delle frutta poço differenti dalla castagna per colore,forma e gusto: scaldate e fuoco formano il cibo di tutti i poveri, perchè ognuno puo procurarsene dalla floresta”.
Frutos silvestres comestíveis existiam em grande quantidade, mas os mais citados pelos autores de que nos temos socorrido são o “safu e a”cola”. O safu é o fruto de uma árvore de regular
porte cujo nome botânico é “Pachylobus edulus Don” e que actualmente é cultivada pelo indígena. É semelhante a uma ameixa, atingindo 6 centímetros de comprimento e de cor roxa “ Posto Sotto brace
è odoroso, aromático e delicatissimo”, diz Cavazzi. Já temos comido a sua polpa à laia de puré e o gosto é agradável, se bem que semelhante a terebentina.
A “cola “ era e é ainda hoje apreciadíssima por todos os indígenas. É o fruto da “Cola acuminata ( Beauv.)” Schott & Endl. E a ela se refere Pigafetta nos seguintes termos: “ Há árvores
que produzem uns frutos denominados cola; os quais são do tamanho de uma pinha, e têm dentro outros frutos à guisa de castanhas, em que há quatro polpas separadas, de cor roxa encarnada:
trazem-nos na boiça e mascam-nos e comem-nos para mitigar a sede e fazer saborosa a água: conservam o estômago e o ajustam, e sobretudo valem ao fígado. E dizia: (Duarte Lopes) que,
borrifando-se com aquela matéria um fígado de galinha, ou de outra símil ave, que esteja já putrefacto, o torna fresco e quase no primeiro estado; e este alimento é em uso comum de todos e em
cópia grandíssima, e por isso é boa mercadoria”.
Como condimento usavam pelo menos “ substancias como a pimenta das Índias, mais pequenas, mas que são muito picantes” e que colhiam nas matas, como diz a História do Reino do Congo. São os
frutos da “Piper guineense Shumach” ainda muito utilizados, tanto por indígenas como por Europeus. Duarnte a ultima guerra chegou a exportar-se para a Europa para substituir apimenta, que
escasseava no mercasdo. Em quicongo chama-se “Kupire”.
Além dos vegetais, entravam na alimentação dos Congueses produtos de origem animal, quer provenientes de animais domésticos quer bichos bravos, oi ainda peixes. Quando faltava a carne
daqueles animais ou o peixe, o que era corrente, contentavam-se com ratos, lagartos, cobras, e diversos insectos, como gafanhotos e grilos, ou ainda com certas variedades de lagartas “ Di qui il
divorare senza neppure lessarli locust, vermi, sorci, luccertoni, serpi e símile: basta che abbiano passati per il fuoco” diz Cavazzi.
Os animais domésticos existentes eram os bois ( só em algumas regiões ) os porcos, as ovelhas e as cabras.. Também criavam galinhas e patos.
Par aprisionarem ou matarem os animais bravios usavam diversas técnicas, como a abertura de grandes fossos para a captura de elefantes, a colocação de armadilhas com laços e o envenenamento
da carne, que abandonavam para ser comida pelos carnívoros, sobretudo os leopardos. Além do emprego destes métodos indirectos, também caçavam em perseguição ou espera, utilizando flechas e lanças
com ponta de ferro.
Em colaboração de João Garcia e Artur Méndes.